A luta por um sonho pode ser longa e penosa, mas o alcançar dessa ambição traz, certamente, a realização e felicidade ansiadas. Flávia Sousa é de Lousada e dedica-se à investigação. Já percorreu sete países em sete anos, tudo pela busca de um sonho. Até lá chegar, contribui para ajudar a motivar outros investigadores e alunos através de um podcast que pretende debater os problemas da carreira académica.
A paixão pela Ciência e pelo Ensino tem dado a força e determinação necessárias a um percurso "difícil de gerir a nível emocional", como explica ao Jornal A VERDADE. A primeira viagem no âmbito do percurso académico surgiu no doutoramento, à Dinamarca, e foi também durante esse período que se apaixonou pela área à qual se dedicou e na qual trabalha até hoje: Nanomedicina. Desde então, já vai em sete países pelos quais passou e nos quais fica cerca de meio ano, exceto o último, Itália, onde está há um ano e meio, visto ser um "projeto diferente".

Flávia Sousa é investigadora Marie-Curie, no Instituto Italiano de Tecnologia, em Genova, Itália, e, ao mesmo tempo, é professora universitária convidada na CESPU. Em julho, vai para a Suíça, trabalhar num projeto de investigação a título individual e é nisso que se quer "diferenciar". A sua linha de investigação tem sido no desenvolvimento de nanopartículas para uma libertação controlada e eficaz de fármacos no tratamento do cancro cerebral.
As candidaturas para bolsas internacionais e para trabalhar em projetos fora do país foram surgindo porque acredita que, "em termos de investigação, só fazia sentido com uma experiência a nível internacional", já que, em Portugal, "a instabilidade está associada à carreira", e também "pelo prestígio" e "pelo grupo que era muito bom" na sua área.
Tais experiências têm aberto "muitas portas e horizontes", mas significam que, cada vez que parte, "deixa para trás" tudo o que tem. Admite que "é muito difícil" e que em cada despedida parece que "custa mais a ir". "Felizmente, tenho uma boa família e amigos que me apoiam", afirma, brincando que é "uma andorinha": "Quem quiser que voe comigo, ao meu lado".

Aos 33 anos, Flávia Sousa tem os objetivos bem definidos quanto ao que pretende para o futuro. A ambição é ter o seu próprio grupo de investigação e ser professora universitária. "O objetivo é sempre regressar a Portugal. Aprender fora outras técnicas, aprender a pensar fora da caixa e aprender mais sobre ciência e financiamento", explica, referindo que, assim, também consegue construir "um currículo bom para, mais tarde, concorrer a uma boa posição".
Entretanto, lançou-se no projeto LYRIS – Advanced Science School, que "surge para dar apoio a outros investigadores e alunos na sua carreira académica, dar mentorias e ajudar a gerir expectativas". Neste âmbito e devido ao "entusiasmo pela Ciência e querendo tornar Portugal reconhecido internacionalmente na área", é uma das mentoras do podcast "Re-Think Science", integrado neste projeto. Esta iniciativa pretende debater os problemas da carreira académica, "como a desigualdade, problemas de saúde mental e a lacuna de financiamento português".

Os episódios lançados este mês estão subordinados ao tema da saúde mental no meio académico e a próxima série de episódios vai dar a conhecer os cientistas além da ciência, focando-se nas questões da mobilidade, deixando tudo para trás na perseguição de um sonho. A terceira série vai dar a conhecer organizações que fazem divulgação de ciência para diferentes públicos-alvo e a sua importância para a literacia científica da população.
Flávia Sousa destaca ainda que, na sua área, "é quase tudo mulheres", mas, à medida que a hierarquia vai subindo, "elas vão desaparecendo". Apesar de ser uma questão que "já está a mudar", acredita que ainda é possível "fazer muito mais" e que é necessário "um apoio muito grande a nível familiar atrás e pessoal também".

"Estejam rodeados por pessoas que vos motivem a ser melhores. Não desistam dos sonhos! Por muito que tenham obstáculos, as coisas começam a mudar. Se acharem que o ideal é ir para fora, por que não? Podem ir um ano ou dois, depois, podem, eventualmente, regressar com uma mente muito mais aberta, com uma perspetiva completamente diferente", aconselha.