diogo martins
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Se há quatro anos Diogo Martins tentava pôr fim à vida, hoje este jovem tem como principal foco “ser a voz de pessoas que, infelizmente, não a têm por diversos motivos”.

Foi na entrada para o ensino secundário que percebeu que se sentia “atraído por rapazes” e que via as mulheres apenas como amigas. “Não me atraíam nada”, recorda.

Seguiu-se a “não aceitação. Por exemplo, deixei de fazer educação física porque na minha cabeça tinha um problema. Assim deixava de ir aos balneários que era um problema para mim na altura”.

Deixou de o fazer porque ouvia comentários “muito maus, como ‘olha o paneleiro’”, ou porque tinha “outros jeitos e andava sempre com meninas. Tentei sempre ignorar”.

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A homossexualidade é, ainda, um tema tabu na comunidade em geral, e também o foi na família de Diogo quando este abordou o assunto junto dos pais. “Assumi-me aos 19, ou seja, há 10 anos, e a realidade era diferente. Já estava numa altura de desespero, porque sentia que estava a enganar a minha família. Comecei a contar a uma colega, passei para o grupo de amigos e depois contei aos meus pais”.

Foi na família que encontrou o principal entrave. A mãe “aceitou e apoia até hoje”, já o pai “ainda não aceita, mas tenta respeitar. Tive os dois lados, foi um processo complicado”, diz.

Passados 10 anos, o jovem ainda se lembra da conversa que colocou fim ao “desespero. Sabia que ia ser mais fácil para a minha mãe do que para o meu pai, então escolhi um horário em que ele só tinha hora de almoço. Contei que gostava de homens e fui para o meu quarto. Sei que os meus pais discutiram, e depois o meu pai foi para o trabalho”.

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Depois de uma discussão com o pai, nesse mesmo dia, decidiu sair de casa e encontrou na avó o conforto que precisava. “Estive uma semana em casa dela. A minha avó sempre me acolheu e nunca me apontou um único dedo. Recebe o meu namorado e adora-o. É uma mulher que admiro muito”.

Ao longo dos anos a relação com o pai tem sido “difícil” e foi um dos motivos da depressão pela qual passou há quatro anos. “Ao longo dos primeiros seis anos fui tendo expectativas de que o meu pai um dia me iria aceitar. Mas quando comecei a namorar o meu pai tomou a consciência de que eu gostava de homens. Era muito complicado ver o meu irmão levar a namorada a casa no Natal e eu não poder fazer o mesmo, porque o meu pai não aceitava. Foram essas situações como esta que começaram a mexer muito comigo e tive de recorrer a ajuda”.

Diogo Martins esteve cerca de dois anos num processo terapêutico com um psicólogo, um processo que confessa o ter “ajudado muito. Sinto-me muito mais forte e aprendi que muitas vezes temos de fazer o luto de pessoas vivas e que precisei de fazer em relação ao meu pai. Convivo com ele, mas já não tenho expectativas”.

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Hoje, considera-se feliz e prepara-se para casar com o namorado, o José. “Fiz-lhe o pedido em Paris, em frente à Torre Eiffel. Temos consciência  de que vamos receber ‘nãos’ por sermos dois homens, mas estamos preparados para isso. A partir do momento que decidimos fazer o casamento sabíamos que isto ia acontecer. Preferimos ter poucas pessoas, mas aquelas que realmente querem estar”, frisa.

Ao longo destes anos Diogo Martins foi percebendo que o “mais importante é dar liberdade à descoberta e não criar tabus e não nos escondermos numa vida que não é a nossa”.

Pela sua experiência, aponta para as escola a responsabilidade de mudança de mentalidades. “Ouvia comentários nos intervalos e refugiava-me na biblioteca, porque era o único local que me sentia seguro. Os funcionários podiam ser um abrigo para esses jovens e não são”.

A mensagem final dirige-se a outros jovens “que possam estar a passar pelo que eu passei. Pela angústia da não aceitação de nós próprios, devido a uma sociedade que nos faz acreditar que somos diferentes. A esses jovens, digo-lhes, que o mais importante é sermos fiéis a nós próprios e não deixarmos que ninguém impeça de viver a nossa liberdade. Independentemente da nossa orientação sexual, as pessoas que nos amam verdadeiramente estarão sempre do nosso lado. Algumas poderão precisar do seu tempo, e aí precisamos de ter paciência e dar tempo ao tempo. O amor cura, até mesmo o preconceito”.

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Aos pais alerta para que estejam “abertos ao diálogo, procurem informações e se for necessário procurem ajuda. Todos nós estamos expostos ao preconceito. A boa notícia é que podemos procurar conhecimento”.

Pela “valorização” da sua saúde mental, Diogo viu-se obrigado a “cortar relações com muitas pessoas”. Apesar de reconhecer que a sociedade está “a dar passos melhores, há ainda muito para percorrer. Penso que estamos no caminho certo”.