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Jorge Ferreira diz ter nascido com “a veia do voluntariado”, recorda que ainda em criança gostava de ajudar e sentia “empatia” por quem vinha de contextos mais desfavorecidos. Nasceu em França, mas é pai de amarantinos, e ainda na adolescência veio viver para a freguesia de Gondar, no concelho de Amarante. Enquanto esteve por terras francesas presenciou o “mundo sem abrigo” e a curiosidade de conhecer esta realidade ficou sempre presente. Começou por ajudar com roupas, mas sentia que queria envolver-se de “forma direta”. Foi assim que em 2013 saiu, com um grupo de colegas, pela primeira vez, à rua.

Uma saída “esporádica” que se transformou numa ajuda constante e, atualmente, num grupo de 19 pessoas. Embora a ajuda tenha sido estendida a outras situações, o foco será sempre “o sem abrigo”.

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Antes de ajudar alguém, o grupo faz uma análise “muito cuidada” para garantir que o caso ou pedido de ajuda “é credível ou não para não deixar que ninguém se aproveita”, para além de serem também “ajudas pontuais. Não criamos hábitos, nem levamos cabazes mensais, por exemplo”.

O ponto de partida para estenderem a ajuda a outras pessoas foi “um senhor que precisava de muita ajuda. Vivia num quarto quase sem condições nenhumas, aquilo foi um desafio muito grande e acabamos por abrir o leque e começamos a ajudar não só o sem abrigo, mas também famílias desfavorecidas, crianças com síndromes…”.

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Ao longo de mais de dez anos, foram várias as histórias de vida que marcaram Jorge Ferreira, mas recorda, com carinho, a Valdemar, uma senhora em situação de sem abrigo que “disfarçava ao máximo que era uma mulher”. O amarantino confessa ter criado uma “ligação muito grande”, mas meses mais tarde “perdeu o rasto e nunca mais soube da Valdemar… isto acontece na rua”, destaca.

Para além deste projeto solidário, o amarantino é pintor na área dos móveis e pai de um rapaz a quem transmitiu estes valores. “Ele faz rua comigo, mas é mais sensível que o pai, não consegue lidar muito bem”. Para Jorge Ferreira, alguém que se “envolva com a rua” precisa de “ganhar estofo. É preciso colocar as emoções de lado, saber geri-las, há alturas em que temos de dizer que não, que temos de virar as costas, não é fácil. Aprendemos e crescemos muito, as pessoas às vezes acham que somos frios, não somos, mas temos de aprender a viver ali. É preciso saber estar ali, levar uma ajuda, mas não deixar aproveitamentos”.

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Como forma de reflexão, Jorge Ferreira lança a seguinte questão: “vocês dão emprego a um sem abrigo? Pode acontecer a qualquer um de nós, não rotulem quem está ali. A sociedade tem por hábito rotular todo o sem abrigo como toxicodependente e que não querem trabalhar, mas vocês dão emprego a um sem abrigo? Tenho um senhor na rua que não consome, não é alcoólatra, procurava emprego e tentei ajudá-l, mas ninguém lhe deu emprego. Cair na rua é muito fácil, sair da rua é muito difícil. Claro que parte deles são toxicodependentes e alcoólatras, mas cada caso é um caso e grande parte não é!”.

Aos 52 anos, Jorge Ferreira sente-se “realizado”, mas ainda sonha em fazer uma missão numa zona de guerra. “É uma realização pessoal, era algo que sonhava e gostava imenso de fazer”, concluiu.

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