Depois de 14 épocas consecutivas a envergar a camisola da Associação Recreativa e Cultural de Alpendorada (ARCA) em diversos escalões, Sara Brás vai vestir pela primeira vez a pele de adversária do emblema do concelho de Marco de Canaveses
A andebolista, de 24 anos, deixou o clube de Alpendorada no último verão e transferiu-se para o São Pedro Sul. As duas equipas vão agora defrontar-se, no sábado, 30 de setembro, às 17:00, na casa do conjunto sampedrense, para a 4.ª jornada do campeonato nacional da 1.ª divisão em andebol feminino.
Sara Brás, que cumpriu todas as etapas de formação na ARCA, desde infantis até juniores, e esteve seis temporadas ao serviço da equipa sénior, confessa que está a experimentar "um misto de emoções. É um sentimento que acho que nunca senti, porque nunca tinha acontecido antes. Estou um pouco nervosa, porque vou defrontar pessoas que já treinei, pessoas com quem treinei. Acho que agora não consigo pensar bem, mas claro que o coração tem sempre um bocadinho de ARCA lá dentro e acho que é no momento que vou descobrir o que é que vou sentir verdadeiramente", afirmou.

Depois de 14 temporadas consecutivas, de quase 550 jogos oficiais e mais de 4000 golos apontados ao serviço da ARCA, Sara Brás decidiu no iniciou desta temporada rumar a São Pedro Sul. A atleta confessa que foi uma opção "muito difícil" de tomar, mas justifica que o fez por entender que o emblema alpendoradense já não conseguiria acompanhar as suas ambições a nível desportivo. "Foram diversos motivos que originaram a minha saída, mas acho que o principal, e o que teve mais peso, foi o facto do clube já não ter os mesmos objetivos que eu, desportivamente. Decidi seguir aquilo que achei que era melhor para mim, porque acho que se continuasse no clube não ia ser realmente feliz, por isso decidi que era melhor aceitar outro projeto que ia ao encontro dos meus objetivos", adiantou, acrescentando que a adaptação ao novo clube está a ser boa.
"Achava que esta mudança ia ser pior, mas está a ser uma coisa muito natural. Estou a gostar bastante, toda a gente me recebeu de braços abertos e isso faz totalmente a diferença. É uma equipa com muitos objetivos e vamos tentar lutar pelo título. Sinto-me muito bem e realizada, até ao momento", garantiu.
Para São Pedro Sul, para além de Sara Brás, seguiram mais duas atletas do plantel da ARCA da época passada: Rebeca Freitas e Mariana Fagundes. Contudo, a razia no clube de Alpendorada foi bem maior. Leonor Gonçalves e Angela Pessoa rumaram ao Almeida Garrett; Mariana Almeida para o CA Leça; Beatriz Figueiredo para a Juve Lis; Mariana Ramada e Filipe Soares para o Colégio Gaia e Rita Guimarães, uma das maiores promessas do andebol feminino nacional, para o ABC de Braga. Uma profunda reestruturação do plantel, que é justificada com uma maior aposta em jovens jogadoras da formação.
Sara Brás – que até tem uma irmã, Filipa Brás, internacional sub-17, a representar as cores da ARCA – entende a opção dos dirigentes do emblema alpendoradense, mas teme que a esta mudança de paradigma esteja a ser feita demasiado depressa. "Sei que a ARCA quer apostar na formação sem uma base experiente. É muito difícil conseguirmos pegar numa equipa de jovens e fazê-las crescer numa primeira divisão, porque as miúdas não estão habituadas ao rigor, à disciplina e à exigência de uma primeira divisão, que é um bocadinho maior do que os campeonatos abaixo e precisam ali de pessoas mais experientes", considerou.
Até agora, em duas jornadas, a ARCA sofreu duas derrotas, com o SIR 1ª Maio e o Almeida Garrett, ambas por 15 golos de diferença. "Espero que corra tudo bem, porque não desejo mal a ninguém, mas a verdade é que, ultimamente, os resultados não estão a correr muito bem. Desejo a maior da sorte, porque a ARCA continua a ser o clube do meu coração e irá ser sempre. Tenho lá também a minha irmã a jogar, por isso espero que as coisas comecem a correr melhor e que elas consigam evoluir", observou Sara Brás.
A atleta, natural de Alpendorada, tem sido também presença assídua nas convocatórias da seleção portuguesa de andebol de praia. "Descobri essa nova paixão mais ou menos há dois anos e é muito bom ver o crescimento que estamos a ter na modalidade. Ser chamada à seleção também me deixa muito feliz. Tivemos o Europeu, depois tivemos os Jogos Europeus, na Polónia, fomos agora aos Jogos do Mediterrâneo e conseguimos uma medalha de bronze. Isso é muito bom, fazer a modalidade crescer e conseguirmos sempre ir mais longe", concluiu.