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Raquel Pereira, natural do Marco de Canaveses, viveu 14 anos num casamento marcado pela violência física e psicológica.

Em 2019 a presidência do conselho de ministros declarou o dia 7 de março como o Dia do Luto Nacional em homenagem às vítimas de violência doméstica e às suas famílias. Hoje, são muitas as histórias de violência que chegam até nós e que, algumas vezes, não terminam da melhor forma. 

Raquel Pereira apresenta um testemunho de esperança de uma mulher que conseguiu pôr fim a um casamento violento de 14 anos e seguir em frente com os seus dois filhos.

O facto de ser “muito nova” foi uma das razões apontadas por Raquel Pereira para o início da violência após o primeiro ano de relação. “Tinha apenas 19 anos e não consegui perceber com nitidez que do outro lado já havia uma certa violência na forma de ele ser”, confessa.

As agressões começaram ainda “antes de ser mãe” e hoje, o distanciamento temporal permite-lhe perceber que estava perante um homem violento. Os primeiros sinais foram interpretados como “ciúmes, carinho e cuidado, mas que na realidade não eram”. O companheiro de Raquel Pereira estava sempre perto dela, acompanhava-a em todos os momentos, o que “já seria uma forma de controlar”, mas entendeu “como uma forma de demonstrar o amor, que claramente não era”.

A violência foi “escalando” com o passar do tempo e acentuada com uma situação de doença do filho que viria a falecer. Um momento em que deixou de “ter controlo” na relação porque estava “mais envolvida na doença do que no casamento”. A adição do marido ao álcool foi “sem dúvida um dos fatores que potencializou a agressividade” de um homem para quem a violência era “um dado consumado na família e vivida naturalmente”.

Da família, Raquel Pereira tentou sempre esconder o que se ia passando na sua vida “até não ter mais onde fugir”. Evitava contactos para que “não percebessem” ou para que não fosse confrontada com perguntas.

As tentativas para sair do pesadelo foram várias, “cerca de quatro vezes”. Raquel Pereira tinha consciência de que não estava a viver uma situação “normal”, mas o “receio” travava a saída definitiva. Um dia percebeu que a violência com os filhos, que assistiam às agressões, “era maior” do que com ela própria e foi aí que decidiu colocar um ponto final.

2016 foi um ano de viragem para Raquel Pereira que, ao fim de 14 anos, decidiu pôr fim a um casamento de violência “física e psicológica”. Foi um reformular de toda a sua vida conseguido com um “apoio excecional da família e dos amigos, mas também do NIAVE, um núcleo de investigação e apoio à vítima, que foi sem dúvida crucial e diferenciador no processo”, salienta.

A “estabilidade emocional” é hoje o “mais importante” para Raquel Pereira que se sente “feliz” por ver os seus filhos “com sucesso e bem integrados na escola”. As portas do amor não estão fechadas mas aos 39 anos optou por se focar no “bem-estar dos filhos que precisam de estabilidade”.

Tal como Raquel Pereira, existem muitos jovens e adultos que não percebem as relações “violentas” que vivem. A todas as vítimas que partilham a mesma história, Raquel Pereira pede que “ganhem coragem“, se apoiem em sítios seguros e procurem pessoas que realmente as possam ajudar. “Não é um processo fácil. Sair de casa, ir aos tribunais para expor a história. Mas por mais difícil que seja, vale sempre a pena. Vale por nós e pelos que estão à nossa volta”.

Mais importante do que dar a conhecer histórias de vítimas que conseguiram ultrapassar, para esta mulher é dar a conhecer as entidades que as ajudam. Hoje, podem ler a história de uma mulher que sabe que “por mais que tenha sido difícil ou que ainda possa vir a ser”, a estabilidade e o bem estar que dá hoje aos seus filhos “vale por todos os sacrifícios e todas as noites mal dormidas“.