A 29 de junho, Renato Gaspar, presidente e treinador do Penafiel Bike Clube, foi eleito delegado da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) e terá pela frente a missão de representar os clubes do distrito do Porto, nos próximos quatro anos.
Consciente da “importância” da eleição para o “desenvolvimento da modalidade”, o penafidelense será a “voz dos clubes da região“, abraçando o papel de “identificar os problemas e apresentar soluções”.
Renato Gaspar não tem dúvidas em afirmar que, “na região do Vale do Sousa e arredores, a modalidade está muito em baixo” e vai mais além: “em Penafiel o conceito de ciclismo é quase zero. Atletas penafidelenses profissionais temos dois ou três, enquanto que em Barcelos, por exemplo, existem mais de dez“.
Em Penafiel o conceito de ciclismo é quase zero
O treinador de ciclismo explica o cenário “pelo trabalho que é realizado pelos clubes de ciclismo” e garante que é preciso “ir junto da comunidade, dos meios políticos, para sensibilizar e fazer com que o ciclismo cresça. Dou o exemplo das escolas do município de Lousada. As crianças do 1.º ao 4.º anos têm aulas de ciclismo, todos os dias. Não há outro município, por aqui, que aposte nisso”.
Renato Gaspar aponta críticas, também, à “falta de infraestruturas”, como a inexistência de “um circuito de iniciação ao ciclismo”, carência que “dificulta muito a captação de miúdos”.
Enquanto delegado da FPC, o penafidelense frisa que “alguma coisa vai ter de mudar” e apresenta as “lutas” que levaram até ao cargo. “É preciso fazer mais: criar condições, chegar aos municípios, apresentar propostas para criar infraestruturas, chegar às escolas de ciclismo e incentivá-las a criar atividades. Se fizermos isso, já é um grande passo”.
Um outro objetivo passa pela “certificação dos clubes” e Renato Gaspar propõe a “avaliação de 1 a 5 estrelas”, um método já usado pela Federação Portuguesa de Futebol. “Esses requisitos fazem com que os clubes criem mais dinâmica e queiram subir de escalão. Já a nível municipal ia trazer muito mais transparência, como na atribuição de subsídios. Uma escola que existe há 10 anos, tem 40 atletas, sete ou oito treinadores não pode ser discriminada por existir outra escola com 30 anos e com um historial grande, que recebe quatro vezes mais. Esses critérios não podem existir, mas não é só no ciclismo. Há muito trabalho a fazer”, sublinha.
Em 2015, criou o Penafiel Bike Clube
Quando era miúdo, Renato Gaspar gostava “muito” de andar de bicicleta e chegou a fazer provas, mas, “por razões familiares”, não conseguiu continuar. Entretanto, casou e voltou à modalidade como atleta federado. Tirou um curso em fisioterapia e dividia a rotina “entre as duas coisas, trabalho e competição”. Mais tarde, abriu uma loja de bicicletas, em Penafiel. “Desde 2000 que estou ligado ao ciclismo. Começou há muito tempo como atleta, cheguei a estar cinco anos fora do país a trabalhar com equipas estrangeiras e continuei de outras formas”.
Em 2015, surge um outro projeto na vida do penafidelense – o Penafiel Bike Clube -, a primeira escola de BTT da região. “Sempre tive a paixão pelo ciclismo e o meu filho acabou por herdar isso. Eu já era treinador de ciclismo e como não havia nenhuma escola perto, eu e mais dois amigos decidimos dar início ao projeto”, recorda.
Atualmente, já existem mais e “ainda bem”, diz com orgulho Renato Gaspar que, desde 2015 tem orientado um projeto que tem sido “uma luta. Temos tido atletas na seleção nacional de BTT, nunca nenhum atleta tinha sido convocado; tivemos uma atleta na seleção de estrada feminina; fomos a quinta melhor equipa de BTT a nível de competição, com duas categorias. Portanto, nota-se que há matéria prima e conhecimento técnico, mas é preciso é haver vontade política para criar condições. A nossa zona tem potencial, tem de haver incentivo político”, reconhece.
Estamos sempre à procura de soluções para bem da modalidade
Conciliar todos os projetos que tem em mãos “não é fácil”, mas o delegado conta com a “ajuda da esposa” e afirma que “se for tudo muito bem organizado, acaba por funcionar. Como se costuma dizer ‘quem corre por gosto não se cansa'”.
Para além de delegado, Renato Gaspar vai exercer funções como staff técnico da Equipa Profissional de Ciclismo ABTF Betão / Feirense, que estará presente na Volta a Portugal 2024. Mas, enquanto delegado, sabe que tem pela frente “uma responsabilidade” e a vontade de “procurar soluções para o bem da modalidade e é isso que importa. Tem de haver uma maior preocupação para com o ciclismo. Existem ideias, é preciso haver vontade política para as concretizar”, finaliza.