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Esta terça-feira, 26 de março, assinala-se o Dia do Livro Português, uma data criada pela Sociedade Portuguesa de Autores e que tem por objetivo enaltecer a importância do livro e da língua portuguesa em todo o mundo.

Foi precisamente neste dia, em 1487, que se imprimiu o primeiro livro em Portugal – o “Pentateuco” – em hebraico. Mas o primeiro livro escrito em português foi impresso no Porto, dez anos mais tarde.

Para assinalar o dia e perceber a importância do mesmo no contexto do ensino português atual, o Jornal A VERDADE esteve à conversa com Filipa Ferreira, professora há três anos. Atualmente, a lousadense leciona no Colégio São José de Bairros e é professora de Português e de Espanhol, no 3.º ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Este ano letivo, dá aulas de Espanhol do 7.º ao 10.º ano de escolaridade, assim como apoio educativo de Português.

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Ser professora sempre foi um objetivo?

Sim, sempre fui muito determinada no que respeita à escolha da minha profissão, apesar das contrariedades que existem e podem surgir. Tenho uma forte paixão por ensinar.

Quais foram as principais dificuldades que encontrou no ensino do Português no início de carreira?

Além da falta de motivação, a principal dificuldade relaciona-se com o tratamento superficial dado à leitura. Constato que, na globalidade, os alunos apresentam muitas fragilidades em ir além do texto, ou seja, em fazer inferências, refletir e adotar uma postura crítica.

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Atualmente, as crianças/jovens consomem muito o Português do Brasil. Encara isso como um problema na aprendizagem do nosso Português?

O Português do Brasil está em lugar de destaque e protagonismo no panorama digital e o aumento do uso das tecnologias digitais tem proporcionado uma maior interação entre as línguas. Quando há línguas em contacto, é normal que ocorram interferências linguísticas. No entanto, sobretudo na aquisição da linguagem, tais interferências podem causar fragilidades. É difícil contornar esta realidade e, por isso, é uma questão complexa e delicada, mas não diria que é um problema: é um desafio.

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Enquanto cidadã e professora, sente que há um “desinteresse” pela leitura e pela língua portuguesa? Sente que se privilegia outras línguas em detrimento da nossa?

O desestimulo dos alunos para a leitura é um dos maiores desafios que se enfrenta em sala de aula. Efetivamente, existe um desinteresse pela leitura de textos quer literários quer não literários, que integram em grande percentagem o currículo da disciplina de Português. Não creio que tal se deva à desvalorização da língua portuguesa, mas pode prender-se com o facto de os alunos associarem os livros a material de trabalho, com a preferência pelo uso dos dispositivos tecnológicos e/ou com hábitos familiares. No ano passado, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) publicou um estudo sobre hábitos de leitura cujos resultados são otimistas; contudo, é evidente que as nossas crianças e os nossos jovens cada vez leem menos, o que acarreta graves carências.

Tendo em conta as circunstâncias atuais, como se pode motivar? Com métodos mais práticos?

Considero que não só é fundamental desconstruir a ideia de que o aluno é um depositário de conhecimentos, como também é necessário diversificar e enriquecer as estratégias de ensino-aprendizagem. Por exemplo, através da criação de dinâmicas e da incorporação das tecnologias digitais, que, dependendo do modo como são usadas, são promotoras de aprendizagem.