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“Amor é amor, não interessa se gostamos de mulheres ou de homens”. Foi esta a principal mensagem transmitida por Pedro Jesus, mais conhecido como Pedro do Pianíssimo, de Marco de Canaveses, em entrevista ao Jornal A VERDADE, no âmbito do Dia Internacional da Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.

Desde jovem que se apercebeu que se sentia atraído por homens e isso “nunca foi um entrave”. Contudo, chegou a namorar com mulheres na sua juventude. “Há mulheres que acho muito interessantes, mas rapidamente me apercebi que os homens me chamavam muito mais à atenção”, revelou.

Com 17 anos emigrou para a Suíça, onde conheceu aquele que foi o seu “primeiro e único amor”, o Ulrich. “Ele era polícia e costumava frequentar o local onde eu trabalhava, principalmente para tomar o pequeno almoço”, começou por contar. Já com uma troca de olhar, surgiu uma maior aproximação. “Uma noite, de tempestade, o Uli estava de mota. Decidi emprestar-lhe o meu carro para não se molhar e disse para me devolver no dia seguinte. Nesse dia, ele convidou-me para um passeio de mota e foi aí que nos apercebemos os dois que o interesse era mútuo”, disse.

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Iniciou-se, então, uma história de amor. Contudo, Pedro tinha ainda um receio: a reação da sua mãe. Depois de dias a pensar e noites sem dormir, a hora chegou: “foi no corredor de minha casa. Andava a tremer de um lado para o outro, nervoso. A minha mãe perguntou o que se passava e eu disse-lhe ‘vou trazer alguém a casa, mas não é uma mulher, é um homem’. Ela olhou para mim e de imediato beijou-me e abraçou-me e disse ‘eu já estava há tanto tempo à espera, eu já sabia’. As mães sabem tudo”, contou, emocionado. 

As vindas a Portugal tornaram-se, cada vez, mais frequentes e rapidamente a mãe de Pedro começou a ver Ulrich como um filho. “A minha mãe disse-me ‘não vou ter mais uma nora, porque já tenho quatro, mas vou ter mais um filho’”, recordou.

Para além da mãe, também os seus irmãos receberam o Uli como mais um membro da família. “Ele era um irmão para todos, era o nosso protetor. Acompanhou o nascimento de todos os sobrinhos. Um deles, o Jorge e único rapaz, é nosso afilhado”, revelou.

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Já diz o ditado que “os opostos se atraem” e a história de amor de Pedro e Ulrich é a prova disso. “Eu sou muito extrovertido, o Uli era o contrário. Era muito sério e rígido. Acho que nos completávamos”, frisou. A relação entre os dois foi oficializada através da celebração do casamento, que foi realizada na Suíça e, posteriormente, em Portugal. 

Pedro Jesus acredita que foi “um marco no Marco de Canaveses” no que à mudança de mentalidades diz respeito. “Nas primeiras vezes que o Uli veio comigo ao Marco dizíamos que ele era meu amigo. Passado um tempo, a minha mãe começou a dizer que ele era o meu companheiro. As pessoas com o tempo aceitaram. O Pedro e o Uli faziam parte do Marco”, afirmou.

Em novembro de 2019, Ulrich partiu fisicamente, mas deixou o seu amor no coração de Pedro. “Todos os dias penso nele e tenho muitas saudade. Mas acredito que o nosso amor será eterno”, disse novamente emocionado.

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Esta história de amor foi “uma muleta” para o início de muitas outras. “Eu abri muitas mentalidades, abri uma porta que nunca ninguém teve coragem para abrir aqui no Marco de Canaveses”, destacou. “Estamos aqui sem preconceito nenhum, as pessoas cada vez nos acarinhavam mais pela nossa transparência”, acrescentou.

Pedro é também procurado por jovens que não sabem como abordar o assunto com a família. “Os jovens sofrem com o preconceito que os pais eventualmente possam ter. Mas o mais importante é falar com os pais. Se eles nos aceitarem, não importa que os outros nos olhem de lado. A nossa força sai do nosso núcleo familiar, se eles nos aceitam, os outros vão-nos aceitando”, mencionou.

Apesar do receio, o marcoense considera que “os pais sabem sempre tudo acerca dos filhos, mesmo que aparentemente isso não se transpareça. Tem de se ter coragem para falar e dar o primeiro passo, para se poder viver a felicidade em plenitude. Os pais amam os filhos de qualquer maneira. Falem abertamente e sejam autênticos para poderem ser felizes”, concluiu.

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Ana Magalhães, Anabela Vasconcelos e Patrícia Cunha.