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Tinha uns 12 anos quando começou a trabalhar em madeira. Não quis continuar os estudos, mas “tinha de trabalhar. Na quarta classe fiz o exame de admissão, que na altura era preciso fazer para ir para o colégio, mas desisti de estudar e, em 1972, fui fazer uma formação de carpintaria de moldes para fundição”, recorda Osvaldo Rocha, natural do Escamarão, freguesia de Souselo, concelho de Cinfães.

Aos 65 anos, e poucos antes da reforma, “tinha de arranjar algum entretenimento” e resolveu dar asas à imaginação e dar início ao percurso no artesanato. “Tinha um neto que estava para nascer e resolvi fazer um prato e uma caneca em madeira para ele. Lembrei-me dos tempos antigos, em que as pessoas passavam fome e não havia dinheiro para comprar as coisas. Depois disso, as pessoas incentivaram-me a fazer umas feiras”, conta.

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A madeira dá para fazer muita coisa

A primeira feira do cinfanense, de 72 anos, foi na Gralheira, mas foi “fraca. Era a primeira vez e não havia multibanco, as pessoas iam para comer, não iam para comprar artesanato. Venderam-se algumas pecinhas”.

Começou a fazer umas feiras, a desenvolver e, desde então, que vive desta arte. “A madeira dá para fazer muita coisa”, garante o Sr. Rocha que coloca em prática tudo o que aprendeu, ao longo da vida, “num espaço debaixo de casa. Antigamente fazia mobiliário e carpintaria e as máquinas ainda as tenho, mas tive de comprar outro torno para fazer peças mais pequenas, o que tinha era muito antigo e não dava”.

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A esposa “não se chateia com o lixo” e até ajuda nas vendas das peças. “Ela é que vende, tem mais jeito. Eu meto as mãos na ‘massa’ e ela vende, é um trabalho de equipa“, diz orgulhoso.

Hoje, “a vida está difícil e pouco se vende”, mas o cinfanense continua a dar uma segunda ‘oportunidade’ à madeira, seja “em travessas, pratos, copos, copos de balão – que fiz quando andava no curso – peças decorativas. Tenho um bocadinho de tudo, muita variedade”.

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O artesão faz, também, peças personalizadas, principalmente “para gente de Cinfães. Às vezes trazem a madeira e eu executo as peças. Por encomenda e com madeira própria são, na maioria, pessoas daqui. Mas tenho, também, encomendas de pessoas de fora. Nas feiras já vendi para várias partes do mundo. A primeira peça que fiz foi para a Índia, foi um prato. Fui entregar ao Porto. Também já vendi peças para o Brasil, França, quase para toda a Europa e fora da Europa. Às vezes não se vende mais, porque as peças são um bocado grandes e para transporte de avião é mais difícil“.

Quanto ao tempo que demora a fazê-las, o cinfanense explica que “pode demorar um dia, ou mais”, tudo depende do tamanho da peça. “Tenho um jarrão grande e ando há uns quatro ou cinco dias à volta dele, porque tem de ser feito com calma. São peças muito grandes que partem facilmente. Perco um pouco de tempo”.

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Já o processo, “tem muito que se lhe diga”, mas as ideias saem quase todas “da cabeça. É como um computador. Pego num pedaço de madeira, com as dimensões que o cliente pretende e desgasto no torno. Às vezes pensamos fazer uma peça e sai outra, a nossa imaginação começa a trabalhar”, explica.

A madeira “há uma melhor do que outra”, mas a preferência vai para o cedro e outras madeiras. “Em pinho não gosto porque tem tendência a abrir-se um bocado e com o castanho também não fiz nada ainda. Vai-se aproveitando a madeira que há, mas a maior parte é comprada. Compro árvores grandes, para me dar o que eu quero, porque as peças que mais vendo são as peças grandes”.

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“O que eu tenho é tudo feito por mim”

Para o Sr. Osvaldo é “um orgulho” ver as peças a chegar aos ‘quatro cantos do mundo’ e fica “admirado” quando procuram o trabalho que faz. “Uma altura, uma moça veio buscar umas peças com os pais e foi para o Brasil. Eu digo ‘lá não falta disto’, mas dizem que não são iguais, é muito diferente. Cada artesão tem o seu cunho pessoal e faz o que lhe vem à cabeça. É essa a magia do artesanato, cada peça é única”, garante.

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A conversa não termina sem falarmos do preço, ou valor, do artesanato, uma arte que “leva o seu tempo” e que resulta “em peças únicas e especiais. O que eu tenho é tudo feito por mim, não há nenhuma peça que não seja feita por mim e não se pode comparar com peças industriais. Dá-me gozo ver que não há artesanato igual ao meu. Há uma peça ou outra parecida, mas igual ainda não encontrei”.

O Sr. Osvaldo privilegia a venda presencial, porque gosta do “contacto com as pessoas” e faz questão que os clientes vejam as peças. “Às vezes ligam para saber preços e eu digo ‘primeiro venha ver’, porque às vezes contam uma coisa e sai outra. Não gosto de vender ‘gato por lebre’. Até porque, por vezes, acham caro e depois quando veem a peça acabam por se render e até dizem que é barata“, termina o artesão.