“Ferraz” é um apelido conhecido por muitos na freguesia de Bem Viver, em Marco de Canaveses, já que durante largos anos Abílio Ferraz foi um ponto de “união” da comunidade e por gostar de receber pessoas em casa durante as festividades.
As celebrações festivas eram as suas alturas preferidas do ano, entre elas, a Páscoa que é comemorada este domingo, dia 9 de abril. A palavra “Páscoa” sempre significou “união, alegria, comida à mesa e família reunida” e, embora os anos tenham passado e Abílio Ferraz ter vindo a falecer, a família manteve os costumes de forma “a perpetuar a memória do pai e da sua época preferida”. Quem o dia é Sofia Ferraz, umas das filhas.
Em conversa com o Jornal A VERDADE, Sofia partilha que nos últimos anos têm se juntado por volta de 30 pessoas na casa anfitriã, a casa do Senhor Ferraz. Em tempos outrora, aquele local transformava-se numa “verdadeira casa cheia”. Para além da família que reúne várias gerações, às celebrações juntavam-se e ainda se juntam amigos, vizinhos e o próprio compasso. “Os elementos que compõem o compasso chegaram a almoçar e lanchar aqui”, conta Sofia Ferraz. Ao mesmo tempo, Fátima Ferraz, outra irmã, acrescenta que “quando o meu pai faleceu, o próprio Padre disse para mantermos as tradições em homenagem a ele”.
Abílio Ferraz sofria de pé diabético e, por isso, viu-se obrigado, pela doença, a amputar uma perna. Assim viveu durante um ano e meio e teve a oportunidade de vivenciar aquela que viria a ser a última ceia, em abril de 2017. No ano seguinte, pouco tempo depois de ter completado 77 anos, o Senhor Ferraz viria a falecer em fevereiro de 2018.
Apesar de “difícil”, toda a família reuniu-se na altura da Páscoa em memória ao pilar da casa. “Homem de família, presente em tudo, pronto para ajudar a comunidade”, são algumas das frases que soam para o descrever. No fundo, consideram ser “um exemplo a seguir”. Sofia Ferraz não tem dúvidas que, apesar das limitações, a última Páscoa do pai foi “feliz”.
Era e é de manhã que começam a percorrer as casas da família Ferraz. “Vamos de casa em casa, a todas as irmãs e a última a ser visitada e onde ficamos a conviver é a casa dos nossos pais”, explica Sofia Ferraz enquanto surgem algumas memórias. De sorriso no rosto, conta que “ele é que passava a cruz pela família toda para a beijar”, recordando-o como alguém “alegre e que gostava muito disto”. Referindo também que “agora temos a memória dele, mas não é a mesma coisa, falta sempre um lugar à mesa, porque ele tinha o papel principal, era a base de tudo”.
Ainda no que toca a “boas recordações”, Sofia Ferraz partilha que em outras alturas, ainda antes da pandemia da Covid-19, o povo da freguesia onde já tinha passado o compasso “juntava-se todo na berma da estrada e quando o compasso chegava aqui, deitavam-se foguetes e era outra festa”, relembra.
Para este ano, tencionam voltar a reunir-se e a interligar várias gerações, desde avós, pais, filhos, netos e bisnetos. Sofia Ferraz afirma que não pode faltar o pão de ló e as cavacas, bem como, as doçarias e pratos típicos portugueses, mas sobretudo a família. “Sem as pessoas não fazemos nada”, garante.
Eulália Ferraz, esposa do Senhor Ferraz, juntava-se à conversa e elencava os familiares que iriam sentar-se à mesa para comer o tradicional cabrito da região e relembrar os bons momentos passados com o “homem da casa”, conhecido por acolher “toda a gente”.