Os primeiros anos de vida são fundamentais para o Neurodesenvolvimento. É a fase mais importante do Experienciar, crucial para o desenvolvimento cognitivo, motor e emocional adequados. Mas não é tarefa fácil na sociedade apressada dos nossos dias e imersa na era digital. Já é sabido que o maior tempo de exposição aos ecrãs e o conteúdo inadequado podem afetar negativamente o neurodesenvolvimento, incluindo a linguagem, a interação social, o processamento sensorial, o comportamento e as funções executivas.O impacto é maior em crianças com perturbações do neurodesenvolvimento.
A utilização de ecrãs nos primeiros anos de vida, ao tirar tempo para contacto social, tempo para a brincadeira livre e imaginativa e tempo e qualidade ao sono, leva a atrasos da linguagem e de outras áreas do neurodesenvolvimento. Temos cada vez mais crianças que ouvem falar menos, ouvem menos histórias, veêm menos livros, brincam menos com os pares, com brinquedos e ao ar livre e não dormem o suficiente. Experienciam menos e por isso treinam menos a comunicação, a relação social, a atenção, as habilidades motoras finas e grosseiras e sensoriais e têm menos capacidade de concentração e mais instabilidade emocional.
Por outro lado, também sabemos que os ecrãs podem ser um grande aliado, um instrumento poderoso de aprendizagem e de brincadeira desde que utilizado de forma correta, com conteúdo criterioso e com tempos ajustados a cada idade. Assim aconselho vivamente a adotarem e a promoverem o uso recreativo consciente de ecrãs.
Sugiro a adoção das medidas propostas pela Academia Americana de Pediatria. Para crianças até aos 18 meses evitar uso de ecrãs com a exceção de chamadas de vídeo para família e amigos. Se os pais de crianças entre os 18 e os 24 meses optarem pelo uso de ecrãs, devem escolher programas de boa qualidade e visioná-los em conjunto para ajudar a compreender o que veem. Entre os 2 e 5 anos limitar o uso recreativo de ecrãs a 1 hora por dia com programas/atividades de boa qualidade.
Para crianças de 6 ou mais anos, aconselha-se a estabelecer limites consistentes e adequados do uso recreativo de ecrãs. Adotar,em família, tempos sem ecrãs (ex. refeições, saídas ao ar livre) e locais livres de ecrãs, como os quartos de dormir.
E o maior desafio é dar o exemplo…
Leonilde Machado
Assistente Graduada de Pediatria, Pediatra do
Neurodesenvolvimento no Serviço de Pediatria e
Neonatologia da ULS Tâmega e Sousa, E.P.E.
Pediatra na Santa Casa de Misericórdia do
Marco de Canaveses