A perturbação do sono representa uma problemática comum na população geriátrica, com marcado impacto e implicações no seu funcionamento e qualidade de vida. Cerca de 40% dos adultos sofrem de insónia, apresentando dificuldades em adormecer, despertares noturnos ou precoces e sensação de sono não reparador.
Se na verdade o padrão de sono se modifica com o envelhecimento normal, a sua desregulação afeta, não apenas a qualidade de vida do idoso e o risco de acidentes e quedas, mas também o cuidador cujo burnout conduz em muitas situaçõesà institucionalização da pessoa mais velha.
Existem vários fatores que podem afetar o sono dos idosos. Entre estes, destacam-se doenças neuropsiquiátricas como a depressão, o luto, as doenças de Alzheimer ou de Parkinson ou outras doenças ou condições médicas: a dor crónica, a doença pulmonar obstrutiva crónica, doenças cerebrovasculares, a obstipação, o refluxo gastroesofágico, incontinência urinária e nictúria. Ademais, alguns dos fármacos mais comumente utilizados podem ter efeitos estimulantes ou sedativos com impacto no normal ciclo sono-vigília (como corticóides, hormonas tiroideias, broncodilatadores, psicofármacos,etc).
A avaliação das queixas relacionadas com o sono realiza-se em ambiente de consulta, através de uma história clínica detalhada, que incidirá não apenas na avaliação das caraterísticas do sono, mas também, em eventuais condições médicas, psiquiátricas ou ambientais que possam esclarecer a origem da perturbação do sono. Em casos específicos, pode ainda ser efetuado um complemento de estudo através da realização de análises dirigidas ou estudo do sono por polissonografia.
O tratamento da perturbação do sono no idoso deverá ser dirigida à causa subjacente (quando identificável). O tratamento poderá ser não farmacológico (mudanças de hábitos e melhoria da higiene do sono através da psicoeducação sobre o sono, resolução de conflitos com impacto emocional, técnicas de relaxamento) ou farmacológico, sempre que o primeiro for ineficaz, por tempo limitado, e em complementaridade com o tratamento não farmacológico.
Bruno Miguel Ligeiro Ribeiro
Psiquiatra da Santa Casa da Misericórdia do Marco de Canaveses