luis campos
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“Terra Vil” é o nome da longa-metragem, do realizador Luís Campos, que vai ser filmada em Castelo de Paiva, Penafiel, Entre-os-Rios, Marco de Canaveses, Vila Nova de Gaia e Gondomar. As filmagens arrancaram no dia 25 de março e o Jornal A VERDADE traz-lhe a entrevista com o realizador.

Luís Campos revela que o guião desta primeira longa-metragem, com a produtora Matiné, começou a ser escrito em 2012. Os filmes que realizou, até então, conjugam “sempre dois aspetos que é o desejo de retratar uma determinada paisagem, um território, uma atmosfera, com o desejo de imaginar uma história de ficção que possa acontecer ou situar-se nesse território”.

A história tem um protagonista de 13 anos, uma criança que vive numa situação delicada

Após escolher o local, visitou “várias vezes a região”, onde descobriu “vários aspetos que foram contribuindo para a história de pessoas que conheci. Também à volta da pesca da lampreia, a questão da associação dos familiares das vítimas de Entre-os-Rios que, entretanto, se tornou numa casa de acolhimento. A história tem um protagonista de 13 anos, uma criança que vive numa situação delicada e que essa possibilidade de entrar na casa de acolhimento está muito presente na história”.

O objetivo, e a forma como a história é contada, “anda muito à volta da questão da sustentabilidade e das alterações climáticas. O meu objetivo é que o filme possa funcionar com público jovem, a partir dos 12 anos, e que consiga transmitir uma mensagem de esperança. É possível mudar e ser melhor, mesmo na lógica da sustentabilidade e de como contornar o problema das alterações climáticas, só que aqui adaptado a esta realidade específica do nosso protagonista e do contexto familiar que tem”.

Foi um momento muito desafiante, porque filmamos com a procissão a decorrer

As Endoenças, uma tradição secular, fazem também parte do filme. “Tivemos uma cena muito decisiva do filme, é como se fosse o clímax da sequência. Filmamos na própria procissão e, no dia seguinte, fomos recriar alguns momentos para a encenação que precisamos. Foi um momento muito desafiante, porque filmamos com a procissão a decorrer, mas muito interessante para aquilo que poderá trazer para a história, porque é uma tradição bonita e muito interessante, com uma participação significativa, um fator de valorização do território muito marcante e que queremos incluí-la no filme”.

As filmagens decorrem até 3 de maio e o processo tem sido “muito bem recebido pela comunidade local. Vamos envolver muitas pessoas, tanto na equipa técnica, como na parte do elenco, várias pessoas da comunidade local, de grupos teatro locais e pessoas que mostraram interesse em participar. Vamos filmar em locais icónicos na região, como, por exemplo, nas Minas de Pejão, no Memorial da ponte Hintze Ribeiro, a festa do Butelo, em Penafiel, a Senhora da Saúde”.

Retrata comunidades que sofreram por causa dessas duas tragédias

O filme conta também com a colaboração de associações e autarquias locais. “Apesar do nome do filme poder induzir em erro, a ideia não é retratar, negativamente, o território. A história vai fazer referência, de forma indireta, a duas tragédias que abateram o território, uma é o fecho das minas da qual uma comunidade considerável dependia economicamente, e a queda da ponte de Entre-os-Rios. Esses aspectos estão como pano de fundo no filme, o filme não é sobre isso, mas retrata comunidades que sofreram por causa dessas duas tragédias”, descreveu.

O jovem ator William Cesnek, Lúcia Moniz e Rúben Gomes são atores principais do filme, que contará também com António Capelo, natural de Castelo de Paiva. “Vamos ter a combinação entre atores profissionais, alguns conhecidos do grande público, e atores não profissionais, muitos deles da comunidade local”, disse.

Temos poucos apoios para poder viabilizar este projeto

Toda a equipa está “muito animada” com o “desafio deste projeto” que conta com o apoio do Instituto do Cinema Audiovisual. “É um apoio reduzido para as necessidades que o filme acarreta. Já temos um acordo com a RTP, onde o filme será exibido, além dos cinemas. Temos poucos apoios para poder viabilizar este projeto mas estamos animados, acreditamos muito na história, acreditamos muito nas pessoas que estão envolvidas, acreditamos muito nesta boa receção da comunidade. Então, acho que estão todos esses aspetos a confluir na direção certa para que seja uma experiência muito positiva para toda a gente que nela participa e para a região”.

Luís Campos espera que este filme possa contribuir para “o pensamento crítico, para uma sociedade mais justa, mais esclarecida. Com este filme, especificamente, queremos que as pessoas possam viajar e queremos permitir que o território viaje também, levá-lo aos festivais internacionais, circular nas principais montras do cinema mundial e, nacionalmente, conseguir fazer com que as pessoas possam ir às salas ver o filme e ter essa relação emocional e afetuosa”.

Esta será também uma forma de atrair pessoas à região que “é incrível, muito bonita, com muitas tradições e muitos saberes específicos. Que seja um projeto que acrescente e que não deixe má memória para as pessoas com que ele se cruzam, que nele se envolvem e que as pessoas vejam com orgulho o filme, a terra e as suas pessoas refletidas no ecrã e que fiquem com vontade de ver mais cinema”.