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Projeto PIPCO quer "diminuir atraso no diagnóstico" do cancro oral

Redação

PIPCO significa Projeto de Intervenção Precoce no Cancro Oral e pretende dotar a comunidade de ferramentas sobre o cancro oral para "diminuir o atraso no diagnóstico destas doenças" que deve-se muitas vezes "à falta de informação". 

Nazaré Neves, coordenadora da Unidade de Saúde Pública do ACES, e as enfermeiras especialistas em Enfermagem Comunitária, Carla Costa, Fernanda Coelho e Juliana Meireles, explicam que cancro oral corresponde "a tumores malignos que afetam qualquer localização da cavidade oral, dos lábios à garganta (incluindo as amígdalas e a faringe) e tem maior frequência no bordo lateral da língua, pavimento da boca e palato mole", de acordo com a Classificação Internacional de Doenças.

Neste sentido, o projeto PIPCO foi criado para "melhorar os recursos para o diagnóstico diferencial das lesões malignas ou potencialmente malignas da cavidade oral", de forma "a diminuir a incidência da doença através do tratamento atempado das lesões e da intervenção precoce no cancro oral", contrivbuindo para "melhorar o prognóstico e o resultado estético e funcional, bem como a qualidade de vida do utente".

Projeto VIA VERDE PIPCO

O Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Vale do Sousa Norte criou o projeto VIA VERDE PIPCO para "melhorar a operacionalização do projeto PIPCO, na população da área geográfica de influência do ACES, tornando-o mais efetivo".

Conheça os objetivos deste projeto:

  • Aumentar o rastreio dos utentes com risco elevado de desenvolver cancro oral;
  • Reduzir o intervalo de tempo entre a solicitação do utente para consulta, por queixas de lesão/alteração da cavidade oral, e a realização efetiva da consulta pelo Médico de Família;
  • Reduzir o intervalo de tempo entre a referenciação do utente pelo Médico Dentista e a consulta pelo Médico de Família, em situações de lesão/alteração da cavidade oral, para possível emissão do Cheque Diagnóstico;
  • Aumentar a utilização dos Cheques Diagnósticos emitidos pelo Médico de Família.

Número de óbitos por cancro oral

O cancro oral é o sexto tumor maligno mais comum em todo o mundo (OMD, s.d.). Anualmente, em Portugal, cerca de mil pessoas são diagnosticadas com esta doença e quase 50% destas acabam por morrer num período de cinco anos. "O diagnóstico precoce e o tratamento atempado, são a chave para uma intervenção adequada, já que a taxa de sobrevivência está diretamente relacionada com o estadio da doença (PNPSO, 2019). É uma doença prevenível quando associada a fatores de risco e estilos de vida modificáveis, como por exemplo o consumo de tabaco e álcool (DGS; OMD, 2014)".

Dados do ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte

No ACES, verifica-se que o número de óbitos por tumor maligno do lábio, cavidade bucal e faringe, tem vindo a aumentar, apresentando maior incidência no sexo masculino.

Dentro dos dez tumores malignos com maior número de óbitos, este tumor posicionou-se em sétimo lugar, no ano de 2020. No ano de 2021 este tumor foi responsável por 19 óbitos (4.ª posição entre todos os óbitos por tumores malignos), dos quais 17 ocorreram no sexo masculino (3.ª posição) e dois no sexo feminino (12.ª posição).

Gráfico 1 – Número de óbitos por Tumor Maligno do lábio, cavidade bucal e faringe, em ambos os sexos, no ACeS, em 2021

Fonte INE, I.P.

Fatores de risco

O cancro oral surge mais frequentemente em homens, após a 4.ª década, embora se venha documentando em todo o mundo um aumento do número deste cancro em adultos mais jovens e em mulheres (OMD/DGS, s.d.).

A utilização de tabaco é considerada "a principal causa do cancro oral, particularmente se associada ao consumo de álcool de forma regular e excessiva. O terceiro fator, por ordem de importância, é a infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV), sobretudo os genótipos HPV 16 e 18. A exposição prolongada ao sol é um fator de risco importante para o cancro do lábio".

Prevenção

  • Promoção estilos de vida saudáveis;
  • Redução/eliminação do consumo de qualquer forma de tabaco e do consumo diário e excessivo de álcool;
  • Vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV);
  • Uso de creme labial com proteção contra a radiação solar, principalmente em trabalhadores com profissões ao ar livre;
  • Realização do rastreio do cancro oral aos homens fumadores, com idade igual ou superior a 40 anos e com hábitos alcoólicos, pelo Médico de Família;
  • Realização do autoexame da cavidade oral com regularidade para identificar lesões que podem passar despercebidas, já que na sua maioria são assintomáticas.

Como se realiza o autoexame da boca?

Este autoexame é "um método simples, rápido e eficaz no diagnóstico precoce de lesões malignas ou potencialmente malignas. Caso existam sinais e sintomas suspeitos, o utente deve solicitar consulta urgente pelo Médico de Família para observação e caso seja necessário proceder à emissão do Cheque de Diagnóstico. Este cheque permite uma observação detalhada pelo Médico Dentista/Estomatologista com formação especializada, que avaliará a necessidade de realizar biópsia". 

Apesar da "fácil acessibilidade da cavidade oral ao exame direto (só comparável com a pele), estes tumores malignos não são geralmente detetados até uma fase tardia do seu desenvolvimento, facto que determina índices de mortalidade elevados (OMD, s.d.)".

Desta forma, o projeto PIPCO está a ser dinamizado no ACES, junto dos Médicos de Família e dos Médicos Dentistas aderentes ao PNPSO, mas continua a ser "fundamental intervir ao nível da comunidade, melhorando o seu conhecimento sobre o cancro oral e a sua prevenção".

Sinais de alerta

  • Dor, lesões ou alterações da cor ou da superfície da mucosa oral ou aumentos de volume não habituais de estruturas da cavidade oral ou vias aéreas superiores, alteração da sensibilidade oral ou perioral;
  • Ferida da boca de difícil cicatrização;
  • Palpação de nódulo no pescoço.

Grupo de risco

  • Homens fumadores, com idade igual ou superior a 40 anos e com hábitos alcoólicos;
  • Utentes com condutas sexuais de risco;
  • Profissões com elevada exposição ao sol;
  • Doentes imunodeprimidos.

O PIPCO é um dos projetos que integra o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral e tem por base a norma da DGS no 002/2014.

Pessoas responsáveis pelo projeto PIPCO

Carla Soledade da Silva Costa, enfermeira especialista em Enfermagem Comunitária

Fernanda Ascensão Lopes Coelho, enfermeira especialista em Enfermagem Comunitária

Juliana Raquel Bessa Meireles, enfermeira especialista em Enfermagem Comunitária

Maria Nazaré Gonçalves Neves, coordenadora da Unidade de Saúde Pública do ACES, médica de Saúde Pública