antonio augusto silva
Publicidade

Diz o ditado que ‘quem corre por gosto não cansa’ e há quem o leve muito a sério. O gosto pela corrida já vinha de “miúdo” e manteve-se até “por volta do 11.º ano”, mas regressou, mais tarde, pelos “quilos a mais que via na balança. Fui para a universidade, acabei o curso e até aí era um rapaz magrinho. Depois comecei a engordar, mas cheguei aos 45 anos e ao ver umas fotografias de umas férias percebi que aquilo não fazia sentido, estava muito pesado, tinha mais de 100kg. Percebi que tinha de fazer alguma e resolvi, em 2005, começar a caminhar”, recorda António Augusto Silva, atual vereador na Câmara Municipal de Lousada.

No dia 1 de setembro calçou as sapatilhas e deu início à “promessa que tinha feito durante as férias“. Todos os dias, pelas 06h20, acordava para fazer a caminhada e corrida “começou a aparecer naturalmente. Não foi no primeiro dia, nem na primeira semana. Aliás, a primeira vez que dei uma volta completa ao parque achei que foi um sucesso. A primeira vez que saí de casa a correr e cheguei a casa a correr, sem caminhar, foi outro marco importante”.

meiamaratonadapontevascodagama2009 prova1
Primeira Meia Maratona (2009)

O peso ia descendo, as pessoas comentavam e tudo era “um estímulo adicional” durante quatro anos. Até novembro de 2009 “não havia expetativas”, apenas o compromisso de manter a atividade. “Corria já quase todos os dias, às vezes junto ao mar fazia 14, 15 ou 16 quilómetros, mas não tinha qualquer expetativa de fazer provas e desconhecia o ambiente que existia à volta das mesmas”, conta. 

Até que, nesse mesmo ano, viu o anúncio da Meia Maratona de Portugal – assim designada na altura – e resolveu inscrever-se. “Pensei ‘é uma experiência interessante, vou tentar fazer e se não conseguir é longe e ninguém me conhece’. Lá fui, no dia anterior, para Lisboa. Fiz a prova e deu-me algum prazer e satisfação. Quando acabei e vi os resultados até tinha ficado nos primeiros 20 ou 30%. E, nesse momento, pensamos logo ‘quando vai ser a próxima'”.

roma2014
Maratona de Roma (2014)

Seguiu-se a Meia Maratona de Nazaré e, a partir de 2010, mais umas quantas pelo país e além fronteiras. “Entretanto conheci um amigo que corria há muitos anos e acabei por me integrar neste mundo das corridas com ele”. Amigo que, em 2010, “convenceu” António Augusto Silva a inscrever-se numa Maratona de 42 quilómetros, no Porto.

Depois desses, que “não estavam nos planos”, já repetiu a prova “umas seis ou sete vez” e aventurou-se fora do país: Espanha (Gran Canária, Sevilha, Madrid, Barcelona, Bilbau, Corunha), Marraquexe, Roma, Paris, Marselha, Amesterdão, Roterdão, Berlim. Esta última “a mais desafiante” e a que recorda com “mais carinho. Uma maratona como a de Berlim tem um número de inscritos à volta dos 40 mil e ter este numero de pessoas a fazer a prova é de arrepiar. Para além disso, há muita gente que se acumula na rua para ver os atletas”.

berlim2015
Maratona de Berlim (2015)

Para António Augusto Silva, uma maratona é uma prova “especial e muito e exigente“, em que é preciso “muita vontade para chegar ao fim. Nos últimos quilómetros já dói tudo e a cabeça quer continuar e o corpo vai-se arrastando. Muitas vezes dou por mim a pensar ‘porque me meto nisto, não preciso disto para nada, não preciso de provar nada a ninguém, porque me sujeito a um desafio destes, extremamente penoso’. Mas só uma razão de força maior é que nos faria desistir”, garante.

Um pensamento que “desaparece” assim que chega à meta. “Ali damos um abraço a uma pessoa qualquer que nem conhecemos e que acabou junto a nós e está ali a festejar a conclusão dos 42 quilómetros. Vêm-nos as lágrimas aos olhos, é muita emoção e há uma coisa que me vem logo a cabeça: onde é a próxima. Rapidamente naqueles minutos se esquece todo o sofrimento e se fazem projetos para fazer outra maratona”.

Maratona de Marraquexe (2018)

Em 2023, com 59 anos, chegou à marca das 300 provas desde que se iniciou no mundo da corrida. Chegou a fazer 36 por ano e o ano passado contabilizou 24. “É uma forma de me manter ativo e funciona como treino. Tenho tudo organizado e apontado num documento excel, com todos os registos. Registo a data, a prova, o tempo que faço, a classificação e número de atletas que concluíram“.

Um dado “curioso”, é que António Augusto Silva fez a prova 300 na mesma corrida onde tinha realizado a primeira, em 2009. “Foi uma enorme felicidade e a organização teve a amabilidade de me atribuir o dorsal 300.

Apesar de “não ter muito tempo para treinar”, fá-lo três vezes por semana, “duas delas durante a semana à hora de almoço e uma ao fim de semana“. Já a idade não o “preocupa”, porque a vontade é “apenas correr. O meu objetivo, neste momento, é correr até mais tarde. Se este ano fizer o mesmo número de provas que em 2023 fico muito feliz. E se em 2025 estiver a correr e a fazer várias provas é fantástico”.

meiamaratonadapontevascodagama2023 prova300
Meia Maratona em que alcançou as 300 provas (2023)

As vantagens da corrida “são muitas, ao nível da saúde física, mas também mental. Costumo dizer, muitas vezes, que a corrida não nos resolve nenhum problema, quando acabamos de correr os problemas são exatamente os mesmos, mas faz-nos olhar para os problemas de uma forma diferente”.

Com menos “20 quilos” e depois de “várias intervenções cirúrgicas”, a vontade de correr “permanece a mesma. Um dos maiores prazeres que a corrida me dá é, quando vou a uma nova cidade dois ou três dias, levantar-me cedo, descobrir a cidade a correr, ver os locais a irem para o trabalho e para a escola, ir a sítios onde era impossível ir a caminhar pela distância a percorrer. É um privilégio fazer isto com chuva, neve, frio, vento, calor e voltar a encontrar o hotel”.

Se para o homem com 45 anos e 108 quilos era “impensável” chegar às 300 provas, hoje já não se imagina sem a corrida e gosta de influenciar os que o rodeiam. “Incentivei algumas pessoas e é, também, uma satisfação. Não faziam nada, mas acabaram por se juntar ao grupo e já fizeram maratonas”.

A próxima aventura já tem data marcada para o dia 11 de fevereiro, na corrida de Carnaval de Lousada.