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O agravamento a nível da saúde mental tem se notado no aumento das consultas, nos pedidos de ajuda e de internamento e nas camas preenchidas nos Hospitais. É uma realidade à qual “não se pode fugir”, há números, factos e serviços “a rebentar pelas costuras”.

Na visão de Carlos Alberto, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), a saúde mental começou por ser vista como um “estigma”, apenas as patologias de foro físico levavam as pessoas a recorrer ao Hospital e a considerarem que estão “doentes. Os outros eram chamados ‘os malucos’, não existia a visão que há hoje mais integrada da questão da saúde mental”, destaca. No entanto, acredita que o “estigma” foi “ultrapassado” e que se “se tornou absolutamente flagrante e visível” após a abertura das “portas ao mundo. Existe uma sociedade antes e depois da pandemia”.

Atualmente, o CHTS é, a seguir ao Magalhães Lemos, “o segundo maior Hospital do Norte do país na área da saúde mental, incluindo na psiquiatria”. Tendo em conta a dimensão da região e o número de doentes, o presidente admite que a lotação é “total e temos doentes fora do Hospital. Não temos capacidade para os aguentar todos”. 

Perante este flagelo, Carlos Alberto não tem dúvidas de que “começa a haver uma perceção que é preciso mesmo começar a olhar para a saúde mental de outra maneira. Não há como esconder”. Neste sentido, estão a ser “avançadas um conjunto de medidas de alargamento da resposta. Há Hospitais que começam a ter investimento na área da saúde mental para poderem dar eles próprios respostas a estes doentes, desta forma, e cada um dos Hospitais que estão à volta do Porto também derem essa resposta, haverá menos carga”. No caso do CHTS, em breve, será concedido financiamento para o alargamento a mais dez camas de internamento. Atualmente, existem 42 camas. 

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Se em 2016 o problema era fixar profissionais no CHTS, atualmente, Carlos Alberto destaca que as carências são a nível “logístico e físico”. Por esse motivo, o plano de atividades integra “uma intervenção grande para separar a parte das consultas do internamento”. Com uma equipa de 23 psiquiatras e sete pedopsiquiatras (infância e adolescência), Carlos Alberto volta a defender que “os recursos humanos existem, agora precisamos de criar condições e espaços para dividir os serviços”. 

A saúde mental começou a ser reconhecida por todos e é transversal “a todas as idades, profissões e estatutos sociais”, mas a “distância e as questões financeiras” ainda limitam o acesso dos doentes ao Hospital. Um cenário que tem sido resolvido através das “equipas comunitárias” e da “saída das muralhas do Hospital”. Por este motivo foram criados projetos no Norte, no Hospital de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real e no CHTS. “O CHTS ficou responsável pelo projeto piloto para a equipa comunitária de saúde mental da infância e da adolescência. Definimos ir para os que estão mais longe, isto é, Cinfães, Resende e Baião. É muito longe e as pessoas negligenciam e não vêm ao Hospital”.

Já em Lousada “apareceu a disponibilidade para se constituir uma equipa comunitária de saúde mental de adultos. No futuro aquela equipa irá tentar dar resposta também a Felgueiras e Paços de Ferreira”. 

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Esta foi também uma das “grandes soluções” para o agravamento sentido na área da saúde mental. “Temos de ir para a comunidade promover modos de vida saudáveis. Ir para a comunidade verdadeiramente, ir aos lares de idosos, dar-lhes apoio para evitar que eles tenham de vir, sistematicamente, para as urgências, promover junto das autarquias os espaços de desporto ao ar livre, junto das escolas a alimentação saudável, combater o álcool e tabaco”.

Carlos Alberto defende uma “visão nova da medicina. Nós não vamos ter dinheiro para tratar os doentes. A única maneira é agir junto da população para que, daqui a dez anos, a população não esteja tão doente”, garante.

Sem precisar todos os motivos que levam as pessoas a recorrer à ala de psiquiatria no CHTS, Carlos Alberto define como alguns dos problemas “as dependências tecnológicas, dependência do jogo e das raspadinhas, falta de emprego, a crise global, entre outros”, reiterando que a “pandemia mudou as pessoas, estão mais ansiosas, inquietas e agitadas, mas só nos resta encontrar soluções”.