A vontade de estudar música surgiu "naturalmente" para Rodrigo Cardoso, compositor musical e professor no Conservatório de Música da Física de Torres Vedras e na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo.
O jovem natural de Cinfães descobriu o gosto pela música "como muitos jovens do concelho de Cinfães, ou seja, quando comecei a estudar música na banda filarmónica". As experiências na banda levaram-no até à Academia de Música de Castelo de Paiva, onde o jovem de 27 anos começou "pouco a pouco, a levar a música como uma atividade mais séria".
Ao recordar os tempos como estudante da academia, o jovem de Cinfães revela que o gosto e o interesse pela música surgiram "de forma muito orgânica. Alías, nunca pensei em seguir música".

Contudo, Rodrigo Cardoso acabou por descobrir "uma diversão e um estímulo muito grande" pelo ato de compor, admite. O compositor recorda-se de "ter instalado no computador o CS 1.6 e um programa de escrever música e para mim usar esse programa era só uma maneira de passar os tempos livres. E cheguei a uma altura em que já nem jogava nem utilizava o computador para mais nada sem ser o software de notação musical".
O ato de composição é "para muitos artistas uma necessidade, mas para mim surgiu como um ato de diversão", adianta o músico.
Da diversão para uma carreira mais séria, Rodrigo Cardoso agarrou a paixão pela composição e decidiu seguir um percurso académico ligado à música que o levou até Lisboa e Manchester, em Inglaterra.
Um dos momentos que mais marcou o jovem músico e o inspirou a seguir um futuro ligado à composição musical aconteceu "quando a certa altura compus uma peça para ensemble de clarinetes e o meu professor teve a atitude de dizer vamos tocar isto no concerto. Aquilo nem era nada interessante, mas aquele ato de ouvir alguma coisa que veio da minha cabeça marcou-me muito".

Assim, inspirado pelo professor e pela paixão o compositor agarrou a carreira na música e conseguiu alcançar vários prémios e conquistas que lhe deram "um pouco de confiança no meu trabalho, mas tanto tenho como não tenho é uma coisa que varia".
E depois de todos os seus anos de experiência, o compositor reforça que o mais importante nesta profissão é "escrever música que nós próprios queremos ouvir". E o segredo para descobrir o que queremos ouvir é "ouvir música de todos os tipos, de conhecer música atual até às músicas dos compositores clássicos".
O ato de ouvir música é bastante importante para um compositor conseguir escrever e estudar e Rodrigo Cardoso diz em tom de brincadeira: "como é que vou saber o que é um bom prato de comida quando só como um pão seco com manteiga ? É o mesmo com a música precisamos de ouvir um pouco de tudo".
A partir de qualquer coisa, todos os estímulos podem levar à criação
No entanto, a inspiração para compor não vem só da música mas também "da cultura, da arte, de viagens, de livros. É muito importante ler e absorver cultura, no meu caso o cinema de Alfred Hitchcock, é muito importante para eu escrever. Acho que não escrevia a música que escrevo sem ver o cinema do Hitchcock e portanto essa parte de ver cinema, de ir a exposições e de encontrar influências de fora, do é muito importante", explica o músico.
As influências e inspiração são essenciais para o processo criativo que pode surgir "a partir de qualquer coisa, todos os estímulos podem levar à criação", conta o compositor. E sobre o processo de criação Rodrigo Cardoso recorre "a Fernando Pessoa, que tem uma frase muito adequada: Hoje aconteceu-me um poema". E o compositor tende "a acreditar cada vez mais nessa frase. Quando tenho uma encomenda para a orquestra o processo de trabalho para mim começa naquele momento, porque já começo a pensar em coisas", completa.
Por norma o pico de criatividade do jovem compositor coincide "com as alturas que a conta do gás fica mais pesada, pois é no banho que começo a ter ideias, isso e a caminhar. Às vezes passo uma tarde a compor e tudo o que fiz foi caminhar na Serra de Monsanto, porque as ideias surgem enquanto caminho".

E em todas as composições que cria o fator principal que tenta atingir é "a procura por frescura, uma coisa que todos os compositores do mundo musical clássico tentam sempre fazer, trazer um bocadinho de frescura e algo novo em cada peça que escrevemos".
A vida e carreira de Rodrigo Cardoso é dedicada à composição e às aulas de música e o jovem de Cinfães assegura que "gosto muito do que faço e sinto-me bastante concretizado". Apesar de que em Portugal, a profissão de compositor e de músico passa um pouco despercebida: "hoje em dia toda a gente conhece grandes nomes da arquitetura em Portugal, do cinema, da pintura, mas pouca gente conhece compositores".
A razão por detrás deste esquecimento enfrentado pelos compositores é atribuída pelo compositor de Cinfães à "diferença da música que nós escrevemos para a que se ouve na rádio. A nossa música não é uma música de absorção fácil e um dos problemas hoje em dia é a necessidade do consumismo imediato".
Hoje em dia é mais fácil ser compositor e ter a música tocada
A procura por composições clássicas é bastante reduzida e por isso "a nossa maior dificuldade é viver só da composição. Dou aulas, gosto de dar aulas, mas se quisesse só viver da composição não conseguia", clarifica.
O panorama futuro apresenta os seus desafios "mas não quero estar aqui numa onde de pessimismo e tenho de dizer que as coisas têm vindo a mudar, sobretudo por causa da nova geração de músicos que tem procurado estrear e tocar música nova". Por um lado mais positivo "o cenário de hoje é bastante diferente de há dez anos, para não falar há 20 ou há 30. Portanto hoje em dia é mais fácil ser compositor e ter a música tocada", reflete o compositor.
Às próximas gerações o conselho que deixa é "ouvir muita música. E o estudo da composição não implica que alguém seja compositor, estudar composição é uma coisa que faz sempre bem, independentemente do tipo de arte que fazemos".
Rodrigo Cardoso terminou a entrevista ao Jornal A VERDADE por deixar a seguinte mensagem: "nós somos sempre um reflexo daquilo que vivemos e consequentemente daquilo que ouvimos quando escrevemos música".

Rodrigo Cardoso, iniciou os seus estudos musicais em 2007 na Academia de Música de Castelo de Paiva, onde aprendeu clarinete com Victor Pereira e composição com Ruben Andrade. Licenciou-se em Composição Musical pela Escola Superior de Música de Lisboa em 2018, sob a orientação de João Madureira, Luís Tinoco e António Pinho Vargas. Em 2021, concluiu dois mestrados: em Ensino da Música pela Universidade de Évora, com Christopher Bochmann, e em Composição pela Royal Northern College of Music, com David Horne e Adam Gorb.
Distinguido em vários concursos, obteve o 1.º prémio no Concurso de Composição Séc. XXI (2015), o Prémio de Ouro no Concurso Internacional para Jovens Músicos Oskar Rieding Project na Eslovénia (2018), o 2.º prémio no Prémio de Composição SPA/Antena 2 (2019) e o 2.º prémio no Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa (2022). Em 2018, recebeu uma encomenda do Prémio Jovens Músicos e da Antena 2 – RTP para compor a peça obrigatória da categoria de clarinete.
A sua música tem sido apresentada em diversos países, incluindo Bélgica, Eslovénia, Suíça, Brasil, França, EUA e Inglaterra. Atualmente, Rodrigo leciona no Conservatório de Música da Física de Torres Vedras e na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo.