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Sociedade
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Para Joana Neto Gomes é “gratificante” ajudar na recuperação de um doente com um AVC

Esta terça-feira, 29 de outubro, assinala-se o Dia Mundial do AVC (Acidente Vascular Cerebral) e o Jornal A VERDADE desafiou uma profissional de saúde a falar e a desmistificar uma doença que é, atualmente, a “principal causa de morte em Portugal”.

De acordo com Joana Neto Gomes, Interna de Formação Específica de Medicina Interna na Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, a prevalência da doença deve-se, sobretudo, a “falta do controlo dos fatores de risco vasculares (hipertensão, diabetes e dislipidemia)” e pode ser evitada com uma “boa alimentação, colesterol baixo, hipertensão e diabetes controladas. Isto sim é a melhor forma de prevenir um AVC“.

“descontrolo” destes fatores são a principal causa do AVC, uma vez que existe uma “alteração ao
nível dos vasos e artérias que ‘banham’ o cérebro, podendo formar-se trombos (coágulos sanguíneos)
“, explica a médica interna.

Estas são as principais causas do AVC, que prevalece em pessoas na casa dos 70 anos, mas “acontece, cada vez mais, nas faixas etárias mais novas, dado o nosso estilo de vida que, muitas vezes, não é tão saudável quanto devia ser”, alerta Joana Neto Gomes.

Na prática clínica, a médica interna de 29 anos trabalhou cerca de um ano e meio mais na unidade de AVC e percebeu que “as admissões na unidade são de pessoas cada vez mais novas, quer em AVC’s isquémicos, quer em AVC’s hemorrágicos. Cada vez mais há pessoas de 50 anos e até 40″.

Joana Neto Gomes recorda um caso, de 2023, de um homem de 37 anos, com um AVC hemorrágico catastrófico, e como a doença pode condicionar o futuro da pessoa. “Foi um AVC profundo e afetava, também, a parte da fala. Ele tinha uma afasia motora e não conseguia entender tudo o que dizíamos, mas conseguia expressar-se. No início do tratamento nós perguntávamos-lhe uma coisa e ele respondia a outra, porque não tinha mesmo vocabulário nenhum. Claro que depois com a reabilitação acaba por melhorar“.

Após um AVC, a profissional de saúde não tem dúvidas de que é “muito importante” a “identificação precoce” da doença e a “reabilitação logo na fase aguda. Quanto mais cedo for identificado e quanto mais cedo forem iniciados os tratamentos, melhor o prognóstico do doente. Quando os doentes são admitidos na unidade, estão bastante frágeis e, ao longo do tempo, com a equipa multidisciplinar da unidade -médicos e enfermeiros especializados na reabilitação – e a identificação dos sintomas, é possível otimizar o tratamento dos doentes e, em pouco tempo, vemos que melhoram imenso. Isto é o melhor que podemos fazer por eles”.

No final, fica o sentimento de dever cumprido com doentes que “ficam bastante agradecidosNós, profissionais, não fazemos nada mais do que nos é devido, mas a verdade é que é gratificante. Nem sempre acontece, há eventos trágicos, mas nós não nos podemos focar nesses, temos de nos focar exatamente naqueles que conseguimos melhorar alguma coisa”, garante Joana Neto Gomes.

Está em casa e a pessoa ao lado está a ter um AVC, o que é deve fazer? “Ligar para o 112 e seguir as recomendações. Uma equipa pré-hospitalar irá ter com a pessoa, identificar os sintomas e ativar a Via Verde AVC para que o hospital seja avisado. Tempo é cérebro, quanto mais rápido for o diagnóstico, mais rápido é o tratamento, quando assim é necessário”.

“Valorizar sempre aqueles doentes que conseguem mudar o rumo”

A ‘ligação’ ao mundo do AVC surge no primeiro ano de internato, quando a jovem natural de Freamunde esteve quatro meses na unidade em questão. Um ano e meio e várias experiências depois, Joana Neto Gomes recorda “histórias mais felizes do que outras”, mas no final de tudo acaba por “valorizar sempre aqueles doentes que conseguem mudar o rumo do que seria se não tivessem tido a intervenção médica”.

A vontade de ser médica não vem de sempre. A freamundense é licenciada em Bioquímica e tem uma pós-graduação em Técnicas de Caracterização e Análise Química. Seguiu-se a oportunidade de “fazer um exame” que a levou até à medicina.

Não se arrepende da escolha, diz a jovem que dá formação sobre a Via Verde ABC pré-hospitalar e divide a rotina do hospital com a vida no quartel dos Bombeiros Voluntários de Freamunde. “Lá fiz um trabalho – apresentado no Congresso Nacional do AVC de Doenças Cerebrovasculares – e demonstramos que se forem capacitadas as equipas pré-hospitalares para a identificação por causa dos sinais de AVC, conseguimos otimizar os tempos de chegada ao hospital e de início do tratamento dos doentes, melhorando assim o prognóstico a curto prazo“.

A gestão entre estes dois ‘mundos’ é “complicada” para quem “não tem um horário muito fácil, as coisas mudam de semana a semana“, mas Joana Neto Gomes vai “tentando gerir da melhor forma e tentar não falhar a ninguém“.