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“Homenagear a profissão de costureira é homenagear uma vida de sacrifício de quem se senta oito horas numa máquina de costura para transformar simples tecidos em verdadeiras obras de arte”. Foi assim que Maria Glória Silva iniciou o discurso no dia em que foi homenageada pela Câmara Municipal de Paredes, pelo mérito profissional e pelos anos dedicados à indústria têxtil – um dos setores que mais pessoas emprega no concelho.  

Os nervos estavam ‘à flor da pele’. Aliás, como nos conta, “foi uma noite praticamente sem dormir, porque não estou habituada a estas coisas. Mas é bom vermos que o nosso trabalho é reconhecido, foi muito gratificante”, garante.

Começou a aprender a costurar aos 11 anos, logo após sair da escola, estava no quarto ano. “Fui logo aprender, fui calceira, fazia calças de alfaiate. Aprendi e estive nesse trabalho até aos 15 anos, até cheguei a fazer algumas roupinhas para fora. Depois, apareceu a oportunidade de arranjar emprego numa confeção, em Penafiel e cá estou, na área, há 42 anos“.

Era muito nova, mas na época “era muito normal, tinha de ser”, recorda a costureira de 57 anos. Na verdade, o sonho de Glória Silva era ir para a universidade para conseguir seguir a “paixão: ser professora. Não fui, porque tenho uma irmã mais velha que não gostava muitos dos livros e como ela não foi estudar, eu também não fui”, conta. Perdeu-se uma professora, mas hoje considera-se “professora de outras coisas. Gosto do que faço. Sou encarregada desta confeção há mais de 20 anos e faço muitas amostras. Quando vêm os desenhos, adoro elaborar a peça até ela estar pronta e ver como ela fica. Gosto muito disso”, garante.

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No dia do Feriado Municipal, a Câmara Municipal de Paredes homenageou diversas personalidades do concelho de diferentes categorias. As Medalhas de Ouro foram entregues no dia 16 de julho, na Casa da Cultura. 

E, se Glória Silva não teve oportunidade de seguir o que gostava, já os dois filhos, que trabalham no ramo da engenharia, foram incentivados pela mãe a “seguir os sonhos. Foram sempre muito bons alunos, mas não queriam muito ir para a universidade. Mas como eu, quando era nova, queria e gostava de seguir outra profissão mas não pude, incentivei-os a fazê-lo”, diz orgulhosa.

Quanto ao futuro da área, a costureira de Paredes não tem dúvidas de que será um setor que, no futuro, irá ter escassez de mão de obra. “Hoje em dia, a maior parte dos jovens vai para a universidade, e é bom, mas um dia o nosso emprego vai bem pago, porque não vai haver quem queira trabalhar nesta área”. Uma área em que se sente “feliz a trabalhar” e que não a faz sentir “inferior a ninguém. Foi a minha opção de vida e sinto-me hoje em dia uma doutora da confeção“.

Trabalhar numa confeção “é um bocadinho duro, porque são oito horas sentadas numa máquina a ter de fazer a produção”, mas “todos os trabalhos têm as suas dificuldades. No meu caso, vou trabalhar feliz. Digo muitas vezes às minhas ‘meninas’ que com respeito pelos horários, não há nada como a confeção. Chegamos as 17h00, desliga-se o botão e estamos livres“.