A saúde mental ocupa, hoje, um espaço central nas discussões sobre o ambiente escolar. Este tema deixou de ser uma preocupação exclusiva do campo da psicologia ou da saúde pública para se tornar uma questão educacional essencial e urgente. Os últimos estudos realizados em Portugal concluem que cerca de 45% dos alunos apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. A escola, enquanto espaço de formação integral, precisa urgentemente de rever as suas prioridades para incluir o bem-estar emocional e psicológico dos seus alunos e professores, sob pena de comprometer o sucesso escolar e a construção de futuros cidadãos plenos.
O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de crescimento e aprendizagem, muitas vezes transforma-se num fator de ansiedade e angústia para muitos estudantes. Questões como a ansiedade, a depressão, a baixa autoestima e as dificuldades de relacionamento social afetam um número crescente de crianças e jovens. Este cenário tem causas variadas: exigências escolares excessivas, planos curriculares muito longos, horários sobrecarregados, falta de apoio emocional e psicológico, bullying, instabilidade familiar e, mais recentemente, os impactos psicológicos de uma dependência excessiva da aparência para uma afirmação social.
Os reflexos destes problemas são visíveis no rendimento escolar, na participação social e, em casos mais graves, no abandono precoce da escola. Alunos com dificuldades emocionais frequentemente encontram barreiras adicionais no seu percurso educativo, o que perpetua ciclos de desigualdade e limita o seu potencial.
A identificação precoce de alunos em situação de vulnerabilidade emocional e psicológica é essencial para evitar que pequenas dificuldades evoluam para problemas mais graves. Contudo, esta identificação exige uma abordagem personalizada, com equipas preparadas para compreender as especificidades de cada aluno e aluna.
Atualmente, muitos alunos permanecem invisíveis, sem que os seus sinais de sofrimento sejam percebidos ou, quando o são, sem que haja recursos disponíveis para os encaminhar e acompanhar adequadamente, também nas escolas.
Um acompanhamento mais próximo, seja no campo da orientação vocacional, seja na área do acompanhamento por parte da psicologia clínica, pode transformar positivamente a experiência escolar destes jovens. A orientação vocacional, por exemplo, ajuda os estudantes a encontrar caminhos que alinhem os seus interesses e capacidades com as oportunidades futuras. Já o suporte clínico é crucial para lidar com transtornos mais complexos, como a ansiedade, a depressão, as perturbações alimentares e outros problemas emocionais que interferem diretamente na aprendizagem e no desenvolvimento humano e social.
Um dos principais entraves para implementar essa abordagem mais personalizada é a insuficiência de recursos humanos nas escolas, a falta de psicólogos. O número de psicólogos disponíveis é claramente inadequado face às necessidades da comunidade escolar. Além disso, a falta de equipas multidisciplinares verdadeiramente capacitadas que integrem profissionais especializados em saúde mental, orientação educacional e assistência social torna o sistema ineficaz em responder à amplitude e complexidade dos problemas apresentados.
É imprescindível um reforço significativo do número de psicólogos nas escolas. Estes profissionais devem ser parte integrante da estrutura educativa, não apenas para atuar em momentos de crise, mas também para implementar estratégias preventivas que promovam o bem-estar emocional de toda a comunidade escolar. Equipas multidisciplinares bem estruturadas podem, por sua vez, complementar este trabalho, atuando de forma coordenada para oferecer um suporte amplo, integrado e uma real inserção social
Repensar o papel das escolas na promoção da saúde mental é uma questão que exige ação imediata. Investir em recursos humanos, garantir formações específicas para diretores, professores, auxiliares e alunos e implementar programas de educação socioemocional são passos cruciais para transformar as escolas em espaços verdadeiramente inclusivos e saudáveis. Aqueles que exercem funções governativas têm, urgentemente, de conhecer a realidade das escolas para estabelecer as suas prioridades.
Permitam-me reforçar a ideia de que a saúde mental não é um luxo, mas uma necessidade básica. Ignorá-la compromete não apenas o desempenho escolar, mas também o desenvolvimento humano e social de alunos e professores. Uma escola que prioriza o bem-estar emocional é uma escola que forma cidadãos mais conscientes, resilientes e capazes de construir um futuro melhor. Chegou o momento de olhar para
este problema, de encarar esta responsabilidade e agir com a urgência que o tema exige. Precisamos de olhar para a saúde mental de toda a comunidade escolar, professores, auxiliares e alunos, e precisamos de mais psicólogos nas escolas.
Artigo do professor João Soares