A esperança de vida (número médio de anos que uma pessoa à nascença pode esperar viver) tem vindo a aumentar, desde há cerca 60 anos. Em 1960, a esperança de vida média em Portugal era, no sexo masculino, de 60,7 anos e no feminino 66,4 anos; em 2020 de 77,7 anos e 83,4 anos respetivamente. As pessoas vivem mais anos com maior qualidade de vida, dependendo das condições de vida, higiene e cuidados de saúde. Se é verdade que tal representa uma vida mais longa e com qualidade, isso também se deve ao esforço dos próprios, famílias e Instituições quanto aos investimentos e aos custos inerentes à vida de cada um. Tal facto necessita um planeamento, sobretudo tendo em conta que as pessoas deixam de ter vida ativa, reformam-se e em regra a sua capacidade de auto sustento é inferior aos anos em que trabalhavam.
Em Portugal (2019) a população residente, com 65 anos ou mais, rondava os 2 262 326, sendo que deste número 668 660 tinham 80 anos ou mais. Com o prolongamento da vida são maiores os problemas de saúde e doenças crónicas passam a fazer parte da vida de todos, como é a diabetes, hipertensão arterial, problemas osteoarticulares, doenças neurológicas (demências, doença de Alzheimer, doença de Parkinson e sequelas de AVC), além das doenças de saúde mental. Esta comorbilidade associa-se à necessidade de cuidados de saúde acrescidos e à perda de autonomia. Este último aspeto é fator de relevância pois aumentam as ajudas que necessita, seja na dependência de terceiros para as atividades da vida diária, seja no esforço que a família tem que realizar para manter a qualidade/dignidade que se pretende para o resto da vida.
Alguns exemplos, de perda de autonomia e dependência, que aumentam o investimento e os custos das famílias, com os quais nos deparamos todos os dias, como é caso da Doença de Alzheimer em que a perda da capacidade cognitiva, para a qual não existe, de momento, cura, e os cuidados passam por medicação que ajuda a atrasar a progressão da doença, e que o apoio de terceira pessoa é essencial. Com este problema de saúde as pessoas têm, atualmente, em média 10 anos de vida, mas fruto das ajudas e cuidados, o doente pode viver cerca de 20 anos. Com a Doença de Parkinson em média o paciente tem uma esperança de vida entre 10-20 anos. Os AVC, que dependendo das sequelas neurológicas que provoquem, e em consequência dos cuidados que hoje em dia se dispõe, a esperança de vida passou para 10-13 anos. Todos estes aspetos são importantes na vida de cada um, mas o investimento que tem de ser feito é considerável. Pegando nas patologias mencionadas, um doente que esteja acamado, alimentado por sonda nasogástrica, com cuidados para prevenir úlceras de pressão, com medicação e outros cuidados fisioterapêuticos, o investimento–custo poderá ultrapassar os 1500 euros mensais. A esperança de vida traduz um padrão de qualidade, de evolução civilizacional, mas tem de ser bem alicerçada, na medida do possível planeada e organizada, não só por cada um de nós, pelas nossas famílias, mas também pelas Instituições (públicas e privadas) e por quem ocupa lugares de decisão e responsabilidade.
Miguel Carvalho
Médico de Medicina Geral e Familiar na Santa Casa da Misericórdia de Canaveses