Com 25 anos, Leandro Queirós era atleta federado em atletismo e representava o Sport Comércio e Salgueiros. Com a extinção da modalidade, continuou a treinar individualmente no Estádio da Maia. Altura em que surgiu a oportunidade de integrar o Maia Atlético, mas as “despesas na viagem” fizeram-no recusar o convite e despedir-se das pistas. “Ia treinar à Maia duas vezes por semana e perguntei se me ajudavam com as despesas das viagens. Disseram que não havia possibilidades, então deixei e joguei futebol federado até aos 38 anos”, recorda o marcoense.
O gosto pelo atletismo foi ‘abraçado’ “sem contar” pelas duas filhas, Mariana, de 14 anos, e Íris de oito. “Surgiu a oportunidade quando a mais velha tinha uns 10 anos, era benjamim. Um dia o senhor Manuel, do Estrelas do Marco, veio falar comigo a perguntar se ela queria correr. Eu disse ‘não sei se ela corre e ele respondeu ‘ela ganhou a prova na escola’. Não sabia de nada e questionei-a sobre isso. Disse que era normal correr e queria entrar no clube. A mais nova começou a ver a irmã a correr e a ganhar provas e disse que também queria”.
As filhas “gostam” e os pais “apoiam” e não só. Leandro Queirós juntou-se às filhas e, anos depois, regressou às pistas de atletismo. “Elas gostam do que fazem, mas quando um dia me disseram ‘não quero correr mais’ vou apoiar“.
Atualmente, as duas irmãs representam o Núcleo Barrosas Amador – NBA, uma escolha que o pai não quis “travar. Aos 15 anos tive propostas para o Boavista (futebol), mas era outro tempo e o meu pai não deixou. Não queria fazer isso com elas, ate porque já andava muita gente atrás delas. A Mariana aceitou sair do Estrelas do Marco porque queria melhores condições e se ia uma, a outra também ia, porque, para mim, era complicado em termos de transporte. Eu acabei por ir com elas por ‘arrasto’ e estamos os três no mesmo clube”, diz orgulhoso.
Questionado sobre o futuro de Mariana e Íris no atletismo, não tem dúvidas de que “o importante não são os resultados, mas sim formar para a vida. É importante haver regras, para que um dia possam ser alguém na vida. No meu caso, é um orgulho estarmos juntos, porque elas gostam e eu vou ajudando com aquilo que sei”.
Quanto ao potencial desportivo, a íris “ainda está numa idade muito prematura” e a Mariana “sim tem potencial. Em 2023 fez os mínimos para ir ao campeonato nacional e ainda é sub-16. Elas têm talento, mas não chega, é preciso trabalhar e ter sorte”.
Quanto não tem provas ao fim de semana, a filha Mariana treina “todos os dias e só descansa ao domingo. Quando tem provas, normalmente, não treina no dia anterior às provas”. Já a pequena Íris, quando não tem provas ao fim-de-semana, “descansa um dia durante a semana e ao domingo. Quando tem provas descansa à quarta ou quinta-feira e no dia anterior às provas. O treinador envia os treinos e as miúdas treinam no Marco de Canaveses (normalmente no estádio) e vão, uma vez por semana, treinar a Barrosas com os restantes atletas da formação”, explica o pai.
Embora de uma forma mais “indireta”, também a esposa “acompanha” o percurso do marido e das filhas no atletismo. Aliás, numa fase “difícil, com o diagnóstico de um cancro dela”, a modalidade foi “uma forma de tirar as miúdas de um ambiente complicado. Acho que foi bom para todos e importante para a saúde física e mental”.
Leandro Queirós deixa o alerta para outro pais, num momento em que “os jovens estão, cada vez mais, no seu cantinho. É importante contrariar essa realidade e tirar os miúdos de casa. No meu tempo, tinham de nos chamar para casa, hoje em dia é o contrário”.
O bombeiro sapador e atleta marcoense alerta, ainda, para “a importância de desenvolver o atletismo. É pena em Marco de Canaveses não haver uma maior aposta. Ter uma pista adequada é essencial, porque a nível físico é prejudicial não termos o piso adequado. Há miúdos com muito talento no Clube de Atletismo Estrelas do Marco e é pena não dar melhores condições a clubes como este”, lamenta.
O campeão regional, nos 400 e 800 metros, prepara-se para voltar às provas já este fim de semana, no campeonato nacional de pista coberta, a decorrer em Pombal. “Agora vão elas atrás de mim. Estamos sempre juntos”, termina o marcoense.
Ler mais:
Atleta marcoense conquistou duas medalhas de ouro em provas de atletismo | A Verdade
Irmãs marcoenses conquistam o pódio no Campeonato Regional de Corta-Mato | A Verdade