A 18 de fevereiro assinala-se o Dia Internacional da Síndrome de Asperger. Conhecida pela sigla SA, esta é uma alteração no desenvolvimento do paciente que acaba por afetar as habilidades de socialização e a capacidade de se comunicar ou de expressar emoções.
O Jornal A VERDADE traz-lhe o testemunho da jovem Lia Santos, com 22 anos, que foi diagnosticada aos 10 anos . "Era uma criança bastante irrequieta, fazia algumas asneiras na escola e tinha alguns problemas para socializar com as outras pessoas", começou por explicar a jovem.
Lia foi "a muitos médicos, psicólogos e alguns psiquiatras", e um dos diagnósticos possíveis era a "hiperatividade", mas rapidamente foi descartada essa possibilidade. "Acredito que, se fosse hoje em dia, era muito mais fácil o diagnóstico, porque já se fala mais na Síndrome de Asperger", acrescentou.
A jovem afirma que a fase "mais difícil" foi a da adolescência. "Não me sinto, nem me sentia, mal por ter a síndrome, mas sentia-me mal pelo impacto que me trazia no dia a dia. É também muito interessante conhecer pessoas com a síndrome, porque sinto-me familiarizada", disse.

As pessoas com Síndrome de Asperger têm "um hiperfoco" e o de Lia são os "filmes, as séries e os jogos". Um tema que a jovem gosta "muito de falar. Eu falo imenso, enquanto que há muitas pessoas com autismo que não falam. Nem todas as pessoas com síndrome de Asperger são iguais, então alguns falam muito e outros falam muito pouco, eu falo muito", acrescentou.
Na época de escola, a jovem notava que "era excluída por não ser igual", referindo que tem também uma "motricidade fina diferente, ando de forma diferente e tenho desequilíbrio, não consigo apertar os cordões e os botões. Tenho também alguns problemas em entender ironias e algumas piadas, então era um pouco difícil".
As aulas de educação física de Lia eram "um pouco diferentes", com exercícios adaptados, bem como os testes. "Havia perguntas que eram feitas de determinada forma que eu não compreendia. Os professores trocavam as palavras por outras ou faziam perguntas mais diretas para eu entender", apontou, defendendo que é "importante a inclusão. Acho que nós, pessoas com Síndrome de Asperger, somos capazes de fazer tudo aquilo que queremos, se for adaptado a nós, nós conseguimos fazer".

Atualmente, a jovem conta com "uma prima que é uma grande amiga", com quem sai à noite. "É 20 anos mais velha do que eu e dou-me muito bem com ela. Eu dou-me melhor com as pessoas mais velhas do que eu, porque entendem-me bem. E também me dou muito bem com pessoas mais novas do que eu, é o caso da minha prima de 12 anos, que me compreende super bem, ajuda-me em muitas coisas", frisou, não esquecendo a mãe "que é um grande apoio também".
Após a conclusão do ensino secundário, a jovem ingressou no ensino superior, contudo, acabou por desistir e regressar ao Marco de Canaveses, onde vive sozinha desde os 19 anos. Começou a trabalhar, na área dos cosméticos, e esteve ligada à mesma empresa durante três anos.
Lia Santos descobriu, recentemente, uma nova paixão: as velas. "Comecei recentemente o meu negócio de velas, o Lumus Candles e estou mesmo muito feliz, tenho tido algumas encomendas, tenho conseguido mostrar o meu negócio e tenho acrescentado novas peças também. As pessoas gostam muito", apontou.
Em jeito de conclusão, a jovem deixa um conselho a todos os que, tal como ela, também tenham Síndrome de Asperger: "sigam sempre os vossos sonhos, não desistam, confiem em vocês e se realmente gostarem do que estão a fazer invistam nisso. Foquem-se no que gostam".