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À semelhança da puberdade e da menopausa, a gravidez é uma crise de desenvolvimento, constituindo um ponto de não-retorno. A gravidez acompanha-se de profundas alterações a nível físico, psicológico e social, a que corresponde um esforço suplementar para a mulher se adaptar às novas tarefas.

A psicologia da mulher grávida compreende uma adaptação às transformações corporais, ao filho em gestação, ao aumento da vulnerabilidade resultante da regressão psicológica na gravidez e à expectativa ansiosa perante o parto e o futuro.

Por outro lado, existe um risco da “romantização” da gravidez – a gravidez e o nascimento de um filho tendem a ser vistos como um período de bem-estar para a mulher e para a sua família. A gravidez está também associada a risco acrescido de início e recorrência de perturbações mentais – um risco que é mais elevado do que noutros períodos da vida da mulher. Uma em cada 5 mulheres desenvolve problemas de saúde mental na gravidez ou no primeiro ano pós-parto, mas apenas 7% das mulheres que experienciaram problemas de saúde mental foram referenciadas para cuidado especializado. Em muitos casos, os profissionais de saúde não perguntam sobre o bem-estar emocional das mulheres no período perinatal e muitas mulheres sentem receio em falar dos seus problemas emocionais neste período.

Cerca de 54% das mulheres apresentam ansiedade pré-natal, pelo menos num dos trimestres da gravidez. Os níveis de ansiedade materna parecem ser mais elevados no primeiro e no terceiro trimestre de gravidez.

Apesar da sintomatologia de ansiedade durante a gravidez não ser distinta da ansiedade “normal”, parece existir uma dimensão de ansiedade específica da gravidez (medo do parto, medo de ter uma criança com problemas de saúde, preocupação acerca da aparência física).

Por outro lado, os estudos sugerem uma prevalência de sintomas depressivos de cerca de 7% no primeiro trimestre, subindo para 12,8% no segundo e terceiro trimestres.

A depressão durante a gravidez é subdiagnosticada pois os sintomas somáticos da depressão podem ser atribuídos de forma errónea à gravidez. Por outro lado, a depressão na gravidez é um percursor significativo da Depressão Pós-Parto. 

A Depressão Pós-Parto é a situação clínica mais comum no período pós-parto (10-15% das mulheres); a maior parte das mulheres desenvolve sintomas nos 3-4 primeiros meses pós-parto, havendo um segundo pico de incidência entre os 7-8 meses pós-parto.

A deteção precoce das mulheres em risco e com sintomas de depressão e ansiedade no período perinatal pode ser essencial para mitigar as consequências negativas destas perturbações na mãe e no bebé. Cuidar da saúde mental materna é melhorar a saúde da sociedade atual e futura!

Bruno Miguel Ligeiro Ribeiro
Psiquiatra da Santa Casa da Misericórdia do Marco de Canaveses