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João Pereira, natural de Baião, foi um dos melhores alunos do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Vale de Ovil. Com uma média final de 20 valores e média de acesso ao ensino superior de 18,7, seguiu o sonho que tinha “desde pequeno”: entrar no curso de medicina, para ser pediatra. Agora, na FMUP – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o jovem de Baião conta-nos como tem sido a experiência no ensino superior e quais os sonhos para o futuro.

O que te levou a escolher medicina? O que mais te fascina na área?

Ninguém da minha família está numa área relacionada com a medicina, mas desde pequeno que sempre procurei deixar a minha marca na vida dos outros e tento que os outros me conheçam pela minha melhor versão. Felizmente, esta é uma área que, tem as suas responsabilidades claro, mas permite uma coisa muito bonita e das mais humanas que podemos ter na vida, ajudar os outros. Foi sempre esse o meu sonho e trabalhei para isso. A par desse objetivo, tenho o caso do meu irmão, que teve uma doença que ninguém conseguiu identificar e que lhe causou muitas patologias associadas e tem, neste momento, 99% de incapacidade. Venho para esta área, não só para lhe tentar proporcionar as melhores condições de vida no futuro, como para camuflar esse vazio que pode ter ficado na minha vida.

O teu irmão é a tua inspiração? 

Sim, sem dúvida. Sempre quis um irmão e pedia muito aos meus pais. Nesta área sinto que posso conjugar as duas coisas que vão dar sentido à minha vida: ajudar os outros e ajudar o meu irmão, a pessoa mais importante para mim. 

No último ano letivo foste um dos melhores alunos do 12.ª ano da tua escola. Sempre foste bom aluno? 

Sempre tive um sentido de responsabilidade muito grande. Claro que quando era pequeno não tinha a mesma vocação, os mesmos objetivos, mas sempre fui bom aluno. Percebi que no secundário tinha de trabalhar muito mais, mas felizmente como já tinha as bases de estudo foi mais fácil aplicar os conhecimentos. 

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Mas para além da escola tinhas algum hobbie?

Acho que em tudo o que fazemos na vida precisamos sempre um bocadinho dos dois mundos: de um tempo de lazer e depois de um tempo em que estamos focados nos livros. No secundário eu conciliava o estudo com o desporto, outra área em que investi muito tempo. Primeiro no futebol, depois noutros desportos como natação, ténis e as minhas corridas diárias. Sempre que o estudo não me corria bem, ia fazer um desporto, voltava e se calhar até estava com novas ideias e até corria melhor. Precisamos um bocadinho de tudo. considero que nos tempos que correm não há ninguém que consiga passar um dia inteiro a estudar. É preciso desenvolver outras competências, que só nos vão ajudar no estudo. Há pessoas que podem considerar esse tempo perdido, eu acho um tempo ganho. 

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Então achas que na vida profissional não contam só as notas, mas também o que és enquanto pessoa?

Claro que sim. Mais do que as competências que vou ter a nível científico, o meu objetivo passa mais por dar a conhecer a minha pessoa, tentar estabelecer uma boa relação entre o médico e o paciente. Sei que vou ter uma responsabilidade muito grande, momentos bons e maus. Mas todos nós que vimos para esta área, principalmente com o passar dos anos em que vamos contactando com os doentes, ficamos com a ideia de que temos de assumir essa responsabilidade. Temos de assumir que estamos a trabalhar para os outros, mas quando assim é e conseguimos ajudar vamos estar principalmente a ajudar-nos a nós mesmos. A vocação é mesmo essa, ou seja, o que eu quero na minha vida passa muito por isso, pelos outros, porque nós não vivemos sozinhos. 

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Ao longo de todo o teu percurso escolar o apoio da família foi importante?

Sempre me deram bases muito fortes, no sentido de me transportarem a confiança, ou seja, nos momentos em que achava que já não seria possível eles confiaram sempre em mim e mesmo agora confiam e dizem que é possível. Toda a confiança que tive, mais do que a minha, veio da minha família, amigos, professores. Foram um pilar gigante para ter chegado aqui, não teria chegado sozinho. Nunca me disseram que havia impossíveis. 

Essa confiança foi importante na entrada para a faculdade, um “mundo” muito diferente? 

Sim muito e eu que vim de Baião, uma vila mais pequena, senti um bocadinho o choque no início. Muitas pessoas, muitas responsabilidades, estudamos num dia o que se calhar estudávamos num período inteiro, o choque é muito grande mas tem coisas muito boas. Na minha faculdade as pessoas são muito unidas, tive muita gente a ajudar-me. Um curso de seis anos só se aguenta assim, se estabelecermos relações muito fortes.

Quais os principais conselhos que podes dar aos jovens que estão agora no ensino secundário e queiram ingressar no ensino superior?

O principal conselho que posso deixar é: na vida não podemos ser obcecados por uma coisa, neste caso pelo estudo. Muitas vezes mais vale darmos tudo o que temos num curto espaço de tempo e aproveitamos o que resta para fazermos outras atividades, do que passarmos um dia a estudar e parece que as coisas não rendem. Se tivermos planos extra estudo, aquele momento que temos para estudar vamos dar o nosso máximo. É isso que faz a diferença, não é o tempo de estudo, mas sim a qualidade. É o melhor conselho que posso dar. E claro nunca desistir. Sei que vou ter sonhos impossíveis, mas se tentarmos é aí que está o prazer da vida, no tentar. 

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O que é para ti um bom médico? Que médico queres ser?

Quero ser um médico totalmente responsável, ou seja, uma pessoa na qual confiam e não quero que as pessoas olhem para mim como se eu possa saber tudo e resolver todos os casos. Eu estou ali para dedicar muito do meu tempo aos outros – é a realidade desta área – e tudo o que puder fazer pelo paciente, acho que o devo fazer. Na faculdade dizem-nos que não devemos estabelecer uma relação muito próxima com o paciente, pode fazer com que nós não consigamos avaliar as situações de forma clara, mas eu acho que nesta área temos de utilizar esses pontos, que são fortes e fracos ao mesmo tempo. É essa relação que criamos com o paciente que faz com que as nossas ideias fiquem mais claras e com que o nosso empenho seja muito maior.

Um dia o que te fará sentir realizado? Concluir o principal objetivo da minha vida: deixar as pessoas com uma boa impressão e deixá-las orgulhosas. Em primeiro lugar está o meu irmão, depois a minha a minha famílias e as outras pessoas. Quero que as pessoas me conheçam pela minha melhor versão e sempre que possível vou tentar ajudar.