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Sr. Fialho vive da arte de talhar e garante "quem está ligado por paixão vai ser sempre pobre"

Redação

Foi em mais uma edição do Roteiro de Turismo Industrial, integrado na Bienal Internacional das Artes em Madeira de Paredes, que encontramos Manuel Fernandes, mais conhecido por Sr. Fialho.

Abriu-nos as portas do "museu" e sempre com um sorriso no rosto partilhou a "paixão" pela arte de talhar que iniciou há muitos anos. Tinha 14 anos quando o pai lhe perguntou se queria ser entalhador ou mecânico. Escolheu a primeira opção e, passados 52 anos, garante que não se arrepende.

A arte de entalhar começou a ser levada mais a sério quando, em 1980, criou "Os Móveis Fialho'. A empresa começou por se dedicar à talha e escultura, mais tarde, resultado da experiência e das necessidades do mercado evoluiu para a construção de móveis de estilo e restauro em vários tipos de madeira e pau-santo.

O roteiro levou-nos a percorrer a evolução da indústria do mobiliário, partindo da tradição e terminando na modernidade e foi precisamente sobre esse percurso que nos falou durante a visita, assumindo um "lamento profundo" pela "falta de escolas práticas" que levem esta arte até aos mais novos. "Como é que alguém pode adquirir uma arte se não é dada a conhecer. Eu gostaria de estar ligado à formação, mas infelizmente os nossos governantes ... a formação tem de começar nas escolas", dizia-nos o Sr. Fialho.

Mais de 50 anos depois, o que motiva a continuar a ser entalhador? "É a paixão", disse prontamente. Aliás, não tem dúvidas de que "quem está ligado à arte e tem paixão ... nunca vai ganhar muito dinheiro. Quem está ligado à arte por paixão vai ser sempre pobre. É o lamento de quem trabalha na arte e de quem sente tudo isto. Quem não tem paixão, o trabalho não se desenvolve em pormenor e com tanta perfeição".

Para uma mudança de paradigma, paredense propõe a visita de escolas e centros de formação ao espaço para que possa dar a conhecer a arte de talhar. "Se não conhecerem nunca vão optar por esta arte e poderão, possivelmente, perder-se muitas artistas", afirma com toda a convicção.

O "orgulho" esteve presente em toda a visita e nas palavras do Sr. Fialho, que recordou uma visita, recente, de um arquiteto italiano que "elogiou" o museu "pelos trabalhos que ele viu. É um orgulho sermos classificados desta forma".

Peça realizada para a Disney

Enquanto falava fomos 'passeando' pelo espaço, onde se respirava o cheiro da talha e se encontravam peças diferentes e, entre elas, algumas mais especiais, como uma peça esculpida para a Disney. "A arquiteta não mandou um diploma, mas quase, porque agradeceu muito o nosso trabalho". Sem esquecer o balcão do Hotel Intercontinental, no Porto, "uma das peças de referência do espaço. Há trabalhos mais e menos complexos. Na talha inspiramo-nos na natureza para desenvolver várias peças, que nos são pedidas por clientes nacionais e internacionais, como França, EUA e Inglaterra".

Hoje com 66 anos, Manuel Fernandes começou bem cedo nesta arte e diz-lhe a longa experiência que seguir este rumo profissional "não é para qualquer um. Há centenas deles que começam cedo, mas como digo, muitas vezes, há muitos jogadores de futebol, mas poucos como o Ronaldo. Selecionar pessoas com ADN para isto e capacidade de desenvolver estes trabalhos, infelizmente, não há muitos".

E falando em seguir esta área profissional, o entalhador assume que a continuidade do negócio poderá estar comprometida. "Não me parece que alguém assume o legado deste 'museu', embora eu tenha muita vontade. Tenho pena, mas vai desmoronar. Eu ainda penso trabalhar durante dez anos e gostaria que se mantivesse depois disso, porque é uma paixão, é algo difícil de explicar".

Já na despedida, o entalhador paredense parabenizou a iniciativa do Município de Paredes que "não é boa, é excelente. Agradeço a todo o executivo pelo trabalho incansável. Arrepio-me muitas vezes a falar disto, porque estou a batalhar há 15 anos. Finalmente alguém acordou para poder desvendar esta arte e dá-la a conhecer. Muitos arquitetos, decoradores, designers precisavam de ver este espaço ... se nas escolas há uma limitação do conhecimento, aqui ganhariam muito em visitar", disse o Sr. Fialho no final da visita.