sara archer taveira destaque
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Esta terça-feira, dia 5 de dezembro, celebra-se o Dia Internacional do Voluntário, uma data implementada em 1985. Nas mais diversas áreas e contextos, são muitos os voluntários que se dedicam a ajudar o outro e neste dia, o Jornal A VERDADE dá-lhe a conhecer o testemunho de Sara Archer Taveira, uma lousadense de 31 anos que, desde 2016, dedica todas as manhãs de quarta-feira às crianças e famílias do serviço de pediatria do IPO do Porto.

Como é que o voluntariado entrou na tua vida?

Tudo começou com uma angariação de pijamas para o IPO no meu local de trabalho. Eu e uma amiga vimos essa angariação e decidimos fazer. Entramos em contacto com o responsável do voluntariado da pediatria, o senhor Alberto, que tem um grupo – os resistentes – formado por meninos da pediatria que vão jogar futebol a diferentes sítios. No final há um convívio e uma angariação de fundos. Nós organizamos um jogo e, nesse dia, o senhor Alberto trouxe-nos uma folha de inscrição para voluntariado. Eu disse a essa amiga ‘olha eu vou inscrever-me mas não vou, porque sou incapaz de fazer uma coisa dessas’. Ela insistiu e fiz a inscrição. Entretanto, fui chamada para uma entrevista, na qual somos analisados por uma psicóloga, para perceberem as nossas motivações para fazermos voluntariado e se temos ou não capacidade de estar lá. Depois fui chamada para fazer formação e novamente disse ‘vou o primeiro dia e venho embora, porque não vou conseguir estar no meio das crianças doentes’. Eram dois dias, fui o primeiro e achei que não era assim tão mau como se pinta e como parece do lado de fora, porque são crianças “normais”, que brincam, que se zangam, estão mal dispostas, bem dispostas, no meio das crianças não há o peso da doença. 

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Como é a tua rotina no voluntariado?

Vou todas as quartas-feiras, das 09h00 à 13h00 para o serviço de pediatria que está dividido em dois pisos: o 3, onde estão as crianças que vão fazer os tratamentos ou vão a consultas, mas não têm de ficar internadas. No tempo em que estão à espera há uma sala de brincar, onde estamos a brincar com e eles e a distraí-los enquanto esperam. Depois temos o piso 12 onde estão internados. Neste, estão divididos entre os que têm de estar em isolamento e tem de estar sempre fechados no quarto, onde só uma pessoa pode estar com eles e os que estão numa enfermaria normal, em que estão dois meninos por enfermaria e podem deslocar-se pelo corredor e até a sala de brincar, enquanto os pais vão tomar o pequeno almoço ou almoçar. Temos de vestir os fatos, a máscara, a touca, porque temos de os proteger de tudo o que possam ser bactérias e vírus. É esse o único momento que os pais têm para sair do quarto e ir tratar de papeis ou ir a casa buscar mais roupa. O voluntário tem de assegurar que fica com a criança para que o familiar tenha a liberdade de fazer outras coisas.

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Quando começaste a contactar de perto com a realidade da pediatria do IPO sentiste que estavas preparada?

Sim. Eu pintava um cenário muito negro, achava que iria encontrar crianças muito tristes, muito mal e não é esse o ambiente que se vive na pediatria do IPO. Claro que passam por períodos mais complicados, mas a maior parte do tempo estão bem. É muito fácil estar com eles, porque não sentem a doença como nós adultos conseguimos senti-la. 

Terminadas as horas do voluntariado, o que se sente no final de cada dia?

Saio sempre feliz e realizada, completamente, é um sentimento de missão cumprida. Estive lá, consegui facilitar a vida aos pais, e naquele tempo que consegui estar com a criança, tiveram tempo para eles, que deixam de ter a partir do momento em que há uma criança doente na família.

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Nestes sete anos, houve alguma criança ou história que tenham marcado mais?

Sinceramente, são mais as crianças que me marcaram pela positiva, porque conseguiram recuperar. Não consigo especificar um caso só, há muitas que marcam. Felizmente, são muitas mais as que marcam e que ainda estão entre nós, do que as que partem. Quando partem estamos apegadas a eles e é realmente difícil mas temos de estar lá pelos outros. Somos alertados para que não haja uma ligação muito forte com as crianças, porque existe o risco de partirem, mas é impossível não se criar qualquer ligação. Com muitas delas, acabamos por ter alguma ligação, que fica mesmo depois do IPO. As redes sociais ajudam a conseguirmos continuar a ter contacto, mesmo com crianças que já estão curadas e que já não vão regularmente ao IPO, mas que conseguimos falar.  O voluntariado sai das quatro paredes.

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Pela tua experiência, sentes que existe um decréscimo no número de voluntários?

Sim. Depois da pandemia houve um grande decréscimo, porque foi suspenso e acredito que as pessoas tenham encontrado atividades que ocuparam o tempo que antes dedicavam ao voluntariado, que depois não conseguirem reverter. Há sim uma falta de voluntários e falo pela realidade que conheço. Notamos esse decréscimo que, neste momento, ainda não se restabeleceu. 

E, no teu caso, pretendes continuar?

Sem dúvida, claro que sim. Nas manhãs de quarta-feira nem é possível marcar outra coisa, a não ser que seja algo inadiável, mas a prioridade é o voluntariado no IPO. Percebo que não seja fácil, eu tenho flexibilidade de horário pela minha profissão, mas se for alguém que tenha um horário definido não é tão fácil, mas pode ajudar de outra forma. E é possível fazer voluntariado noutros horários, é preciso é que haja predisposição para querer ajudar.

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Para terminar, 0 que é ser voluntário?

É daquelas coisas que já não dá para viver sem, é dar o nosso tempo ao outro, sem sermos remunerados, é tentar fazer a diferença na vida do outro, tentar tornar a vida do outro mais leve, em troca da felicidade.