3.º ciclo da Escola E.B. 2,3 de Sande
Não me falem de Natal.
Nunca passei o Natal com o meu pai.
Nunca passei o Natal com a minha mãe.
Nunca passei o Natal, nem com o meu pai, nem com a minha mãe.
Comida era o que o Michael, o Nicolau, o Ernesto, o António, o Augusto mais desejavam. Olhando para eles percebia-se que tinham entre 14 e 18 anos. Há um ano que mal comiam, porque andavam a juntar dinheiro para ter um Natal como nunca tinham tido.
Queriam passar o Natal num hotel, numa montanha canadiana, um Natal só de amigos. Só de amigos porque, agora, a verdadeira família eram os amigos. A tranquilidade, a paz, o respeito e a felicidade que o Natal traz só podia acontecer entre eles. As famílias destes jovens estavam há muito tempo doentes. Só uma família doente não cuida, só uma família doente abandona. Então, para sobreviverem, tinham de se afastar, tinham de criar uma nova família.
Será isto um sonho? Provavelmente sim, mas o que é a vida sem um sonho? Este é um sonho de Natal impossível. Este é um sonho de um Natal possível. Olhando para aqueles jovens percebia-se que, apesar de, aparentemente, não terem nada nem ninguém, tinham- se uns aos outros. Na verdade, talvez não precisassem de uma viagem ao Canadá para viver o melhor Natal de sempre, talvez não precisassem de comida, talvez a melhor das prendas que ainda não podiam abrir fosse a liberdade.
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