artigo de opiniao jose fleming
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No Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama trazemos-lhe um artigo de José Fleming de Oliveira, médico especialista em Doenças da Mama e Cirurgia Oncológica.

O que é possível fazer para reduzir este risco ? Não existe ainda um maneira segura de evitar o cancro da mama, contudo muitos fatores (e cada vez se descobrem mais ) podem influenciar a mama para desencadear um tumor maligno. Alguns fatores são impossíveis de reduzir como o aumento da idade da mulher ou do homem ou uma historia familiar .

Não há limites de idade a partir da qual não existe a possibilidade de surgir um tumor embora nas mulheres mais idosas na sua grande maioria podem ter menor agressividade e ter melhor prognostico. Nestes grupos etários tem uma abordagem especifica dos tratamentos oncológicos controlando a doença e melhorando a qualidade de vida racionando os tratamentos agressivos.

Embora o cancro da mama tende a ser mais comum em pessoas mais velhas , os dados clínicos sugerem que os casos com pessoas com menos de 50 anos aumentaram em muitas partes do mundo desde a década de 1990 ( Sociedade Portuguesa de Senologia 2023 ).

Os novos rastreios no Plano Oncológico Nacional da Mama vão ser alterados para idades mais jovens , pois nos grupos etários abaixo dos 50 anos entre 1990 e 2019 aumentaram 80 % de novos casos.
Em Portugal no ano 2020 foram diagnosticados 7000 novos casos e cerca de 1800 mulheres morreram desta doença. Estes tumores são muito heterógenos e com agressividades variáveis , isto é , uns crescem mais rapidamente e outros tem uma evolução mais lenta, e por essa razão os tratamentos tem de ser adequados caso a caso para uma verdadeira medicina de precisão.

Temos de estar sensibilizados para um diagnostico precoce e avaliar corretamente e atempadamente qualquer alteração que surja de novo na mama quer seja mulher ou homem. A consulta das doenças da mama é uma verdadeira ansiedade, não só para as mulheres mas também para o médico, pois deve estar bem atento aos pequenos pormenores da mulher que devem ser todos bem valorizados , associados a uma imagem mamaria de boa qualidade , e sobretudo não contribuir para atrasos no diagnostico , pois a arma do diagnóstico precoce é uma das grandes vitórias no tratamento do cancro da mama.

O que sabemos atualmente que poderá contribuir para uma redução do risco?

Estes fatores isolados ou em conjunto , têm um quota parte de influenciarem o desenvolvimento do cancro da mama. A prática de hábitos saudáveis – que também têm influência na qualidade de vida global na redução de outras doenças não só oncológicas , mas cardiovasculares, respiratórias e complicações da obesidade, deve ser amplamente praticada e conhecida. Assim alguns estilos de vida devem ser uma opção para reduzir o risco, segundo estudos científicos credíveis ( American Cancer Society , Europoean Breast Cancer Council):

  • Limitar o uso de bebidas alcoólicas por dia.
  • Uso regular do tabaco causam várias doenças incluindo a mama
  • Manter um peso saudável estável, reduzindo o número de calorias por dia.
  • Atividade física regular, se possível 2 vezes por semana, combatendo a vida sedentária.
  • A amamentação se possível , pode ser um fator na redução do risco.
  • Limitações da hormonoterapia de substituição na menopausa. Devem ser bem avaliados os riscos e benefícios destas terapêuticas, e controlar os efeitos indesejáveis da menopausa com terapias não hormonais. Cerca de 80 % dos tumores da mama são de origem hormonal!
  • A dieta tipo mediterrânea parece ter uma influência na redução do risco ( fruta fresca e vegetais frescos ) .
  • Uso de pilula anticoncecional- cada vez mais surge evidencia que a contraceção hormonal aumenta o risco do cancro da mama , sobretudo antes de uma primeira gravidez e por período igual ou superiores a 10 anos consecutivos, embora com baixo risco , mas existe. A avaliação com o médico assistente é importante para as opções de contraceção e redução de outros tipos de cancro incluindo cancro do endométrio e do ovário.
  • Estar atento a alterações da mama “ de novo “ , nódulos , alterações da morfologia da pele , do mamilo ( erosões , escorrências , retrações) inflamações ou traumatismos importantes.
  • Manter regular observação com o seu médico e exames complementares adequados conforme ao grupo etário e Rastreios regulares LPCC .
    A mamografia não previne o Cancro da Mama, mas contribui seguramente para uma deteção mais precoce, para aumentar a probabilidade de cura.

Outros fatores de risco (como ao anteriores isolados ou em conjunto)

Outros infelizmente não podem ser controlados , mas devem ser valorizados isoladamente ou em conjunto.

  • A menarca precoce ( a primeira menstruação – antes do 11- 12 anos e a menopausa tardia ( aos 55 anos ou após ) ou seja maior numero de anos a menstruar
  • Primeira gravidez após os 35 anos.
  • Mulheres nulíparas ( sem filhos )
  • Alta densidade do tecido mamário
  • Antecedentes de doenças mamários benignos de maior risco de cancro.

Em conclusão – nas consultas da mama deverá ser equacionado em que grupo uma mulher esta inserida , ou seja de baixo risco ,risco intermedio ou alto risco e assim definir a periodicidade de consultas ou realização de exames. Para as mulheres com alto risco com intenso histórico familiar sobretudo do primeiro grau , em que pode existir uma mutação genética , devem ser observadas numa consulta de aconselhamento genético para eventual realização de testes genéticos, contudo representam apenas cerca de 8-10 % do tumores e considerar a mastectomia profilática associada ou não a ovariectomia .

Artigo de José Fleming de Oliveira (Doenças da Mama e Cirurgia Oncológica)

Especialista da Consulta da Mama do Hospital Santa Isabel – Santa Casa de Misericórdia -Marco Canaveses