Aos 16 anos Glória Ridoutt, natural de Caíde, Lousada, começou a "construir" a sua vida na Suíça.
Foi aos 16 anos, em 1989, que Glória Ridoutt iniciou o seu percurso na cidade de Genebra, na Suíça, juntamente com os pais e as duas irmãs mais novas. Ainda na adolescência sonhava ser estilista e chegou mesmo a aprender costura. "Fiz o primeiro e segundo anos do secundário, mas saí e fui aprender, durante cerca de três anos, costura com a senhora Amélia, uma costureira que vivia em Caíde. Era bom para a carreira que queria seguir", recorda. Posteriormente, continuou os estudos durante a noite. "Ia às 08h30 e terminava às 17h30. Depois jantava e ia para a escola. Hoje sei fazer uma roupa do princípio ao fim", diz.

Um sonho interrompido quando saiu do país e um início "um bocadinho complicado" para uma adolescente de 16 anos. "Já tinha tudo programado, os estudos, os amigos, a minha carreira. Mas foi uma oportunidade para a família ficar toda junta e como era menor o meu pai não me queria deixar em Portugal".
Ir para outro país implicou a aprendizagem de uma nova língua, "mas como tinha estudado francês na escola, já tinha algumas noções do idioma", partilha Glória Ridoutt, para quem "o mais difícil foi a adaptação. Quando chegamos fomos para casa de um amigo do meu pai, muito simpático, porque encontrar casa era um bocadinho difícil. Mas, por natureza, sou uma pessoa que se adapta muito rápido".

Em Portugal deixou "uma grande amiga de infância", com quem sempre manteve contacto. "É como se fosse uma irmã para mim", diz. Pouco a pouco foi perdendo o contacto com alguns amigos, mas a "melhor amiga ficou sempre. Telefonava-lhe, chegamos a escrever cartas, e às vezes ia a Portugal no natal. Aliás, ia quase todos os anos".
Emigrada há 33 anos, Glória Ridoutt trabalha num banco e contacta com "muitas pessoas. É um país com outra evolução e mentalidade. Gosto muito da diversidade cultural e religiosa, porque é uma aprendizagem da vida excecional. É como se viajasse todos os dias, porque todos os dias aprendo um pouco mais da cultura de cada um e, de certa forma, vou vivê-la", considera.

Glória Ridoutt, de 49 anos, realça um país "muito bem organizado, com paisagens lindas", assim como Portugal que "é um país muito bonito. São dois países diferentes".
Apesar da Suíça ser a sua "casa", Portugal deixa "saudades. O que mais gosto em Portugal é o mar, a comida, as pessoas são simpáticas e genuínas". Glória Ridoutt tem as duas nacionalidades (a suíça há 19 anos) e sente.se portuguesa. "Sei que sou portuguesa e sinto. Por exemplo, quando ouço um fado, toca-me muito. Eu vou ficar a viver na Suíça, mas Portugal é o país onde nasci e sinto-me portuguesa".

Na Suíça conheceu o marido, que é peruano, e juntos tiveram duas filhas. "Uma tem 23 e a outra 18 anos. Elas adoram Portugal, a comida, adoram ir a Lousada fazer as compras nas lojas, já foram a Fátima. Elas nasceram cá, mas dizem que são portuguesas e peruanas", conta.
A cultura portuguesa foi sempre transmitida às filhas que "falam português, ouvem música portuguesa. Quando elas nasceram eu disse para falarem sempre português com elas", revela.

Voltar já não faz parte dos planos de Glória Ridoutt. Tem família que visita "sempre" que vem a Portugal, mas a família "mais próxima está toda na Suíça".
A quem pretende emigrar, Glória Ridoutt aconselha a que "pensem muito bem, porque é uma mudança radical. Têm de saber o que vão fazer e onde vão morar, ter um contrato, uma estrutura, e o resto vai-se fazer pouco a pouco. Tem de vir com uma base, se não é um choque total".