Diz o ditado ‘mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’, mas Joaquim Ferreira contraria a expressão popular. Um defensor convicto das tradições mais antigas, em especial do concelho de Penafiel, foi, em 2013, o responsável pela criação da Confraria do Presunto e da Cebola do Tâmega e Sousa.
Em entrevista ao Jornal A VERDADE, o fundador da confraria conta que a ideia surgiu “em 2005, com um grupo de amigos na prova de vinhos na Agrival. Éramos muitos para provar o vinho e não chegava a nada. Em 2006 levei um presunto e começou-se a juntar um grupo. No ano seguinte cada um levou uma coisa e, ao fim de cinco anos, éramos 90 amigos do presunto”, recorda. Mais tarde, em 2011, apresentou a ideia de “criar uma confraria do presunto e da cebola” ao então presidente da Câmara Municipal de Penafiel, Alberto Santos.
O projeto começou a ser “seriamente trabalhado” em 2013, com 95 confrades, ano em que se oficializou em escritura pública a constituição desta confraria. “Assumimos a Confraria do Presunto e da Cebola, porque a cebola é a rainha de Penafiel, do S.Bartolomeu. Pegamos no projeto com o, à data, vice-presidente, o Antonino de Sousa e, hoje, já temos certificação a nível nacional e europeu e agora estamos com um projeto para certificar a cebola com selo IGP”, descreve Joaquim Ferreira com felicidade.
Passados dez anos, garante que sente “orgulho” por ter sido o impulsionador, e fundador, da confraria e ser parte integrante desta tradição. “Já temos um museu, uma sala de formação, uma sala de prova e degustação que está aberta ao público por marcações”. Um orgulho que se estende à herança da tradição a dois dos netos. Viriato e Íris Ferreira, de 8 e 12 anos, são irmãos e seguem as pisadas do avô na Confraria do Presunto e da Cebola. “Ele entrou com sete e ela com nove, já fazem parte da família confrádica. Viam-me nos eventos e quiseram começar a participar“. No passado dia 24 de agosto celebrou-se o dia de S. Bartolomeu, em Penafiel, mais uma data em que o neto acompanhou o avô, no desfile pela Feira das Cebolas. “O meu neto vive mesmo a confraria. Tenho muito gosto e orgulho de ter os netos que tenho”.
Esta transmissão das tradições é, para Joaquim Ferreira, “muito importante. Temos de as deixar aos novos, porque não sabemos o futuro que vem aí. No caso dos meus netos, eles percebem a responsabilidade e já sabem dizer que para ser confrade tem de se comer presunto e cebola”. O penafidelense de 68 anos brinca com as palavras, mas leva bem a sério o trabalho da confraria e a “responsabilidade” que assume. “É pena que os jovens de afastem destas coisas. Temos de os preparar e sensibilizar para o futuro que aí vem”.
Quanto aos desafios da Confraria do Presunto e da Cebola do Tâmega e Sousa, a “família confrádica” tem já em vista um projeto futuro “ligado ao fumeiro, o presunto tradicional da nossa região. Já temos um espaço, uma escola que estava fechada., doada pela câmara para 25 anos. Vamos instalar lá a sala do fumeiro”. ja temos o projeto feito, que envolve cerca de 300 mil euros. estamos a ver se conseguimos verbas do PRR para fundos perdidos para começarmos essa obra”, conta Joaquim Ferreira.
