miguelleal 2024.05.16
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Os marcoenses Miguel Leal, como treinador principal, e Flávio Silva, como adjunto, conduziram o Al-Tadhamon SC na subida à Primeira Liga do Kuwait. Os dois técnicos conversaram com o Jornal ‘A Verdade’ e contaram como foi esta aventura naquele país do Golfo Pérsico.

O Al-Tadhamon é um clube com história no Kuwait. Desceu de divisão na época 2022-2023 e refez o projeto para subir esta temporada. Para tal, contratou Miguel Leal, que concretizou o objetivo do clube.

Em 16 jogos, a equipa comandada pelo técnico natural do Marco de Canaveses somou 26 pontos, resultado de seis vitórias, oito empates e duas derrotas.

Miguel Leal conta que esta foi uma “experiência enriquecedora”, embora confesse que “no aspeto profissional” foi necessário ultrapassar várias adversidades.

“Se olharmos em termos de profissionalismo, de cultura e de futebol é uma cultura completamente diferente, menos organizada, menos profissional, mas o nosso contributo foi exatamente a esse nível. Foi tornar aquilo mais profissional, mais organizado e foi aí que se sentiu mais a nossa intervenção. Mas as dificuldades foram grandes. Em Portugal, quando eu tento explicar qualquer filosofia tática em três dias fica assimilada pelos jogadores. No Kuwait são precisas três semanas”, explicou.

“Do ponto de vista pessoal foi muito enriquecedor e muito agradável. Foi mais uma etapa feliz na minha carreira como treinador, porque conseguimos o objetivo, para o qual fomos contratados. Temos de estar satisfeitos com o nosso trabalho e pensar que cumprimos o nosso papel. Não éramos, nem de perto nem de longe, das melhores equipas e conseguimos ficar nos dois primeiros lugares. Foi fruto do nosso trabalho, porque se fosse pela qualidade técnica e individual, do ponto de vista futebolístico, nós tínhamos ficado atrás”, garantiu.

Na Taça Emir, o Al-Tadhamon atingiu as meias-finais da prova, tendo conseguido eliminar, nos quartos-de-final, o bi-campeão Kuwait SC. Miguel Leal admite que esse feito foi aquele que mais mediatismo causou naquele país do Golfo Pérsico.

“Se fizermos o paralelo é imaginarmos o Marco 09 a eliminar o Benfica. A relação é um bocadinho essa, porque a distância entre os dois clubes é mesmo muito grande. Há uma diferença de profissionalismo muito grande, porque o Kuwait já é uma equipa que compete a nível das competições asiáticas e já está num patamar muito diferente”, elucidou.

Miguel Leal e a escolha de Flávio Silva: “Era a voz que me dizia para ter calma”

Miguel Leal explica que a oportunidade de prosseguir carreira no Kuwait surgiu de forma inesperada.

“Estava a negociar uma situação para a Arábia Saudita, o que não aconteceu, e, de repente, quando pensava que até ia ficar sem oportunidades surgiu esta. Foi de um dia para o outro e às vezes é assim mesmo. No mundo do futebol as coisas acontecem minuto a minuto e nós temos de estar preparados para isso”, contou.

Depois de acertado o contrato com o Al-Tadhamon, Miguel Leal decidiu convidar outro marcoense, Flávio Silva, para o acompanhar nesta aventura.

O facto de já ter trabalhado com Flávio Silva anteriormente, nomeadamente aquando da sua passagem pelo Arouca, e sobretudo a experiência acumulada na Arábia Saudita nos últimos três anos, pesaram na decisão.

E Flávio Silva quando recebeu o convite de Miguel Leal nem pensou duas vezes.

“Quando o Miguel Leal me ligou para trabalhar com ele, obviamente que eu nem pensei noutra perspetiva. É um gosto enorme trabalhar com ele. Eu estudei tudo o que ele fez. Na minha fase como treinador, foi um dos principais impulsionadores da minha carreira. A minha primeira experiência como profissional foi com ele, por isso eu devo-lhe muito e, por isso, aceitei trabalhar com ele num contexto muito difícil”, revelou.

Flávio Silva que nos três anos anteriores tinha trabalhado na Arábia Saudita, com funções de treinador e coordenação no Al Wehda e Al Thai, admite que a experiência no Kuwait foi profissionalmente mais exigente.

“Apesar de toda a gente achar que são muito próximas, são duas realidades completamente diferentes. O nível de profissionalismo na Arábia Saudita já está a um nível mais equiparado à Europa, enquanto no Kuwait está numa fase inicial. Conseguimos este objetivo no primeiro ano com a expertise e com a experiência do Miguel Leal em todas as áreas do futebol, o que fez com que conseguíssemos elevar aquele clube a outro patamar”.

