A trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz do cemitério em Santa Cruz do Douro, Baião, para o Panteão Nacional vai acontecer a 8 de janeiro. Apesar de contestada pelos familiares do escritor, a decisão da transladação foi considerada legítima pelo Supremo Tribunal Administrativo (STA), que decidiu não decretar a providência cautelar pedida por seis bisnetos do escritor.
Na perspectiva de António Fonseca, antigo presidente da União de Freguesias de Santa Cruz do Douro e São Tomé de Covelas, que lidera um grupo de cidadãos que é contra a transladação de Eça de Queiroz, a mesma é uma "traição à memória de D. Maria da Graça", neta do escritor.
Nesse sentido, o grupo vai voltar a manifestar-se (já o havia feito a 23 de setembro de 2023) contra a transladação este domingo, pelas 16h00, junto à entrada para Tormes, em Santa Cruz do Douro, pertencente ao concelho de Baião.
A manifestação de indignação, assim a define, tem como base os propósitos anteriores do movimento constituído, maioritariamente, por cidadãos de Santa Cruz do Douro, "que não se revê na atitude antidemocrática do ato do, então deputado, José Luís Carneiro. Na altura, em colaboração com o administrador da Fundação Eça de Queiroz, o tetraneto, resolveu levar uma proposta à Assembleia da República para se conceder honras e se procedesse à transladação do restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional. Não consultou ninguém e foi contra a família direta", lamenta António Fonseca, que na data era membro da Assembleia Municipal.

Antes de ir para Santa Cruz do Douro, Eça de Queiroz esteve sepultado em Lisboa durante 90 anos e havia o o risco de ir para uma campa comum, uma vez que o jazigo onde estava sepultado iria ser vendido e "não oferecia as melhores condições". A neta, Maria da Graça, resolveu "meter mãos à obra" e conseguiu, "com muita luta", levá-lo para Baião, tendo doado a residência e a quinta onde residia, para se constituir a Fundação Eça de Queiroz.
Por isso, a população considera a transladação, que irá acontecer na próxima semana, uma "traição à memória de Maria de Graça. Se fosse viva, jamais alguém ousaria levantar um dedo para retirar Eça de Queiroz de Santa Cruz. Há um sentimento de perda muito grande, porque é, também, uma traição aos baionenses. Coloca em causa a nossa história, assim como a vertente cultural e turística. Não tenho dúvidas de que vamos sofrer, porque falta o essencial: a presença dos restos mortais, no cemitério de Santa Cruz. Vem imensa gente a visitar o túmulo e não encontramos nenhuma razão plausível para ele ir para o Panteão Nacional", afirma António Fonseca.
Para o atual membro da Assembleia Municipal, o país "é contra" a transladação e não percebe como "com tantos problemas que existem atualmente, como é que se foram preocupar com uma questão que já podia estar resolvida. Se o país não entende, Baião muito menos. Em Lisboa será mais um", garante.
António Fonseca é "favorável" às honras, mas manifesta-se contra a "dualidade de comportamentos. Ao Aristides de Sousa Mendes foram concedidas honras de Panteão, mas o povo opôs-se e os restos mortais foram depositados na terra Natal. Nós não pretendemos tratamento diferente, mas que respeitem o património de Eça de Queiróz e que os restos mortais permaneçam junto dos seus".
O grupo de cidadãos não "desiste de lutar de uma causa que é abraçada pelos baionenses. Só perde quem deixa de lutar. É difícil encontrar um baionense que concorde e acho, sinceramente, que vale a pena continuar esta luta".
Em declarações ao Jornal A VERDADE, António Fonseca revela que foi interposta uma nova providência cautelar, baseada numa proposta apresentada na Assembleia de Freguesia, que obteve o apoio da maioria. Até ao dia 5 de janeiro - data em que Eça de Queiróz saíra de Tormes, o grupo vai "tentar que a questão volte a ser resolvida da mesma forma que em setembro do ano passado, ou seja, que o tribunal decrete a cessação da ação. De qualquer das formas, a manifestação vai-se realizar", concluiu.
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