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Esta segunda-feira, dia 30 de maio, assinala-se o Dia Mundial da Esclerose Múltipla. Uma doença com a qual se convive “um dia de cada vez”, como explica Carlos Correia. Aos 18 anos, o diagnóstico mudou a sua vida e hoje destaca o apoio familiar como “fundamental” para conseguir ultrapassar todos os obstáculos associados.

O primeiro alarme soou numa ida à praia com os amigos. Tinha 17 anos e, quando uma onda veio, ia atirar-se, mas “a onda já tinha rebentado” e teve “dificuldades” em levantar-se. Todos riram, incluindo Carlos Correia, mas percebeu “que algo estava a acontecer”. Chegou a casa e contou aos pais, que o levaram a uma médica. “Ela disse logo: «O Carlos tem uma situação grave!»”, lembra.

Passou pelo médico de família e fez uma ressonância magnética e uma punção lombar, que lhe deu o diagnóstico: Esclerose múltipla. Esta é uma doença crónica, autoimune, inflamatória e degenerativa, que afeta o Sistema Nervoso Central.

“Eu nem sabia o que era, nunca tinha ouvido falar. Na altura, sabia que era algo de grave, mas nunca imaginaria que fosse uma coisa assim. Pensava que era curável, mas não é”, afirma, explicando que, após cerca de três anos teve um surto “muito grande” e quase deixou de andar. Recuperou e “andava bem, dentro dos possíveis”.

Carlos Correia precisava “de apoio para subir as escadas” e eram os pais e as três irmãs que o ajudavam, nos primeiros dois/três anos da doença. “Com a esclerose múltipla, não conseguimos viver sem um bom conceito de família, um bom apoio. Tenho os meus pais e tenho três irmãs, que também são incansáveis comigo. Tenho uma filha, que, apesar de ter 11 anos, é uma pessoa que me ajuda. Tenho uma esposa que é minha amiga”, conta, referindo que “um bom apoio familiar ajuda” a ultrapassar o impacto psicológico negativo que a esclerose múltipla provoca.

“Tanto a minha esposa como a minha filha gostam que eu esteja sempre com elas, então, ando num carrinho de rodas para as conseguir acompanhar”, exemplifica, referindo que, assim, pode ir, em família, ao shopping, de férias e a vários outros locais.

O marcoense chegou a trabalhar como eletricista durante cerca de cinco anos, mas, depois, fundou uma empresa de materiais de construção, juntamente com uma das irmãs, porque não queria que o tratassem “como um doente, um deficiente”. No entanto, há aproximadamente sete anos, voltou a ter um surto, que o “deitou muito abaixo” e fez com que se retirasse da empresa.

“Acho que foi o período mais complicado da minha vida, porque tive depressão, sentia-me amarrado… Nessa altura, a minha filha e a minha esposa tiveram um papel fundamental mesmo porque ajudaram me. A minha esposa, com a força que teve, foi incalculável, ajudou-me mesmo muito, como me ajuda hoje no dia a dia, porque ela sabe que tenho as dificuldades que tenho”, continua, sublinhando também o apoio dos amigos.

A esclerose múltipla afetou mais os membros, quer superiores, quer inferiores, de Carlos Correia, bem como a parte cognitiva e verbal. Memorizar algo, ler um livro ou ver um filme com legendas são tarefas complicadas. “Eu modifiquei completamente”, afirma, explicando que consegue, contudo, fazer a sua higiene pessoal sozinho, na sua casa de banho adaptada. Além disso, “dizem que é uma doença com mil caras”, porque “hoje, por exemplo, doem as pernas, passada uma hora, já é outro sintoma”.

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Atualmente, faz uma injeção mensal “para não progredir a doença”, medicamento este que integra um estudo da Pfizer. Faz ainda fisioterapia, pilates e integra a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla e sublinha que tem muito a agradecer aos profissionais que o acompanham.

Não pode trabalhar, mas os seus dias são sempre preenchidos. A filha brinca que o pai é o seu “motorista”. “Sou eu que a levo para a escola, que a vou buscar, que a levo para o Inglês, para a dança… Ocupa-me o tempo e ajuda. Depois, ela está em casa, está a estudar e eu gosto de estar a acompanhá-la, gosto de estar presente”, reforça, dizendo que gosta de “acompanhar o crescimento” da filha. “Não pego nela ao colo, acho que só o fiz três ou quatro vezes quando ela era pequenina, porque não tinha força. Mas tento dar um amor, um apoio presencial”, acrescenta.

“Deus pode ter-me tirado muita coisa, mas deu-me uma filha que é tão amorosa, tão amiga do pai. Isso acho que não há nada que possa substituir. Tirou-me força, tirou-me muita coisa, mas também me deu uma esposa fabulosa, uma amiga. Somos três em casa que, apesar de ter as dificuldades que temos, a saúde não ajudar, é um relacionamento muito bom”, ressalva, recordando que a doença também fez com que soubesse quem era mesmo seu amigo e estava do seu lado.

“Com esta doença, é mesmo um dia de cada vez porque nós, verdadeiramente, não sabemos o dia de amanhã. Quando temos o diagnóstico, pensamos que o mundo caiu sobre nós, mas uma pessoa tem que ir buscar as suas forças. O apoio familiar é fundamental. Precisamos de alguém para nos apoiar e viver um dia de cada vez, mas tentar ter um sorriso porque, sem um sorriso, pioramos constantemente. Temos que ser lutadores para conseguirmos ultrapassar. Forte não é não sentir a dor, porque a dor está sempre connosco, forte é seguir em frente com a mesma”, remata.