Futuro? “Preferencialmente no estrangeiro”

Sobre o futuro, Miguel Leal admite que a carreira deve passar “preferencialmente pelo estrangeiro”. O treinador não descarta a possibilidade de regressar ao Kuwait, mas apenas para um clube de dimensão superior ao Al-Tadhamon.

“Vamos ver o que é que o futuro nos reserva, mas, neste momento, estamos abertos a propostas e a situações novas, de preferência no estrangeiro. Sempre disse isso e estou mais virado para essa área. Estamos a ver o que é que o mercado nos vai trazer e vamos ver se surge alguma oportunidade. Não desgostei do Kuwait, há ali uma margem de trabalho muito grande. Se surgirem outras oportunidades vamos analisar e ponderar muito, especialmente na Primeira Liga. Na Segunda Liga temos de pensar duas vezes, a não ser que seja um projeto para subir”, adiantou.

Em Portugal, Miguel Leal orientou emblemas como o Cova da Piedade, Varzim, Penafiel, Arouca, Boavista e Moreirense, tendo mais de 100 jogos na I Liga.

Apesar da folha de serviço, nas últimas épocas, o técnico, de 59 anos, encontrou as portas fechas em clubes portugueses.

Miguel Leal tem uma explicação: “O que eu digo sempre é que em Portugal não se premeia a qualidade. Nós dizemos, às vezes na brincadeira, que se premeia o QI, mas não é o Quociente de Inteligência. É Quem Indica”, atirou.

Em relação a Flávio Silva, o treinador, de 40 anos, assume a vontade de permanecer integrado na equipa técnica liderada por Miguel Leal.

“Estive este ano com o Miguel Leal e fizemos um bom trabalho. Ambos reconhecemos a dificuldade do trabalho que foi feito. Para já, estou com o Miguel Leal, enquanto ele assim entender. Para onde ele for, e se me quiser levar, assim irei, por isso, neste momento, não tenho nada. Estou a pensar só como adjunto do Miguel Leal, e faço muito gosto de o ser, porque, enquanto treinador, sei que evoluí muito”, confessou.

Voltar a treinar o Marco? “Não posso dizer que dessa água não beberei”

Miguel Leal e Flávio Silva são ambos marcoenses e com a particularidade de já terem estado ao serviço do clube da cidade.

Miguel Leal foi treinador principal do extinto FC Marco, em 2002/2003, então na II Liga. Flávio Silva foi adjunto do Marco 09, na 1.ª Divisão da Associação de Futebol do Porto (AFP), entre 2011 e 2013, e mais tarde, em 2016/2017, coordenador da formação do emblema encarnado.

Mesmo a milhares de quilómetros de distâncias acompanharam a campanha do Marco 09, esta temporada, no Campeonato de Portugal.

“Como marcoense estou feliz, porque o Marco 09 fez uma campanha muito interessante e acima daquilo que eu estava à espera. Esperaria maiores dificuldades, mas a meio da época sei que houve alguns ajustes e os resultados apareceram. A equipa fez um campeonato interessante, ficou perto dos primeiros lugares e fico satisfeito, porque é o clube da nossa terra e desejamos que eles estejam no maior escalão possível”, disse Miguel Leal.

“Fomos sempre acompanhando o Marco 09, através dos relatos na rádio ou pelo Facebook. No meu entender, foi uma campanha positiva e superou as expetativas. Inicialmente, pensei que o Marco ia ter mais dificuldades, mas, com muito orgulho, vejo que conseguiu ficar nesta divisão, que já é muito mais exigente. É um orgulho estarmos no estrangeiro e vermos o clube da nossa terra bem classificado na tabela. Só espero que pare na I Liga”, acrescentou Flávio Silva.

E voltar um dia a treinar o Marco 09? A questão foi colocada a Miguel Leal, que não fechou a porta a essa possibilidade, embora lembre que “é mais difícil treinar no clube da terra do que fora”.

“Na altura que eu treinei o Marco estava na II Liga e uma das razões que me levou a sair foi, exatamente, por esse motivo. Às vezes ser da casa é difícil, porque há coisas que nos ferem e que nos atingem e nós sabemos que não é verdade. Por exemplo, estar no café e ouvir dizer que o presidente é que fez as substituições. Às vezes é difícil conseguirmos gerir isso. Mas e sempre uma porta aberta volta a treinar o Marco. Não posso dizer que desta água não beberei”, concluiu.