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A cidade da Lixa, no concelho de Felgueiras, é também conhecida pelas Festas das Vitórias. Uma tradição com 190 anos que conta com uma Comissão de Festas que, este ano, é composta por três mulheres e 11 homens, todos oriundos da zona da Lixa, ou arredores.

Élio Silva, Hélder Coimbra e Nuno Vasconcelos são repetentes, uma vez que organizaram as festas em 2014. Os restantes elementos, Alex Teixeira, Amélia Ferreira, André Teixeira, João Pires, Pedro Oliveira, Ricardo Pinto, Telma Taveira, Tiago Lemos, Vânia Teixeira, Vitor Ribeiro e Vitor Teixeira, são estreantes. 

Em entrevista ao Jornal A VERDADE, a Comissão das Festas das Vitórias falou sobre o desafio de organizar este evento, que conta com “muito tempo de dedicação e horas de trabalho”, onde a “resiliência e muita negociação” são as chaves. 

Porque decidiram organizar estas festas?

Na dinâmica da escolha das comissões organizadoras, por norma, dão prioridade a quem já fez há dez anos, como forma de dar continuidade e garantia de pessoas com algum know-how na organização das festas, apesar que em dez anos muita coisa muda, tanto na produção como nos custos do eventos e a suas receitas. Curiosamente o desafio surge no domingo à noite do elemento mais novo da comissão que demonstra uma grande vontade em organizar as festas e partilha esse sentimento junto de pessoas que conhecem os elementos repetentes e lançam o desafio, que acabou por ser aceite e, na segunda-feira das festas, fomos convidando mais pessoas da nossa confiança e amizade. Chegamos a ser um grupo de 19 membros que entretanto preferiram desistir por motivos pessoais e outros profissionais. 

Depois do grupo criado, um dos fatores de decisão foi procurar fazer algumas mudanças na dinâmica e no conceito das festas, como também, contrariar as sucessivas criações de associações e procurar manter uma associação que se dedica a acompanhar as comissões dos anos vindouros. Desta forma, temos um presidente de associação e um presidente da comissão, assim a comissão e o seu presidente apresentam as contas e têm o apoio da associação. Por outro lado, podemos começar a criar uma imobilização e apoio à comissão do ano seguinte. As festas estão a ganhar uma dimensão que sentimos essa necessidade, porque só assim será possível crescer de forma sustentável, a exemplo do que acontece noutras festas.

Como é organizar as Festas das Vitórias?

As festas exigem muito tempo de dedicação e horas de trabalho. Resiliência e muita negociação entre os pares para podermos ter todos uma só voz com a qual temos que concordar. Chegamos à conclusão que não há um modelo ideal para organizar as festas, mas trabalhar cada etapa com tempo, estudar muito bem o cronograma, com uma boa distribuição de tarefas e, sempre, antecipar os problemas de forma a que tudo seja equacionado apesar de faltar ainda seis meses. Outra estratégia que usamos é ouvir toda a gente, como por exemplo, as comissões dos anos anteriores, as autoridades, os fornecedores, os parceiros e, essencialmente, a população. Sabemos que agradar a toda a gente é impossível, mas ouvi-los é o caminho para o sucesso, quanto mais não seja para esclarecer e elucidar quem nos critica, atendendo que muitas vezes a informação não chega de forma correta a todos nós. Por fim, e não menos importante, trabalhar muito bem o orçamento de forma a termos a balança equilibrada sempre com o principal objetivo de termos as contas todas pagas no final das festas.

Na vossa opinião, qual a importância de manter esta tradição?

A importância é muita. As festas em 30/40 anos já mudaram imenso, passamos de três dias de festas para cinco, a oferta artística tornou-se mais exigente e eclética, a criação de espaço de diversão para os jovens, para além das diversões, o aumento das áreas destinadas para o evento, com deslocalização das zonas de espetáculo e diversão. 

Prova que damos muita importância a esta tradição é não deixar no esquecimento as nossas raízes, vamos realizar ações de promoção das nossas tradições nas escolas do primeiro ciclo do Agrupamento de Escolas da Lixa, em parceria com a Escola Segura, da Guarda Nacional Republicana, em que vamos transmitir como eram as festas, recordando a queima das Vacas de Fogo, a Guerra das Cebolas que aconteciam no final das festas, como também, os cartazes das festas e as suas diferenças no antes 25 de Abril de 1974 e o pós até os nossos dias. Lançando o desafio as crianças em questionar os seus familiares sobre essas tradições que os tempos modernos nos tiraram. 

A GNR, por sua vez, vai sensibilizar sobre o cuidado a ter nas festas de forma a deixar essas mensagem aos seus familiares, no que se refere ao transporte, consumo de álcool por parte de quem vai conduzir ou até mesmo respeitar as distâncias nos dias de fogo de artifício ou fogo preso. 

Aproximar os jovens à parte religiosa também é um desafio que queremos alcançar com sucesso, a festa na sua génese é em Honra da Nossa Senhora da Vitória, com o passar dos tempos já só chamamos Vitórias. Não podemos esquecer que a sua criação surge com base na crença e só depois é que evolui para o divertimento. 

O que é que as pessoas podem contar este ano nas Festas das Vitórias?

Vamos mudar a localização de algumas ofertas, em que vamos procurar dar mais conforto e segurança a quem nos visita, tendo em conta que a cidade tem vida de dia durante os cinco dias das festas, logo não podemos só pensar nas festas mas sim nos comerciantes que muitas vezes são esquecidos ou prejudicados. 

Este ano também é um marco importante, uma vez que as Vitórias fazem 190 anos. Há algo especial para assinalar este marco?

Um dos outros motivos na organização das Vitórias em 2024, foi igualmente garantir a nossa continuidade para organizar os 200 anos das festas, apesar de não prevermos o futuro. Estamos a estudar um espetáculo performativo que irá explicar como surgiram as festas e restaurar algumas tradições que foram mudadas nos últimos anos. A parte religiosa vai ter algumas alterações que já foram aprovadas pelo nosso padre e pela sua equipa.  

Este evento é um marco na freguesia, no concelho e na região. Sentem a “pressão” de superar as festas do ano passado?

Este é o pensamento errado que não queremos nunca ter. Cada comissão tem a sua visão e prepara as festas como melhor sabe e consegue. Não é fácil fazer previsões de receitas, sabendo as dificuldades pelas quais todos nós estamos a passar, logo quando projetamos o orçamento temos que ter muito cuidado para não cometer erros que se podem refletir nas festas. A pressão que temos é de ter de cumprir a tradição e deixar um toque de identidade. Os elementos repetentes desta comissão foram os provocadores de termos uma nova localização de fogo de artifício e de um segundo palco para o artista principal. Em 2014, procuramos fazer mais mudanças, mas a comissão teve receio de as fazer, mas curiosamente ainda hoje se mantêm, assim, este ano, esperamos que as mudanças que vamos apresentar venham para ficar.

Uma mensagem para a população e também para todos os leitores, para incentivar à participação? 

Sem querer levantar muito o véu, a população pode esperar umas festas muito ecléticas a nível de oferta artística, uma zona dedicada à restauração a pensar em quem nos visita, garantir mais conforto e comodidade, refrescar a parte religiosa de forma a aproximar mais a população e as gerações, como também, termos zonas de estacionamento. Mas ficam desde já todos convidados a participar no levantamento da Bandeira que vai acontecer no dia 1 de abril, às 11h00, na Capela da Nossa Senhora das Vitórias, onde vamos apresentar oficialmente a nova imagem, alterações e cartaz das Vitórias 2024.