catarina bebe coracao
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Maio é o “Mês do Coração”, promovido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia. São várias as doenças que afetam, dos oito aos oitenta, este órgão vital e o Jornal A VERDADE traz-lhe a história de Jasmine, uma bebé de Penafiel que foi submetida a uma cirurgia que a fez “nascer de novo”.

O amor entre Catarina Rocha e Fábio Azevedo surgiu em 2014 e serem pais era algo que queriam, mas, primeiro, a jovem tinha de terminar a faculdade e realizar os exames necessários para a Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução. Passada essa fase e com o nascimento do sobrinho mais novo, Catarina Rocha começou a sentir o chamado ‘relógio biológico a dar horas’.

No entanto, as tentativas foram sempre sem sucesso até quase ao fim de um ano. “Já estávamos a demorar muito tempo, mas para os médicos ainda estávamos dentro dos limites, já que o normal é demorar até um ano. Eu andava sempre muito ansiosa. Fazíamos muitos testes e dava sempre negativo”, recorda.

Eis que, curiosamente no Dia da Criança e em pleno confinamento devido à COVID-19, dia 1 de junho de 2020, o positivo chegou. “Comecei a rir! Depois de tantos testes negativos nem estava bem em mim”, lembra, entre risos. O primeiro a saber a novidade foi o namorado, no próprio dia, através da oferta de “uns sapatinhos com a ecografia lá dentro”. Para a família foi também “uma alegria” e houve até choro de felicidade.

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Alguns meses se passaram até ser necessária a realização do habitual rastreio das deficiências. Foi nessa altura que lhe disseram que a circulação do sangue da bebé “voltava para trás em alguns momentos, o que não é normal”. Catarina Rocha ficou “logo alarmada” e saiu do hospital “a chorar”. A partir das 25 semanas, deixou de ser acompanhada em Penafiel para ser seguida no Hospital de São João, no Porto, e, quando realizou a ecografia fetal, explicaram-lhe a situação “em concreto” e que a bebé tinha uma “drenagem anómala total das veias pulmonares”.

Por outras palavras, nesta doença – que, segundo os médicos que seguiram a jovem afirmaram, é rara em Portugal -, as veias pulmonares, os vasos sanguíneos que normalmente transportam sangue oxigenado dos pulmões ao lado esquerdo do coração, estão conectadas ao lado direito do coração. Assim, a aurícula direita, que costuma receber apenas sangue desoxigenado do corpo para ser bombeado para dentro dos pulmões, recebe uma mistura de sangue oxigenado e desoxigenado.

A ansiedade até conseguir engravidar tinha agora sido transformada em preocupação constante e vários medos do que podia vir a acontecer, além do desconhecimento da própria doença. No final da gravidez, “quando falaram que tinha de ser operada”, o casal encontrou uma página de Facebook de pais que partilhavam informações e recuperações de filhos com a mesma doença.

“Foi aí que ficámos com um bocadinho da ideia do que nos esperava. Quando ela nasceu, o Azevedo começou a pesquisar. Até aí, nunca pensei que ia ser tão difícil”, conta ao Jornal A VERDADE, acrescentando que, nessa altura, o cirurgião que operou a menina também reuniu com o casal e pôs tudo em cima da mesa, dando “uma lista infinita de coisas que podiam acontecer”. A garantia era de que “saía da cirurgia com ela, mas o pós-operatório ia depender dela”.

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O parto foi realizado no Hospital de São João e, dias depois, a bebé já estava na mesa de operações. Foi “o pior dia” das suas vidas. O pai foi o último a ver a filha nesse dia: “Estava a sorrir para nós! Fez-nos vir a chorar… com aquela inocência de que mal sabia para o que é que ia”. Eram 8h30. Às 14h30, a cirurgia já tinha acabado, horas antes do previsto, e o cirurgião “veio embora felicíssimo da vida”.

Jasmine saiu de lá com pacemaker, ventilador, drenos e sonda. Foram dias de “muita incerteza porque cada hora era uma vitória”. “A cirurgia que ela fez foi como se tivesse que nascer de novo. Aprendeu sozinha a fazer tudo de novo”, explica.

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Todos os dias, Catarina Rocha e Fábio Azevedo iam até ao Hospital de São João visitar a filha, com todas as condicionantes que a COVID-19 ainda impunha, por isso, apenas podiam estar um de cada vez junto da menina, com máscara e sempre testados. Ao longo dos dias, iam também realizando videochamadas e trocando fotografias com os familiares e amigos.

“Foi bom preparar-nos para o pior porque aconteceu o melhor”, afirma a mãe, sublinhando que “o corpo reagiu bem à operação” e que veio para casa mais cedo que o esperado. “ Foi um milagre”, conclui, lembrando que as enfermeiras também o afirmavam e que, no dia da cirurgia, “tinha muita gente com velas acesas a orar por ela, fazendo uma corrente de luz e de orações”.

Quando veio para casa, “foi uma alegria”, mas, ao mesmo tempo, estavam “com muito medo, por causa do COVID e outras coisas associadas”. Mas tudo correu bem.

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Um ano e três meses depois, Jasmine, um nome de princesa escolhido pela mãe, é uma menina “muito simpática, muito inteligente, que compreende tudo muito rápido, risonha”. “É o orgulho da mãe e do pai, é a nossa guerreira e o nosso milagre”, afirma.

Jasmine continua a ser seguida no hospital e Catarina Rocha é hoje “muito mais ansiosa, tem muito mais receio” e defende que “tem de se viver um dia de cada vez” e que “é preciso ter muita força e muita resiliência”.

“A única coisa que se pode ter é esperança e fé e acreditem em Deus porque milagres existem e ela é a prova deles porque não houve justificação médica possível para o que aconteceu com ela. As enfermeiras disseram que era um milagre! A Medicina ajudou, mas o pós-operatório dela tão rápido foi algo divino e fora do normal”, conclui aconselhando pais que estão a passar por situações semelhantes a terem “esperança” porque “há histórias com finais felizes”.