Manuel Vieira, natural de São Lourenço do Douro, mas a residir em Magrelos (Bem Viver), ficou “sem chão” quando soube que a esposa, Rosa Silva, tinha cancro na mama, em julho do ano passado. Emigrado na Noruega, largou tudo, fez as malas e regressou para casa para cuidar da família.
Manuel Vieira não foi o primeiro a saber, mas “quase”, e receber esta notícia, por chamada, fez com que fosse “apanhado totalmente de surpresa. A gente parece que fica sem pé”, confessa. Voltar para Portugal não foi imediato, mas não precisou de muitos dias para tomar essa decisão. “Soube numa segunda-feira, os dias iam passando e só pensava que a minha família precisava de mim. O meu filho também não aceitou muito bem e, por isso, no fim de semana voltei para Portugal”.
Hoje, olha para trás, e sabe que tomou a decisão correta. “Foi muito importante para a minha esposa e para o meu filho ter-me por perto. Durante um ano, acompanhei a Rosa em tudo, tudo. Qualquer consulta ou tratamento que ela tivesse eu estava lá, até ao dia da operação”.
Depois da família se ter voltado a reunir, e na condição delicada em que a esposa se encontra, Manuel Vieira tomou a decisão de largar a vida de emigrante de vez. “Vou ficar por cá”, realça. Entretanto, Rosa Silva passou por vários processos de quimio e radioterapia e foi operada, encontrando-se numa fase mais estável e com consultas de rotina. “De três em três semanas faz o tratamento de imunoterapia”.
Foi a primeira vez que um cancro de mama abalou a família de Manuel e Rosa. Motivo que levou o marido a entrar em “choque. Acho que fui muito mais abaixo, em certos dias a minha mulher conseguiu ter mais força do que eu. Mesmo quando chegou a altura dos tratamentos, ficava o tempo todo a pensar se ia correr bem, se não, era muita coisa para assimilar…”.
Antes do Natal, Rosa Silva já tinha realizado oito sessões de quimioterapia e o marido notava o desgaste. “Foi abaixo, estava muito cansada, aliás teve de parar duas semanas os tratamentos para depois continuar. Foi um processo longo e doloroso”.
Para Manuel Vieira, ver mudanças físicas e emocionais na esposa foi “duro. É realmente difícil. Estamos casados há 22 anos, é uma vida, e torna-se muito difícil ver a pessoa que amamos nestas condições”.
Com base na sua experiência de vida, Manuel Vieira considera que o sentimento que predomina nos cuidadores é o de “impotência. No fundo, sentimos que não podemos fazer nada em concreto para ajudar”.
Viver esta realidade de perto, fez com que Manuel Vieira ganhasse outra sensibilidade perante o cancro, sobretudo, o da mama. “Sabemos que as coisas existem, mas quando é algo que não nos afeta diretamente não temos a mesma sensibilidade. Depois de passar horas no hospital e contactar com a realidade dá-nos outra perceção”. A partir daí, quando pôde, participa nas atividades do Outubro Rosa. De momento, Manuel e Rosa acreditam que o pior já passou.