maria alice funcionaria mais antiga hospital sao joao porto
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Maria Alice Rocha é natural de Paredes de Viadores, no concelho do Marco de Canaveses, e dedicou grande parte da sua vida ao Hospital São João, no Porto, tendo sido a funcionária mais antiga da casa. Aos 70 anos, e no domingo de Páscoa, dia 31 de março, foi “obrigada” a despedir-se do hospital, porque por si não saía desta casa.

A marcoense ficou viúva aos 32 anos, com dois filhos na mão, uma menina de dez anos e um rapaz de apenas seis. No dia 6 de fevereiro de 1974 entrou para o Hospital São João, onde permaneceu até aos 70 anos, tendo completado 50 anos no serviço de neurocirurgia enquanto auxiliar de saúde.

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Para si, o Hospital São João é “uma segunda casa” e nunca teve dúvidas de que “ama” o que faz. Paulo Pereira, diretor do serviço de neurocirurgia, afirma que a D. Alice “é um exemplo de serviço. É uma pessoa icónica que foi passando por muitas gerações, todos nós que estamos aqui quando entramos ela já cá estava, é uma pessoa que associamos a este serviço e é com pena que a vemos sair, mas com a alegria de ver culminar uma carreira de dedicação ao serviço e aos doentes”.

Paula Arez, encarregada e chefe da D. Alice durante alguns anos, partilha que “sempre foi uma ótima colaboradora, ajudou-nos muito e apoiou o hospital inteiro. Esteve sempre disponível para qualquer coisa, é um grande bem haja a Alice, porque não há mais ‘Alices’ no hospital, esta foi única. Só tenho a agradecer pela pessoa que ela é e pelas funções que executou na instituição”.

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Para Soraia Campos, auxiliar de saúde no mesmo hospital, esta festa surpresa é “merecida. Achamos que ela merece, para além de ser uma boa colega, esteve sempre disposta para todos nós, era a primeira a prontificar-se para ficar de serviço se tivessemos algo importante. Merece, de todos nós, isto e muito mais. Abdicou da família, muitas vezes, em prol do hospital”, contou ao Jornal A VERDADE.

Soraia Campos viu sempre na Maria Alice um dom para criar “empatia” com todas as pessoas, incluindo todos os doentes. “A relação com os doentes é muito boa, toda a gente gosta dela, ela conversa muito, é divertida e mete os doentes todos a rir. Na verdade, os doentes só querem conversa com ela, num ambiente hospitalar este fator é uma mais valia. Boa profissional, conseguia chegar a todos os doentes, criar empatia com todos. Conseguia ser sempre feliz e ver sempre o bom lado das coisas, embora a vida dela não tivesse sido fácil, sabemos todos que ela passou muito, mas mesmo assim acalmava-nos em todas as situações”.

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O domingo de Páscoa foi “emotivo” para todo o hospital. “Ficamos todos emocionados, incluindo ela que acabou por chorar, mas foi muito alegre embora, até filmei-a a fazer a última picagem do dedo”.

A colega de trabalho recorda que o leite creme e aletria da D. Alice e garante que é o “melhor. Ela fazia o melhor leite creme para nós e prometeu-me que ensinava e ensinou. Não há ninguém que não goste do leite creme e da aletria da D. Alice“.

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Para terminar, Soraia Campos deixa algumas palavras de carinho à funcionária mais antiga da casa: “gosto muito dela, vou ter muitas saudades, via-a como uma avó para mim e falava com ela muitas vezes. É muito especial”.

Na despedida da Maria Alice Rocha estiveram presentes médicos, enfermeiros e auxiliares, totalizando cerca de 60 pessoas.

Miguel Maciel, natural da freguesia de Penha Longa e Paços de Gaiolo, refere-se à D. Alice como alguém “a segunda mãe. Trabalho com ela há 20 anos e foi ótimo. Trabalhar com ela era a coisa mais fácil, agora conviver sem ela é que vai ser difícil. Custa muito, porque não vamos ter outra Alice. A Alice vai ficar para a história”.

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