fatima esteves
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Nesta quarta-feira, 2 de novembro, várias escolas encerraram devido à adesão de professores e educadores, que mostram o desagrado contra a proposta do Orçamento do Estado para 2023. Uma realidade que leva ao descontentamento de milhares de professores portugueses e entre eles Fátima Esteves. A lecionar há 21 anos garante que a motivação “não é, de todo, a mesma” que tinha no início de carreira. “Quando estamos a meio da carreira e o vencimento é praticamente igual, a motivação não pode ser a mesma. E com gastos superiores”, frisa.

Em entrevista ao Jornal A VERDADE, confessa que sempre teve o “sonho” de ser professora, mas este ano foi “ao limite da frustração, da revolta, stress… Criamos uma perspectiva e organização de vida a quatro anos e no final de um ano temos de reformular tudo”.

O stress e falta de valorização revê-se dentro das salas de aula, com a violência que “tem aumentado ao longo dos anos. Acho que cada vez temos menos autoridade dentro da sala de aula e da escola. Já estive em escolas muito difíceis, em termos comportamentais, com crianças muito violentas e agressivas, tanto com os pares como com os professores e auxiliares. Cada vez mais temos crianças muito mimadas e com falta de atenção”.

No entanto, Fátima Esteves reconhece que, “no primeiro ciclo o respeito na sala de aula ainda existe, felizmente”.

Conciliar a carreira de professor com a vida familiar

Fátima Esteves e o marido são ambos professores e gerir a profissão com a gestão familiar “é muito difícil. No nosso caso obriga-nos a ter dois carros. Somos os dois professores e nunca sabemos para onde vamos, praticamente andamos sempre um para um lado e outro para outro”, afirma.

No seu caso, gerir a profissão com a maternidade é uma outra dificuldade, “porque não temos suporte familiar. Face ao nosso horário de trabalho, estamos todo o dia sem os ver”.

Ser professor é viver na “incerteza das colocações” e uma “grande angústia. A estabilidade do corpo docente devia ser uma prioridade”, frisa.

Principais problemas atuais da carreira de professor: “fraca remuneração”

Na perspectiva de Fátima Esteves, os principais problemas atuais da carreira de professor são “a fraca remuneração, principalmente quando o professor tem de ir trabalhar para longe e parte do vencimento fica na estrada”, garante. 

As viagens, e as horas que muitas implicam, “dificultam o bem-estar pessoal e familiar”, assim como a falta de progressão na carreira. “Tenho 21 anos de serviço e ainda estou no terceiro escalão. Os congelamentos impediram a progressão e as mudanças no estatuto reposicionaram mal os docentes com mais tempo de serviço. Vemos colegas em escalões superiores e com menos tempo de serviço, o que é injusto”.

Se hoje tivesse outra oportunidade de emprego, a professora responde prontamente: “mudaria, com certeza. Se estivesse na faculdade escolheria outro curso”.

Mas o cenário ideal seria o Governo “tomar consciência do valor do professor e tentar criar melhores condições e mais atratividade a profissão”, acrescenta.

Fátima Esteves é de Vila Real e está a morar em Lousada há 14 anos, mas só no ano letivo anterior conseguiu colocação no concelho. “Este ano tive de voltar a concorrer e fui colocada em Matosinhos, quando estava convencida de que não saía daqui nos próximos anos. Esta situação levou-me a uma pequena depressão e a tensão nervosa acumulada na coluna desencadeou uma dor ciática com lombalgia aguda. Neste momento estou em tratamento fisioterapêutico, além de fazer medicação”, conta.

“Aconselho aos jovens a nossa profissão, pois tenho a esperança que as coisas vão mudar”

Apesar de não estar feliz com a profissão, Fátima Esteves aconselha-a aos mais jovens, porque tem “a esperança que as coisas vão mudar. Que vamos ser valorizados como antigamente. Somos precisos, o ensino, a educação, a evolução do país precisa de professores. A educação é um princípio e um valor absoluto. Quando as crianças chegam ao primeiro ano sem saber ler e sem saber escrever e no final do ano já o fazem com tanta destreza…isso foi ensino de Mestre”, conclui.