Com duas filhas e uma família “completamente estruturada”, Ana Ferreira e o marido decidiram abraçar o desafio da adoção, um tema já abordado ainda na fase de namoro. “Planeávamos o nosso futuro e fazia parte dos nossos planos ter filhos biológicos e adotivos“.
E assim foi, com duas filhas pequenas decidiram iniciar o processo e, em família, foram abordando o tema com “regularidade”, que, mais tarde, durante uma caminhada em família pela serra, se tornou um assunto “mais sério“.
Uma família “feliz, que tinha tudo”, mas a adoção da terceira filha “veio acrescentar muito mais” do que Ana Ferreira imaginava. Achávamos que tínhamos tudo, mas veio acrescentar tanto. É diferente. A maior parte dos casais que adota não pode ter filhos e sentem de forma diferente a pressão do tempo. No nosso caso, o processo demorou seis anos e meio, e não sentimos essa pressão. Percebemos que tínhamos de ter esperado aquele tempo, porque estávamos à espera Dela“.
Achávamos que tínhamos tudo, mas veio acrescentar tanto
Para as filhas mais velhas a diferença de idades é “muito grande, 13 anos para a mais velha e 10 anos para a do meio” e quando o casal começou a abordar o tema da adoção “de forma mais séria”, passaram por vários processos. “Houve uma altura em que a mais velha dizia que não, a mais nova dizia que sim e depois foi o contrário. Quando começamos a perceber que estava perto de nos ser apresentada uma criança era uma conversa diária em casa. De uma forma natural, elas começaram a interiorizar a ideia de seríamos cinco. Quando aconteceu elas ficaram completamente derretidas com a história. Correu lindamente“, recorda.
A filha adotiva era “muito pequenina” quando chegou a esta família. Inicialmente, Ana e o marido estiveram junto Dela para “conhecer e perceber as rotinas” e, dois dias depois, foi a vez das irmãs iniciarem o processo de conhecimento. “Foi a nossa primeira saída, fizemos um piquenique. Na quinta-feira veio para nossa casa, tínhamos receio porque era tudo diferente para ela. Mas as coisas rolaram de uma forma tão boa. Ela é incrível”.
Quando a viu pela primeira vez e a sentiu no colo, a penafidelense percebeu “o que é amor à primeira vista. Eu não entendia bem quando diziam isso. Quando as minhas filhas nasceram não senti amor à primeira vista, eu já as amava, porque já as transportava. Mas com Ela, e levava comigo um receio: ‘e se eu não sentir nada quando a vir?’ mas não, aí percebemos que existe mesmo o amor à primeira vista. Foi um momento maravilhoso”, garante.
Foi um momento “muito emocionante” e quando a viram pela primeira vez não conseguiram “parar de chorar, porque percebemos ali que tínhamos uma responsabilidade gigante pela frente, educação de um filho”.
Um sentimento de “felicidade” que se estendeu às filhas, que no momento de conhecer a irmã mais nova estavam “muito nervosas. Levavam com elas um pinheiro, porque quisemos deixar na casa, onde estava, uma árvore para que a plantassem para a verem crescer, já que não iam poder acompanhar o crescimento da menina. Temos consciência de que as pessoas que trabalharam com ela lhe deram o amor que podiam dar enquanto profissionais, mas ela precisava de uma família”.
Olhando para trás, Ana e o marido sentem que tomaram uma “boa decisão, sem dúvida. Enquanto família, já estruturada, foi a melhor decisão tomada“, diz a penafidelense, que não esquece a adaptação inicial a uma menina que “usava fraldas e bebia leite do biberon. Tivemos de recuar alguns anos, foi uma surpresa para nós, porque achávamos que seria uma criança mais crescida. Mas a minha licença de maternidade permitiu-me dedicar a ela. Foi uma alteração na lei importantíssima, que permite a mães e pais que adotam poderem ter os mesmos direitos que qualquer outro”, sublinha.
“Agora já tenho uma família”
A certa altura Ana Ferreira percebeu que, um dia, seria importante contar à filha a história da adoção e queria “uma ferramenta para um dia lhe poder mostrar o amor que gerou a chegada Dela à família“, porque, no futuro, “é natural que faça questões”.
Então, durante a licença de maternidade, decidiu passar a ideia para o papel. Entretanto, ouviu na rádio um concurso de literatura infantil e pensou ‘se tenho uma história, porque não levá-la ao concurso?’. Não ganhou, mas surgiu um outro concurso semelhante que também não ganhou. Mais tarde, foi contactada para publicar a obra que tinha escrito e “foi assim que começou a construir-se a ideia do livro“.
Existem muitas formas de se ser família
“Agora já tenho uma família” fala do primeiro encontro desta família e, sobretudo, “dos sentimentos e emoções” que os cinco sentiram. “Era importante mostrar às filhas o amor que gerou esta decisão e para a mais pequenina perceber que houve muita emoção na vinda dela. Espero que este livro sirva para a construção emocional e educacional de outras crianças e jovens. Todos têm de perceber que existem muitas formas de se ser família. O tema da adoção acaba por ser revelado de forma simples, mas é a simplicidade do amor. Se se deixarem inspirar, facilmente vão emocionar-se, porque é uma história de vida”.
O livro será apresentado no dia 13 de outubro, no Auditório do Museu Municipal de Penafiel, pelas 16h30. “Será um momento bonito. Escolhi Penafiel, porque é a minha cidade, e dediquei o livro às minhas filhas por me inspirarem e preencherem a minha vida e o meu coração, ao pai delas, que por sorte é o homem da minha vida, sem esquecer o nosso anjinho”, conclui Ana Ferreira.