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Sandra Sousa fez a primeira doação de sangue: "O exemplo começa nos profissionais de saúde"

Redação

"Hoje dei sangue pela primeira vez. Estou muito feliz". Foram as palavras de "satisfação" de Sandra Sousa, que no dia 30 de janeiro fez a primeira doação de sangue. Natural de Lousada, a médica de 47 anos "nunca" tinha sido dadora de sangue, devido à "hipotensão. Tinha uma tensão de passarinho e nunca conseguia cumprir os critérios para poder dar sangue", até que surgiu a oportunidade. "Faltava-me uma dádiva que fosse do grupo A e pensei 'vou tentar ver como está a minha tensão hoje'. Pedi à enfermeira para medir e estava compatível com dádiva. E foi assim que consegui". conta.

Na primeira dádiva, Sandra Sousa sentiu uma "satisfação enorme", que "nem dá explicar. Fiquei mesmo muito feliz. Depois de fazer a dádiva partilhei logo com uma amiga, de 80 anos, que sempre foi dadora e sempre me falou disso com muita satisfação. Disse-lhe que consegui sentir o mesmo que ela".

Acho que não é significativo o tempo, dada a satisfação que se sente

Atualmente, Sandra Sousa é diretora de serviço de imuno-hemoterapiada ULS do Médio Tejo e reconhece que, dada a escassez de doações de sangue, o exemplo "pode começar nos profissionais de saúde", mas considera, também, que ainda existem "muitos mitos e medos associados. Por exemplo, há pessoas que pensam que pelo facto de terem uma tatuagem não podem dar e é possível, desde que se passe quatro meses entre ter feito a tatuagem e ir dar sangue. Outros como estar com o período. É possível, se a hemoglobina não desceu muito. E, depois, há medos .. de correr mal, medo das agulhas ...".

Combater estes mitos e medos "cabe a cada um de nós", que "devemos perceber que o tempo de uma dádiva não é significativo, dada a satisfação que se sente. Cinco minutos da nossa vida podem salvar uma vida inteira de uma pessoa", reforça.

A médica alerta para a necessidade de haver dádivas "todos os dias"

De acordo com a médica, os primeiros meses do ano "registam um menor número de dádivas" e, segundo números do Instituto Português de Sangue e da Transplantação (IPST), a nível nacional, em 2024, "houve falta de sangue durante quase todo o ano, embora se registe alturas mais críticas do que outras e tem havido uma diminuição no número de doadores".

Sandra Sousa recorda que "é preciso haver dádivas todos os dias, não só no Natal, no verão ou inverno, porque o sangue tem validade. Mesmo que exista, se não for 'gasto' por não ter havido necessidade acaba ao prazo". Por isso, é "importante" que seja "algo diário, principalmente para as plaquetas que têm uma validade ainda mais curta. Os concentrados de eritrócitos têm uma validade de 42 dias, mas as plaquetas têm validade de cinco. Temos de estar sempre a produzir, porque há doentes que dependem de transfusões de plaquetas".

"Escolhi medicina, porque achei que ia gostar de ajudar outras pessoas"

A médica lousadense "nunca soube que profissão queria exercer", mas na escolha da área a seguir, no 10.º ano, "sabia que gostava muito de matemática e química". Escolheu a área "conforme as disciplinas" e na decisão do curso a seguir na faculdade voltou a surgir a dúvida. "Questionei a família e o meu pai sempre disse 'tu vais escolher o que tu quiseres'. Já o meu avô materno dizia 'tu devias ser engenheira, tens muito jeito com os trabalhos manuais'. A verdade é que escolhi medicina, porque achei que ia gostar de ajudar outras pessoas", confessa.

Médica desde 2006, Sandra Sousa sente que fez "a escolha certa" e a certeza estende-se, também, à especialidade. "A minha especialidade é a imuno-hemoterapia, com a qual temos muito pouco contacto durante a faculdade. Eu tive oportunidade de contactar com a mesma por um acaso, ou não. Nos últimos anos de faculdade, em que temos contacto com a área clínica, eu estava numa enfermaria de medicina e estava responsável por uma doente jovem que tinha tido um AVC e não sabíamos a causa. Enviamos para o serviço amostras de sangue para serem estudadas e para percebermos se havia algum fator genético ou adquirido que tivesse conduzido a essa trombose. Foi aí que tive contacto com a especialidade e achei muito interessante. Foi essa especialidade que escolhi e que adoro".

Devia haver um apelo nas escolas secundárias e faculdades

Dada a "diminuição" de dádivas, a médica e dadora de sangue considera "devia haver um apelo nas escolas secundárias e faculdades. Em 2024, e em relação a 2023, tivemos muito menos dadores entre os 18 e os 24 anos". Esta é a faixa etária que "menos doa" e poderá estar associados aos fatores de risco a que está exposta. "Percebi isso quando trabalhava em Évora e íamos colher sangue à faculdade. É a idade em que temos um parceiro sexual e, entretanto, temos outro e, nas dádivas de sangue, tem de haver um período mínimo de três meses entre o primeiro contacto sexual com um novo parceiro e a dádiva. Existe um período de janela em que os equipamentos não detectam as doenças e, às vezes, havia suspensões por esse motivo", explica.

Recorde-se que para ser dador de sangue precisa de ter pelo menos 50kg, idade igual ou superior a 18 anos (as pessoas candidatas com 17 anos podem fazê-lo mediante consentimento dos pais e/ou em caso de emancipação por casamento de acordo com o estabelecido por lei) e ser saudável.

Se pretender esclarecer outras dúvidas pode visitar o site do IPST.