medico jose davide
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“Cada doente que perdi, falhei e levou um bocado de mim”. É desta forma que o médico José Davide se descreve como profissional de saúde. É médico cirurgião há cerca de 40 anos, no Centro Hospitalar e Universitário de Santo António e também professor no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

É também a ele que muitos marcoenses recorrem quando o diagnóstico é “mais complicado e mais difícil”, nomeadamente na área oncológica.

Afirma, em entrevista ao Jornal A VERDADE, que se preparou “para fazer com que os seres humanos ficassem aqui para sempre. Eu não quero que eles morram e, por isso, custa-me muito a perda”. Recorda que decidiu ser médico após a mãe lhe pedir, depois de um diagnóstico de cancro da mama. O médico aponta que, ao longo dos anos, a medicina e a ciência foram-se atualizando e que a natureza desafia os profissionais de saúde com novas doenças. “Nos últimos 20 ou 30 anos, a esperança de vida dos seres humanos tem vindo a aumentar. Por um lado, deve-se ao desenvolvimento científico, fomos ultrapassando algumas coisas que fomos conhecendo, eu não consigo dizer se isso é bom ou se é mau. Sei que a natureza ensinou-me que não é assim, ela foi-me dizendo que vai instalando processos novos de seleção e, com isto, ela vai selecionando os mais aptos e levando mais cedo os menos aptos”, disse.

Ao longo da sua carreira na medicina, José Davide já realizou “mais de 10 mil intervenções cirurgicas”, sendo que 25% destas “foram relacionadas com doença oncológica”. E realça a “evolução” sentida nestes anos. “Evolui muito, por exemplo, o primeiro transplante de fígado em que participei, durou 12 horas e gastou 40 unidades de sangue, o último em que participei durou duas horas e meia e não gastou sangue. O avanço é muito grande, em todas as áreas da ciência”, apontou.

Para o especialista, é possível “ter esperança, no que diz respeito à saúde, a longo prazo. Esta ciência que se dedica aos seres humanos, penso que vai sempre, como todas as outras, desenvolver-se”, sublinhou, acrescentando a importância de se realizarem exames recorrentes, porque há doenças, nomeadamente oncológicas, que são derivadas da genética. “Por exemplo, no cancro da mama, há mutações que, se o doente for portador delas, é pela certa que pode ter uma doença oncológica. Há pessoas mais suscetíveis a ter cancro no futuro. A Angelina Jolie sabia que era portadora de uma mutação, então decidiu remover todo o tecido mamário para prevenir o aparecimento futuro de cancro na mama”, exemplificou.

Médicos de Família são “fundamentais” para realização de rastreios

O médico destacou, também, a importância da participação em programas de rastreio, que existem para diagnosticar, de uma forma precoce, vários tipos de cancro. “A Organização Mundial de Saúde tem ‘guidelines’ sobre a importância destes rastreios e das formas de o fazer. Há outros tipos de cancro em que não há rastreios e que não sabemos porque é que surgem, mas um dia, de certeza, que vamos ser”, disse. No concelho do Marco de Canaveses, segundo o profissional de saúde, “há um aumento de todos os tipos de cancro”, nos últimos anos. “O cancro do estômago é significativo. Ainda hoje não sabemos muito bem porquê, sabemos apenas que a infeção crónica, provocada por uma bactéria, pode contribuir, ao longo dos anos, para a incidência do cancro no estômago”, descreveu. Referindo que também o cancro do pulmão e da próstata têm aumentado no concelho.

Para o médico, “quanto mais vivermos de forma tradicional, premiando o nosso passado, a nossa cultura e os nossos hábitos, é um bom princípio. O outro é aderir a todos os programas de rastreio que os médicos de medicina geral e familiar, nos apresentam. É importante que estes programas de rastreio estejam a ser cumpridos, no âmbito, não só das doenças oncológicas, mas também de outras doenças que são muito significativas para ter uma vida longa e saudável. O médico de medicina geral e familiar, o nosso médico assistente, que é, sem dúvida, um dos profissionais mais exuberantes que temos, porque está próximo, sempre, do doente e ele ajuda-nos a que, mesmo quando não queremos, sejam feitos os programas de rastreio, em relação às doenças mais prevalentes e oncológicas, que é uma mais valia e que faz toda a diferença, basta pensar que um tumor que não deu sintomas e foi diagnosticado é diferente de um tumor que já deu sintomas. Isto faz toda a diferença em algumas doenças”, finalizou.