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João Mota, natural de Marco de Canaveses, tinha 15 anos quando recebeu a notícia de que a sua vida estava em risco. Leucemia foi a palavra que soou no gabinete do médico e que, a partir desse dia, mudou a vida daquele adolescente.

Apesar de nunca lhe terem dito o motivo exato do cancro, João Mota pensa que os hábitos de vida pouco saudáveis, a alimentação “péssima” e o excesso de tabaco e de outras substâncias “igualmente prejudiciais” o possam ter levado a este diagnóstico. “Mesmo que não tenha sido, é a minha teoria”, afirma.

Sendo ou não, a verdade é que esse “susto” levou João Mota a olhar de outra forma para o mundo e para si. Ainda que se considera “pessimista”, tenta diariamente manter um estilo de vida novo.

No dia em que lhe foi diagnosticada leucemia do tipo aguda sentiu “raiva, muita raiva”. Na mão tinha um maço de tabaco, acabado de comprar, e a primeira reação foi “despedaçá-lo”. Hoje recorda esse momento e diz, entre risos, que “não conseguiu porque era muito duro”.

Após a raiva veio “o desespero”, quando o médico lhe referiu “que tem de ir agora para os tratamentos se não pode ser tarde demais”. Palavras estas que provocaram “paranoia” no jovem de 15 anos.  

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No momento, a ideia de que corria risco de vida “não esteve presente”, no entanto, acabou por “ser uma ideia que foi introduzida depois”.

A procura por ajuda surgiu depois de ter detetado uns “nódulos”, que eram acompanhados de dor. “Pensei que fosse por fumar muito. Poderia não ser nada de mais, uma defesa criada que reage a alguma coisa, algo que o meu organismo estivesse a combater”. Chegaram até a considerar que podia ser “uma infeção dentária que estaria a provocar os inchaços”, explica.

Contudo, “o algo” era na verdade um cancro de médio a alto risco. João Mota viveu duas semanas até ter o diagnóstico que traçava os próximos quatro anos da sua vida, dos 15 até aos 19.

Começou os tratamentos. Até hoje recorda que causava-lhe “impressão” ver as personagens doentes nos filmes, porque eram “sempre muito positivas”, enquanto João Mota e os colegam com quem partilhava a sala do Hospital “tinham outro espírito, vivíamos com indignação, nada disto tem justificação”.

O jovem de 23 anos recorda os dias com “amargura”, apesar de a família e os amigos o terem apoiado. A certo momento sentiu que os meus amigos o “deixaram para trás”, hoje sabe “que não é verdade. Eu passava o dia todo sem fazer nada, estava numa cadeira ou numa maca a fazer os tratamentos. Só ao fim de semana é que eu sentia que tinha um bocadinho de amigos, o resto do tempo não os tinha, passava muito tempo sozinho e também me isolava muito”. Estes fatores levaram-no a acreditar que tinha perdido os amigos.

Quando questionado sobre o que é mais difícil. João Mota demora a responder, depois de vários suspiros, não encontra uma resposta… “é a conjuntura de tudo”. Porém, acaba por salientar “a mudança física. O nosso corpo passa por mudanças ‘ridículas’, pouco naturais o que faz com que não nos reconheçamos no espelho”.

Acrescentando que “ganhamos cicatrizes. Lembro-me de uma manhã acordar, olhar-me ao espelho e pensar quem é esta pessoa, eu não conheço”.

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João Mota realizava o último tratamento, no entanto, a jornada seguia-se “difícil. Foi muito difícil voltar à normalidade”. Confessa que teve uma quebra quando um colega seu veio a falecer depois de já ter concluído os tratamentos, partilhando que “eu não deixei que aquilo me abalasse ao ponto de não conseguir fazer a minha vida, mas eu neguei os medicamentos, porque eu pensava que era o próximo, de um momento para o outro sou eu”. Medicamentos estes que o ajudavam a combater infeções, mais uma vez, recorda este momento entre risos e afirma que “rapidamente soube que tinha de os voltar a tomar porque apanhei uma pneumonia desgraçada”.

No final das contas, a doença trouxe “maturidade” a João Mota, porque considera que “estava a viver uma realidade que não é suposto na minha idade”. Reconhecendo que até a esse choque, vivia de “forma passiva e acreditava que nada me podia acontecer e essa é a pior maneira de viver. Eu faço o que me interessa e o resto que eu acho chato não vou fazer”, era a mentalidade do jovem.

Apesar de a doença ainda o assombrar, João Mota deixa para trás os tratamentos intensos, os maços de tabaco diários e a comida de “lixo” e tenta acordar todas as manhãs predisposto “a viver da melhor forma possível”.

Acompanhado pela sua família que teve “um papel muito importante”, João Mota destaca que “é essencial teres uma boa almofada. Superar isto sozinho seria muito difícil, nem imagino passar pelo que passei sozinho, não dá para conceber sequer”, termina.