susana penafiel
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Em 1975, a Organização das Nações Unidas instituiu, oficialmente, o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Uma data que pretende homenagear as mulheres de todas as nações e que marca a luta pela igualdade de género.

Susana Oliveira partilha com o Jornal A VERDADE o percurso pessoal e profissional e expõe, na primeira pessoa, a “pressão e o desgaste” vividos no mundo político.

Natural da extinta freguesia da Portela (atual Termas de São Vicente), do concelho de Penafiel, Susana Oliveira tem um irmão mais novo três anos e foi criada no seio de uma família “grande. Tenho nove tios do lado da minha mãe e três do lado do meu pai. No total, somos mais de 30 primos e era maravilhoso quando nos encontrávamos todos em casa dos avós“, recorda.

A avó materna, Luísa Castanha, como era conhecida, partiu em janeiro deste ano – “era a última que ainda estava entre nós” – e deixou uma “grande marca” na vida da entrevistada. “De facto, os avós deixam sempre uma saudade grande nas nossas vidas. Felizes aqueles que têm a oportunidade de conviver de perto com eles”.

A penafidelense confessa que gosta de “estar num cantinho a ler, tranquila”, anda “sempre com um livro atrás. Adoro o cheiro dos livros e adoro ter um lápis à mão para sublinhar o que mais me marca, para reler numa próxima. Tenho pena de não ter mais tempo para fazer isso”. Dos tempos livres fazem parte, ainda, as caminhadas ao ar livre. Mas não esquece, também, que gosta de “aprender e estudar” e não se importava de estar “sempre em formação” e que gostava de “viajar mais vezes”.

As questões fazem-na recuar ao percurso profissional, iniciado após a licenciatura em Ciência da Informação, pela Universidade do Porto. “Mal terminei a licenciatura, fiquei a trabalhar na Faculdade de Letras desta mesma universidade, mudando, mais tarde, para a Faculdade de Engenharia. Em ambos os casos, desempenhei funções de Gestora de Informação”, recorda.

Entretanto, em 2009, foi eleita vereadora da Câmara Municipal de Penafiel, onde se manteve até dezembro de 2022, saindo por opção própria. Foi nessa altura que fez o mestrado em Administração Pública, na Universidade Católica e o mestrado em Governação e Políticas Públicas pela Universidade de Aveiro.

Desde janeiro 2023 que exerce as funções de Consultora/Formadora, acumulando, desde julho do mesmo ano, com o cargo de Investigadora Sénior no INESCTEC.

Uma vida dedicada à comunidade

Com 40 anos, Susana Oliveira partilha “quase toda uma vida” dedicada à comunidade. Começou a colaborar na igreja desde “muito nova”, como elemento do grupo coral, catequista, leitora dominical, membro do grupo de jovens. Foi secretária da Junta de Freguesia da Portela, idealizou e criou a Associação para o Desenvolvimento da Portela, da qual foi presidente da direção até 2013 e é, atualmente, presidente da Assembleia Geral, e da qual tem “um orgulho imenso”.

Neste percurso dedicado aos outros, a consultora recorda o “gosto e a disponibilidade para servir a comunidade”, que se manifestou “desde cedo” e que se assumiu “a primeira condição para que um dia pudesse estar na política. Não foi nada premeditado nem almejado por mim. As coisas simplesmente foram surgindo e creio que se deve ao trabalho que ia desenvolvendo na Portela“.

Como nos diz a entrevistada, estar na política implica “uma grande entrega, um gosto imenso pelo servir o próximo e por fazer a diferença na vida de cada um. Se assim não for, nada faz sentido e os resultados não aparecem”. Mas como é ser mulher nesta área? “Ser mulher e estar na política implica um esforço grande. Antes de mais, uma grande retaguarda familiar e uma compreensão imensa, que sempre tive. Foi o que me ajudou a poder estar mais disponível e dedicada à causa pública que abracei em 2009 com todo o entusiasmo, com 26 anos”.

A pressão e o desgaste são enormes

As exigências de representação institucional, “que ocupam uma grande parte dos fins de semana, reuniões fora do horário normal de trabalho, exigem uma grande coordenação em casa, de maneira que tudo continue a funcionar de igual forma na nossa ausência”, reconhece Susana Oliveira.

Ser mulher, mãe e estar num cargo político, “mais complicado se torna” e o nível de responsabilidade e exigência “aumentam e a pressão é ainda maior”. Gerir a exposição pública com a família é “outro desafio. Nem sempre é fácil os nossos ouvirem comentários menos positivos na rua. É exigido a quem está num cargo político que o seja 24 sobre 24 horas, sem fins de semana ou férias, sem direito a uma ida ao supermercado sossegada e sem interrupções; e sem direito a tempo para a sua família. E não é justo que seja assim. Uma pessoa a exercer um cargo político é uma pessoa como qualquer outra. A pressão e o desgaste são enormes”.

Quais foram as maiores adversidades em ser mulher, mãe e ainda ter uma carreira profissional?

A maior dificuldade em conciliar as diferentes áreas e responsabilidades da vida está na “procura pela perfeição em tudo. Queremos ser as melhores mães, presentes e atentas; queremos ser profissionais de excelência e um exemplo também para os nossos filhos. Queremos ser mulheres lindas, sensuais, com corpos bonitos e tudo isso são exigências atrás de exigências. Não dá“.

Susana Oliveira está convicta de que que é preciso “aceitar que não somos perfeitas, que falhamos e que não vamos conseguir estar e ter sempre tudo na perfeição, porque a vida também não é perfeita“.

A “pressão” pode ser um dos motivos para que “se vejam poucas mulheres na política e é difícil de convencer as poucas que vão participando. Infelizmente, a política está desacreditada. As pessoas vão confiando cada vez menos nos políticos e isso deve-se aos exemplos menos felizes que vamos conhecendo local e nacionalmente. E é uma pena que assim seja, porque de facto torna menos convidativo ainda estar e participar na vida política, que tão importante é para que a nossa qualidade de vida melhore”.

Aprecio cada vez mais ter tempo para mim, para os meus e para o que gosto de fazer. Acho que comecei a dar cada vez mais valor à liberdade.

Ocupar um cargo público ou político é das missões “mais nobres que se pode ter na vida”, diz a penafidelense, que neste dia deixa uma mensagem a todas as mulheres: “Sentir e sabermos que podemos de facto fazer a diferença na vida das pessoas; preocuparmo-nos com os problemas e preocupações (que passam a ser depois também os nossos problemas e as nossas preocupações), e dar o nosso melhor para ajudar é dos melhores trabalhos que podemos ter, desde que exercidos com dignidade e dedicação. Espero que haja sempre pessoas boas a ter vontade de fazer a diferença na vida dos outros e a aceitar o desafio de participar na vida pública e política. Que se escolham os melhores dos melhores, sempre”, termina.