professora silvia marco
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Desde o dia 2 de novembro que professores de Norte a Sul do País se manifestam contra a alegada falta de investimento do Governo na Educação.

As greves têm sido constantes e o número de docentes que se unem em protesto também. A lecionar no concelho de Marco de Canaveses, Sílvia Monteiro é uma das vozes desta luta. Após 18 anos de carreira ainda continua na condição de professora contratada, ou seja, sem qualquer vínculo a um estabelecimento de ensino.

Ao longo do percurso profissional ficar perto da família foi uma opção que tomou, mas sabe que futuramente terá as suas consequências. “Não tenho horário completo, mas se o quiser tenho de ir para longe de casa. Como valorizo mais estar perto da família prefiro ter um horário incompleto, apesar de todos os problemas que vêm daí”, explica.

As consequências são ao nível da “efetivação, progressão, reforma. Se tivermos um horário com 15 horas, não nos é descontado 30 dias por mês para a segurança social, mas sim apenas 22 dias. Para serem os 30 dias teria de fazer 16 horas no mínimo. Isto vai-nos prejudicar em todos os sentidos na nossa carreira”, explica a docente.

Ao fim de 18 anos ver-se confrontada com esta escolha “não se justifica”, mas reconhece que foi uma opção. “Ou ia para longe, ficar afastada de todos e com despesas extra, e com um horário completo ou ficava perto de casa, as despesas são menores, o salário é menor mas estou perto da família”.

Durante 10 anos foi professora nas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC), porque “não arranjava colocação pelo ministério”. Depois teve a experiência que milhares de professores têm: ficar longe de casa. “Arranjei colocação numa escola em Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo. Foi o mais longe que estive”, recorda.

O apego pela família falou mais alto e voltou a dar aulas perto de casa, retomando os horários incompletos.

Apesar do descontentamento perante as regras impostas à profissão, a vontade de ser professora mantêm-se inalterada. “Continuo a gostar do que faço, dos meus alunos, e a gostar de ir trabalhar”, afirma.

E é esse o motivo que leva Sílvia Monteiro a unir-se à greve, porque acredita na profissão. Caso contrário, “desistia. Era a opção mais fácil, desistir e enveredar por outro caminho. Mas, neste momento, não é opção, porque gosto do que faço e não me vejo a fazer outra coisa”, sublinha.

As propostas que o Governo tem apresentado “não iam melhorar em nada, pelo contrário”, diz a professora, para quem a mudança do rumo do ensino está em “tornar a carreira de professor mais apelativa. Isso seria importante”.

A realidade atual da carreira docente tem, para Sílvia Monteiro, impacto na aprendizagem de todos os alunos. “Quanto mais motivados estivermos, mais gosto temos em ir trabalhar e os nossos alunos também beneficiam da nossa boa disposição”, garante.

No seu dia a dia enquanto professora afirma que tenta “não transmitir” toda a instabilidade vivida. “Não vou para a sala de aula de cara amarrada, nem contrariada”.

No entanto, a “falta de investimento” no ensino vai ter consequência nas restantes áreas profissionais, uma vez que o papel do professor é “formar futuros profissionais. Estamos a contribuir para o futuro do nosso país”.

Futuramente, a mudança acontecerá quando o Ministério da Educação garantir “condições para nos vinculamos mais cedo e que não seja preciso três anos completos em determinado estabelecimento de ensino para conseguirmos uma vinculação”.

Com novas leis, Sílvia Monteiro espera que a profissão permita “estabilidade económica, emocional, familiar”

O “amor à camisola” é o que mantém muitos docentes na profissão, mas como diz “isso já não chega”.