pedro silva enfermeiro penafiel
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Esta sexta-feira, dia 12 de maio, celebra-se o Dia Internacional do Enfermeiro e o Jornal A VERDADE traz-lhe o testemunho de Pedro Silva, natural de Penafiel, que há 15 anos escolheu sair de Portugal para ser enfermeiro.

Ainda durante a faculdade, Pedro Silva começou a pensar em viver uma experiência além-fronteiras e assim que terminou o curso rumou a Dublin, Irlanda. “Não para sempre, a ideia era ter uma experiência fora e depois voltar. Seis meses depois de terminar lá fui”, recorda. 

Em 2008, e por coincidência, houve a “feliz coincidência de outros colegas do curso terem ido para a mesma cidade, na mesma altura, o que facilitou o processo. Parecia que estávamos de férias, mas tínhamos de ir trabalhando para pagar a casa. Os primeiros anos foram muito mais fáceis por isso e fomos ficando”, conta.

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E, se o plano inicial seria “ter a experiência e voltar”, anos mais tarde, vários aspetos, fizeram-no permanecer fora de Portugal. “Primeiro estivemos em Dublin, durante cerca de um ano e meio, onde estavam as ofertas de trabalho. Ao fim de algum tempo, por causa da crise, não havia muita oferta de trabalho lá, não havia muita mobilidade, e nós jovens no início de carreira queríamos era experimentar trabalhos novos, fazer coisas novas, perceber o que gostávamos, não queríamos ficar presos ao mesmo trabalho muito tempo. Aí mudamos para Londres, em 2009, onde havia mais diversidade de trabalho”.

Ao fim de cerca de quatro anos, ponderou regressar a Portugal, mas dos amigos que por aqui estavam percebia a realidade do trabalho. “Sabíamos que iam ser passos grandes na direção errada, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista profissional. Foi isso que nos foi fazendo adiar o dia do regresso: a falta de vontade de dar esse passo atrás”, revela Pedro Silva.

Os anos foram passando e as mudanças acontecendo. Conheceu a companheira e tem uma filha de 10 meses. “Ela é espanhola e como Londres é um território neutro, para já, vamos ficar por aqui”. Motivos que fazem com seja “mais difícil voltar, como enfermeiro pelo menos”.

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Ser enfermeiro foi uma herança que herdou do pai e, apesar de considerar que em Portugal “não há condições” para exercer a profissão, confessa não se arrepender da escolha que fez. “Eu queria sair, ter a experiência e a qualquer momento podia ter voltado se estivesse disposto a dar esse passo atrás, nunca estive. Não me arrependo de ter feito o que fiz, gostei muito, e voltava a fazer. Ter-me-ia arrependido se não tivesse saído”, garante.

Entre Portugal e Reino Unido, as diferenças na carreira de um enfermeiro são “muito grandes” para o português. “Primeiro, cá (Reino Unido) é muito mais fácil escolher a área em que se quer trabalhar, dentro da enfermagem. Depois há uma progressão de carreira muito mais visível. Não é um mar de rosas, o ordenado continua a ser baixo para a realidade do país, mas é muito mais fácil compensar o salário com essas subidas de carreira. Depois existem aqui oportunidades de se fazer coisas que em Portugal não são possíveis. São aspetos que fazem com que depois seja mais difícil abandonar tudo e voltar para Portugal”.

A viver há 15 anos no Reino Unido, Pedro Silva está distante da realidade da enfermagem em Portugal, mas em conversa com colegas vai percebendo que “as coisas não melhoraram muito. Continuam a ter dois trabalhos, a fazer 70 horas por semana, para conseguir ganhar mais algum. Mas se esquecermos a parte financeira, o trabalho em si é satisfatório. Quando se faz algo que tem impacto na vida dos outros é satisfatório”, sublinha.

Há dois anos, Pedro Silva deixou a enfermagem e, atualmente, trabalha numa empresa na área da saúde. Abandonou “o altruísmo que é preciso ter na profissão”, mas garante que vai sentir-se sempre enfermeiro. “O meu trabalho continua a ser em hospitais e, por vezes, tenho alguma dificuldade em não me envolver. Mas continuo a sentir-se enfermeiro e a beneficiar muito da minha experiência clínica para fazer o trabalho que faço hoje em dia. Continuo a recorrer a isso todos os dias”.