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Hoje é dia Mundial da Doença de Parkinson, uma patologia à qual tenho dedicado a minha carreira de investigação juntamente com a equipa que me acompanha. Hoje deixo aqui uma pequena reflexão sobre a doença e os seus desafios!

A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa com maior incidência a nível mundial, afetando atualmente cerca de 10 milhões de pessoas. É uma doença neurodegenerativa progressiva, afetando pessoas de todas as raças e culturas. A maioria das pessoas que contraem a doença de Parkinson têm mais de 60 anos, mas uma em cada dez tem menos de 50 anos, sendo a sua prevalência um pouco mais acentuada nos homens do que nas mulheres. No senso comum, esta doença é conhecida como a “doença do tremor”, sendo, na verdade, o tremor, um dos sinais clínicos utilizado no diagnóstico desta doença. Além do tremor, a doença de Parkinson é igualmente caracterizada pela manifestação de outros sintomas, nomeadamente rigidez muscular e lentidão de movimento. Na verdade, a grande maioria dos sintomas expressos em pacientes portadores da doença de Parkinson são de sintomatologia motora.

Todo este controlo do movimento é assegurado por células nervosas (as quais designámos de neurónios) existentes no cérebro humano, e que têm a capacidade de passar mensagens entre si e para o resto do corpo, usando para isso substâncias químicas, as quais chamamos de neurotransmissores. No que concerne à doença de Parkinson em si, os neurónios dopaminérgicos são a população neuronal afetada. A perda destes neurónios resulta assim na ausência de produção de um neurotransmissor, a dopamina, que se encontra altamente ligada aos mecanismos de controlo do movimento. Não obstante, para além da afetação do movimento, existem igualmente muitos doentes de Parkinson que apresentam outro tipo de sintomas não relacionados com a articulação da sua componente motora, como é o caso da ansiedade e depressão, clinicamente designados de sintomas não motores. Embora a investigação científica e clínica apontem para uma interação entre fatores genéticos e ambientais, ainda não é claro como, onde e quando se inicia a doença de Parkinson no organismo humano.

No que concerne ao seu tratamento, a doença de Parkinson ainda permanece sem cura, havendo, contudo, toda uma oferta de tratamentos farmacológicos e cirúrgicos que permitem dar qualidade de vida aos doentes após o seu diagnóstico. Além destes tratamentos ditos convencionais, novas abordagens terapêuticas à base de terapia génica, células estaminais e anticorpos encontram-se em desenvolvimento procurando não só dar qualidade de vida aos doentes, mas também intervir na progressão da doença e no seu consequente atraso. Paralelamente a isto, a implementação da telemedicina tem se revelado igualmente como estratégia efetiva na gestão da doença de Parkinson, permitindo fornecer um acompanhamento mais adequado e acessível ao doente. Adicionalmente, a adoção de um modo de vida saudável também tem apresentado um impacto positivo na resposta a esta doença. A prática de exercício tem se revelado uma estratégia positiva, ajudando ou até mesmo reduzindo as debilidades impostas pelos défices motores, melhorando assim, a coordenação.

Assim, apesar de todas estas possibilidades, a escolha do tratamento e do modo de vida a seguir após o diagnóstico desta doença, é sempre baseado numa avaliação clinicamente cuidadosa de forma a ir ao encontro das necessidades de cada indivíduo.

Texto de Fábrio Gabriel Queirós
Neurocientista No i3S – Intituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto e Professor Ajunto Convidado na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto