artigo opiniao jose carlos pereira
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Entrámos em 2024 com poucas certezas sobre o que nos reserva o futuro próximo. A nível internacional, o novo ano fica marcado por eleições em dezenas de países. Do Parlamento Europeu aos Estados Unidos da América (EUA), da Rússia à Ucrânia, da Índia ao México, da Bélgica, no coração das instituições europeias, a Portugal. Sem esquecer as eleições em Taiwan, que deram a vitória a um candidato repudiado por Pequim e defensor de uma crescente aproximação ao Ocidente.

A importância de Taiwan no contexto internacional releva do facto de ser um potencial foco de conflito entre a China, que reclama a reunificação com Taiwan, e os EUA, defensores do regime democrático da ilha. Acresce que o facto de Taiwan ser o principal produtor mundial de semicondutores poderia provocar um autêntico bloqueio da economia mundial em caso de disputa militar.

Em termos económicos, o ano transacto terminou melhor do que aquilo que se podia perspectivar no início de 2023. Na realidade, os preços do petróleo e do gás natural baixaram significativamente, a inflação desceu, as bolsas estão em alta e a economia global cresceu na ordem dos 3%. A confiança dos investidores aumentou e a taxa de desemprego na Zona Euro, em Novembro de 2023, fixou-se em 6,5% (6,6% em Portugal).

Poder-se-á dizer que a economia andou, de certo modo, em contraciclo com a realidade geopolítica. À invasão da Ucrânia pela Federação Russa, uma guerra prestes a completar dois anos e que tem motivado um grande esforço financeiro e militar dos países ocidentais no apoio à Ucrânia, acrescentou-se em 2023 um novo foco de guerra entre Israel e o Hamas, que administra a Faixa de Gaza, com repercussões graves nos restantes territórios da Palestina e também no Líbano.

Os ataques de rebeldes Hutis, do Iémen, a navios no Mar Vermelho são uma consequência da escalada militar na região e já motivaram resposta por parte dos EUA e do Reino Unido. A rota do Mar Vermelho é fulcral para a logística e as cadeias de abastecimento globais e não pode ficar refém de investidas terroristas.

Neste quadro internacional difícil, Portugal tem também o seu quinhão de incerteza com a realização de eleições legislativas antecipadas. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu-se pela dissolução da Assembleia da República e pela marcação de novas eleições legislativas (marcadas para o dia 10 de março).

O Governo de António Costa cessa funções, segundo o Banco de Portugal, com um crescimento económico de 2,1% em 2023, um dos mais elevados na Zona Euro. Registe-se também a redução da dívida pública para um valor que deve ficar situado abaixo de 100% do PIB, o crescimento das exportações e do emprego e um novo excedente orçamental.

A marcação de eleições para Março apanhou os partidos de surpresa e fez com que todos tivessem de ajustar rapidamente protagonistas e estratégias, designadamente os que aspiram a liderar o próximo governo de Portugal.

O PS elegeu Pedro Nuno Santos como secretário-geral, numa disputa interna aguerrida com José Luís Carneiro. A eleição de Pedro Nuno Santos deixa claro que o partido terá mais facilidade em voltar a entender-se com os partidos à sua esquerda, em caso de necessidade, muito embora o novo secretário-geral socialista venha dando mostras de querer mitigar o “radicalismo” de que o acusam.

Seja nas questões orçamentais, na relação com o Presidente da República ou nos contactos mantidos com empresários, Pedro Nuno Santos tem vincado uma linha de continuidade com os anteriores governos socialistas, naturalmente com o impulso renovador próprio de quem inicia funções.

Do lado do centro-direita, o PSD trouxe para o seu lado o CDS e o PPM para recriarem a Aliança Democrática (AD). Mais de quarenta anos depois da constituição da AD original, nada é igual. As lideranças, a energia e a novidade que caracterizaram a AD de 1979 não são repetíveis. Luís Montenegro sabe que as próximas legislativas são o tudo ou nada para a sua liderança e a aposta na AD procura galvanizar eleitorado que tem estado afastado do PSD e dos seus parceiros de coligação.

No momento em que escrevo, todos os partidos estão a ultimar as suas listas de candidatos a deputados, um processo sempre delicado e que costuma abrir algumas feridas internas. Seguir-se-ão os programas e a campanha eleitoral, que se deseja esclarecedora.

A vida será mais simples para o PS do que para o PSD. Se ganhar, Pedro Nuno Santos deve poder contar com os partidos à sua esquerda para viabilizar uma solução de Governo, apesar de acreditar que é mais provável o PS vencer as eleições do que a esquerda no seu todo alcançar a maioria absoluta. Se perder, desde que não seja com um resultado catastrófico, que não se vislumbra, ninguém exigirá a sua cabeça.

No caso da AD, Luís Montenegro está obrigado a ganhar. E, sem maioria da AD, passa a ter no meio da sala um elefante chamado Chega. Será capaz de manter o seu “não é não!” ao Chega? Resistirá à pressão
da maioria dos militantes e dirigentes, que certamente defenderá nesse caso um acordo com o Chega para se alcandorar ao poder? No caso de sair derrotado, Montenegro não terá alternativa à demissão e a dar lugar ao líder seguinte.

Artigo de opinião de José Carlos Pereira, Gestor e Consultor