ana luisa silva medica paredes
Publicidade

Ana Luísa Silva, de 32 anos, foi a primeira médica formada fora dos Estados Unidos a receber a bolsa de estudo em memória de um médico luso-americano muito respeitado, Edward Leitão. 

“Extremamente feliz e honrada” é assim que se sente Ana Luísa Silva pela oportunidade de integrar uma bolsa dedicada a este médico português “amado e procurado por inúmeros pacientes e pelas suas famílias”

Edward Leitão trabalhou durante muitos anos em Boston e em forma de homenagem colegas e amigos criaram um fundo – Dr. Edward Leitão Memorial Scholarship Fund – com o objetivo de celebrar o legado e apoiar futuros médicos e outros profissionais de saúde dos Estados Unidos, também chamada de Nova Inglaterra.

Enaltecendo a importância de integrar esta bolsa de estudo, a médica de Paredes não esquece a “enorme felicidade” por ver reconhecido um percurso “bastante exigente e moroso. Quando um médico graduado no estrangeiro vem para os Estados Unidos, há uma série de exames e passos que são necessários seguir para exercer a profissão, tornando-se um caminho longo e desafiador. A bolsa de estudo procura ajudar e motivar médicos que estão neste processo”, explica.

Em declarações ao Jornal A VERDADE, Ana Luísa Silva confessa que seguir uma carreira na área da saúde foi algo desejado “desde cedo. A motivação em escolher medicina deveu-se à possibilidade de tratar pessoas e ter um impacto positivo na sua saúde. Além disso, tenho um enorme fascínio pela educação e pelo impacto que esta pode ter nas escolhas e vida das pessoas”.

Esse foi o principal motivo pelo qual escolheu a especialidade de Medicina Geral e Familiar, “uma especialidade de proximidade com o doente com uma enorme componente de educação para a saúde”, sublinha.

Os primeiros passos para o sonho foram dados em 2008, quando ingressou no Mestrado Integrado em Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Universidade do Porto). E é nesta altura que tem a oportunidade de fazer um intercâmbio clínico na República Checa, em Praga. 

Finalizado o curso, escolheu fazer a especialidade de Medicina Geral e Familiar em Lousada, onde trabalhou durante quatro anos. Levou também a sua experiência profissional Felgueiras e Porto até 2021. Em março desse ano, foi viver para os Países Baixos, onde trabalhou numa clínica, também nos cuidados de saúde primários. No final do ano de 2022, uma nova mudança, desta vez para Boston, onde ainda permanece.

A especialidade de Medicina Geral e Familiar e os cuidados de saúde primários têm sido a grande paixão de Ana Luísa Silva, porque, como nos diz, nesta área consegue aliar “duas componentes fascinantes: a parte do diagnóstico e tratamento de doenças, e a educação para a saúde. O que mais me motiva é a possibilidade de capacitar cada pessoa a fazer as suas melhores escolhas, providenciando ferramentas para prevenir ou para gerir a doença e que permitam estilos de vida mais saudáveis”.

A médica de Paredes partilha ainda “o gosto de trabalhar numa área muito abrangente e diversificada, que permite fazer a vigilância e tratamento de problemas de saúde muito distintos, e acompanhar várias faixas etárias e vários elementos da mesma família”.

A experiência profissional de Ana Luísa Silva já atravessou fronteiras, mais precisamente para os Países Baixos. Um contacto com outras realidades que lhe permitiu “o crescimento como médica e como pessoa. São uma referência mundial ao nível dos cuidados de saúde, e os cuidados de saúde primários têm um papel basilar neste sistema. Ter tido a possibilidade de trabalhar numa clínica de Medicina Geral e Familiar foi extremamente enriquecedor, não só pelo contacto e compreensão do funcionamento deste sistema de saúde e pela aprendizagem de novos procedimentos, mas também pela diversidade cultural e social de doentes que tive oportunidade de acompanhar”.

Uma experiência que será também fundamental para o novo desafio. “A experiência internacional ao longo da minha carreira enriqueceu-me a nível pessoal e profissional, e isso poderá ter sido uma mais-valia na candidatura. Trabalhar em novos contextos é bastante desafiante e exige alguma capacidade de adaptação e resiliência. A experiência internacional permite essencialmente alargar os nossos horizontes e a nossa visão como profissionais e pessoas”, garante.

Na experiência, como profissional e doente, nos cuidados de saúde fora do país, reconhece que há um “enorme conforto e segurança” quando se é acompanhado por um profissional de saúde que fala a mesma língua e entende a cultura. Em Boston, existe uma enorme comunidade portuguesa que lhe permitiu conhecer “muitas pessoas de várias áreas profissionais”. No entanto, confessa “não ter encontrado muitos profissionais de saúde fluentes em português, nomeadamente médicos de família”.

Considerando a comunicação “um aspeto essencial nos cuidados de saúde e fulcral na construção da relação médico-doente”, aumentar a representatividade de profissionais que consigam prestar cuidados de saúde “quebrando diversas barreiras, “como a linguística, é um grande desafio, e é sem dúvida uma mais-valia para a saúde e bem-estar desta comunidade”.

Ana Luísa Silva não termina a entrevista sem antes destacar o apoio da família em todo o percurso pessoal e profissional. “Tenho a enorme felicidade de ter uma família que sempre me apoiou incondicionalmente, dando-me a liberdade e condições para fazer as minhas escolhas. Além disso, cresci com exemplos e modelos que me inspiram a dar o melhor de mim e me incutiram valores fundamentais que tenho sempre comigo”.