Ana Paula Silva, natural de Amarante, relembra os seus tempos de atleta, em 1987, pela Associação Desportiva de Amarante (ADA) com “muita emoção e saudade”.
A aventura que começou numa prova de corta-mato na Escola Secundária de Amarante, onde estudava na altura. “Quando andava no quinto ano, o meu professor de Educação Física insistiu para eu correr no corta-mato escolar, mas, até à última hora, disse que não ia”, conta.
Contudo, acabou “por ceder” e, “tal como o professor esperava”, ficou em primeiro lugar na sua primeira corrida, que acabou por fazer com um equipamento emprestado e onde chamou “a atenção de alguns olheiros da ADA”.
Ana Paula Silva recebeu uma proposta da associação e, “na altura, foi muito difícil dar a resposta”. “Os meus pais precisavam de mim em casa e eu ia acabar por me ausentar várias vezes para comparecer aos treinos e às competições”, explica, emocionada. “Inicialmente, foi muito complicado. Precisava de convencer os meus pais a deixar-me participar. Eles não acreditavam nas minhas capacidades e achavam que era uma desculpa para passar mais tempo fora de casa, tempo que eles precisavam para ajudá-los, até porque para além da casa e do campo, tínhamos familiares acamados ao nosso encargo e, estando eu a participar nas provas, não iria poder ajudar da mesma forma”, acrescenta.

Os seus primeiros passos no desporto foram marcados por “vitórias sucessivas logo desde início”, com a conquista de “várias medalhas, taças e até cheques”, mas também muito atribulados. “Todas as provas eram uma luta nova porque todas as vezes tinha o mesmo problema: a resposta era não. Todas as provas eram motivo de choro, havia sempre um sim do pai e um não da mãe e eram situações complicadas. Chorei muitas vezes para conseguir ir e só no último momento é que a minha mãe acabava por ceder, muitas vezes, depois de me dar um almoço muito pesado e pouco indicado, o que me fez correr muitas vezes mal disposta, acabando por desmaiar no final das provas”, relembra.
Mesmo não sendo fácil “manter o sonho”, a ex-atleta conta que uma das provas que mais a marcou foi um campeonato nacional entre escolas. “Eu e as minhas colegas tivemos um ótimo resultado e a oportunidade de receber o prémio pelas mãos da Rosa Mota, com quem tive a oportunidade de correr, e que nos deu a oportunidade de ir representar Portugal à China”, confessa.
Quando descobriu que tinha sido classificada, juntamente com as colegas, para uma prova internacional, Ana Paula Silva ainda não sabia o “sofrimento de meses que iria passar”. “Era difícil ter a autorização da minha mãe para comparecer nas provas e, durante muito tempo, a resposta dela para a viagem era sempre um ‘não’ muito frio e decidido. Ela já sabia que me ia deixar ir, já tinha dado a confirmação ao treinador, já tinha tudo organizado, inclusive já tinha feito o câmbio da moeda, mas a mim disse-me sempre que não, até ao dia anterior à viagem, quando eu já não tinha esperanças de ir. Foi uma emoção muito grande, que nunca vou conseguir explicar”, revela.

No dia 14 de fevereiro de 1994, Ana Paula Silva seguia para uma viagem que nunca irá esquecer. “Foi a minha primeira viagem de avião, num avião que eu nem sabia que poderia existir, eram três andares com tudo aquilo que se possa imaginar, foram horas a fio dentro do avião, mas com a sensação de estar no chão”, revela.
“Quando chegamos, tivemos uma receção incrível, muito semelhante à dos Jogos Olímpicos, dentro de um campo de futebol. Juntaram todos os países para a apresentação dos atletas e ouvir o nosso nome e o nosso hino é algo que não sei explicar. É muita emoção. Nunca mais vou esquecer a experiência”, acrescenta.
Numa das provas “mais importantes” da sua vida, a ex-atleta conseguiu alcançar o “oitavo lugar, contra cerca de 400 atletas e num percurso com todos os tipos de piso”.
Ana Paula Silva recorda também a primeira prova na qual teve os pais a assistir como uma prova “muito importante e inesquecível, logo no início das competições”. “Quando comecei a correr, não tinha ninguém a ver-me e comecei a prova tranquilamente. No final da última volta, percebi que tinha lá os meus pais e ouvi-os a gritar por mim, o que me deixou muito nervosa”, transmite, explicando que sabia que tinha que dar o seu melhor. “Não me deixei levar pelos nervos. Comecei a correr com toda a força que tinha e, logo à frente, numa descida em terra, muito perto dos meus pais, acabei por ter uma queda muito feia, onde me magoei bastante, mas mesmo ensanguentada em várias partes do corpo, levantei-me e continuei a correr para mostrar aos meus pais que eu merecia estar ali e mesmo depois da queda, subi ao pódio a representar o segundo lugar”, afirma com emoção.
“Esta prova foi muito emocionante para mim porque tinha lá a minha família pela primeira vez e porque acabei por cair e mesmo assim terminei a prova com a força que a minha família me deu e foi aí que eles perceberam que eu tinha talento”, acrescenta ainda Ana Paula Silva.

Esta era uma carreira que “tinha tudo” para ser a sua vida, mas, devido a “problemas pessoais”, o seu treinador acabou “por deixar a equipa desamparada”, revela. No entanto, ainda havia esperança para a ex-atleta. “Fizemos algumas provas e numa delas tinha várias equipas importantes, que, quando perceberam que a categoria de atletismo da ADA não estava na melhor fase, começaram a fazer algumas propostas aos melhores atletas”, afirma.
“Tive propostas por parte do Benfica e do Sporting, mas isso dificultou muito as coisas e acabei por desistir. Os treinos dos clubes eram na cidade do Porto e tinha que comparecer nas provas todas. Era impossível os meus pais deixarem-me ir, mesmo eu sabendo que lhes dei muitos momentos felizes e, por isso, desisti de um sonho que me dizia tanto. Se fosse hoje, teria insistido mais e tinha acabado por lutar mais pelo meu sonho”, termina, emotiva.
Hoje, com 44 anos, Ana Paula Silva afirma: “Sinto necessidade de praticar desporto e sinto muita saudade do tempo em que era atleta e de quando fazia disso o amor da minha vida”.
Texto redigido com o apoio de Ana Ferrás, aluna estagiária da Universidade Fernando Pessoa.